O ato de reconciliação do cristão

O ATO DE RECONCILIAÇÃO DO CRISTÃO

 

 

Texto básico: Mateus 5.21-26

Texto devocional: Filipenses 2.5-11

Versículo-chave
“Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5.22).

Alvo da lição
Levar o aluno a refletir sobre o alcance que o sexto mandamento tem na perspectiva de Jesus e os seus desafios para a nossa reconciliação.

Leia a Bíblia diariamente
Segunda: Fp 2.5-11
Terça: Ef 2.11-22
Quarta: 1Jo 3.11-24
Quinta: Rm 12.9-19
Sexta: Mt 18.15-22
Sábado: Ef 4.26-27
Domingo: Mt 5.21-26

 

INTRODUÇÃO

Na última parte de Mateus 5, Jesus apresenta cinco exemplos de como as tradições e interpretações superficiais dos fariseus haviam corrompido os ensinos da lei e dos profetas.

Em cada caso, Jesus corrige a artimanha, enquanto realça os princípios espirituais. Nas duas primeiras ilustrações, Jesus realça Seu ensino sobre o sexto e sétimo dos dez mandamentos, que proíbem o homicídio e o adultério. Jesus eleva a conduta cristã como um ideal muito acima do da conduta que se pregava nas sinagogas. A nova lei é mais pura e mais exigente que a antiga.

No primeiro exemplo de novos princípios do reino, Jesus demonstra à Sua altíssima apreciação pela vida e pela reconciliação entre os irmãos. Vejamos como Jesus torna pequena a divisão entre assassinato e ira, e convoca a nova comunidade a uma posição mais abrangente sobre essas questões.

I – O AUTOCONTROLE DEVE VENCER A IRA PROIBIDA (Mt 5.21-22)

A lei de Moisés proibia matar, isto é, cometer homicídio (Êx 20.13, Dt 5.17), no entanto ordenava a morte como forma de pena capital e como forma de exterminar as corruptas tribos pagãs que estavam na terra prometida (Êx 33.2). Era uma ordem circunscrita à nação de Israel, que com certeza foi abolida pelo evangelho, espelhando a vontade de Deus desde o princípio (Gn 9.6). Não nos esqueçamos, no entanto, que Deus deu ao Estado o direito e a  responsabilidade de punir os malfeitores (Rm 13.1).

Os escribas e fariseus achavam que não cometendo homicídio estavam cumprindo todo o sexto mandamento. Jesus discordou, pois para Ele a proibição incluía pensamentos e palavras, a cólera, os insultos, além, é claro, do próprio homicídio.

“Eu porém vos digo” (v.22) mostra a radicalização que Jesus fez desse mandamento. Os discípulos de Jesus não somente não devem praticar o homicídio, como nem mesmo devem dar lugar à cólera por meio da qual poderiam destruir o irmão. A ira precede o homicídio e é destruidora das relações.

“Nem toda ira é maligna… e até mesmo os seres humanos pecadores podem, às vezes, sentir a ira justa. Contudo, sendo pecadores, devemos assegurar que até mesmo esta ira justa seja tardia em aparecer e rápida em desaparecer – Ef 4.22-27” (John Stott).

Vejamos as consequências da ira não controlada no v.22.

1. Quem se irar contra seu irmão será réu de juízo.
A cólera, que pode induzir ao assassinato, é uma ação tão criminosa quanto o assassinato.

2. Quem disser ao seu irmão: “tolo”, será réu do conselho ou sinédrio.
O termo usado aqui é “raca”, no grego, que significa imbecil, louco, insensato. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje diz: “Você não vale nada”. É um desprezo àquele que Jesus chama de nosso irmão duas vezes neste versículo. “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino” (1Jo 3.15).

“Nossos pensamentos, olhares e palavras indicam que, como algumas vezes nos atrevemos a dizer, ‘gostaríamos que morresse’. Um desejo assim torna a pessoa culpada às mesmas penalidades às quais o homicídio se expõe, não em um tribunal humano, mas diante do tribunal de Deus” (John Stott).

