Morte
Estudo 8, Série Livros – O Discípulo Radical, John Stott
Texto