3. Quem disser ao seu irmão “louco”, será réu de fogo do inferno. A palavra
louco tem o sentido de renegado ou condenado. “O homem que diz a seu irmão que este está condenado ao inferno, está ele mesmo em perigo de ir para o inferno” (Tasker).

Assim Jesus ampliou o sexto mandamento. Mostrou que a intenção que provoca o ato físico é passível da mesma condenação que o próprio ato. Em todos os seus graus de intensidade, ficam vedadas expressões e mesmo intenções que não contribuem para o bem-estar dos irmãos.

II – A RECONCILIAÇÃO DEVE PRECEDER A ADORAÇÃO E O JUÍZO (Mt 5.23,26)

O oposto da ira e do homicídio é a reconciliação com o irmão, a restauração de relações sadias na família de Deus. Prestar o verdadeiro culto a Deus é uma tarefa do reconciliado.

“Quem, com o coração não reconciliado, vem ouvir a palavra de Deus e receber o sacramento, recebe-os para juízo. Perante Deus o tal é homicida. Por isso ‘vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e, então, voltando faze a tua oferta’. (Discipulado; D. Bonhoeffer; p.74).

Vejamos dois conselhos quanto a essa questão por John Driver:

1. Tão logo um irmão se dê conta de sua ofensa, que trate de reconciliar-se com seu irmão, não importando que esteja no momento mais alto do culto, porque o culto autêntico somente é possível numa comunidade de irmãos reconciliados (v.23-24).

O texto em palavras mais modernas poderia ser escrito assim: “Se você estiver na igreja, no meio de um culto de adoração e, de repente, se lembrar de que seu irmão tem um ressentimento contra você, saia da igreja imediatamente e vá fazer as pazes com ele. Não espere que o culto termine. Procure seu irmão e peça-lhe perdão. Primeiro vá, depois venha. Primeiro vá reconciliar-se com seu irmão, depois venha e ofereça adoração a Deus.”

2. As ofensas devem ser esclarecidas, confessadas e perdoadas de modo concreto e sem demora. Tomar logo a iniciativa para uma reconciliação pode evitar que a situação criada pela ofensa se degenere ainda mais e o conflito seja mais grave (Ef 4.26-27).

A rápida solução de desavenças evita que estas floresçam e deem sua colheita amarga. De outra forma, permitir que passem de um dia para outro é dar oportunidade ao diabo e ao pecado. Se queremos evitar o homicídio perante Deus, devemos tomar todas as possíveis medidas positivas para viver em paz e em amor com todos os homens.

Num sentido mais avançado, devemos, também, entrar em acordo com Deus. Ele é o Juiz e o justificador. Ele impõe a nós as condições, e Ele dirige o tribunal dos Céus e da Terra.

“Entre em acordo com Deus. Talvez você não esteja mais vivendo neste mundo, amanhã de manhã, e então você estará indo para a eternidade. Entre em acordo com Deus, sem demora, enquanto você está com Ele a caminho” (M. Lloyd-Jones).

CONCLUSÃO

Jesus não anulou o sexto mandamento “não cometerás homicídio”, pelo contrário, ampliou-o, elevando-o até os nossos sentimentos coléricos e palavras de maldição. O crente tem os recursos espirituais para amar (Rm 12.10), abençoar (Rm 12.14), exortar (Hb 13.13), estimular as boas obras, consolar (1Ts 5.11), perdoar (Ef 4.32) e viver em paz com todos os homens (Rm 12.18).

Esse é o caminho da autonegação, o caminho da cruz. Ter recursos para matar, maldizer e irar-se, mas abrir mão em obediência Àquele que abriu mão da própria vida em nosso favor. Que em nós habite o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5-8).

Autor da lição: Pr. Luíz César N. Araújo
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica, na revista “Sermão do Monte, Um Ensino Desafiador”, da série Adultos. Usado com permissão.

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3 Comentários para “O ato de reconciliação do cristão”

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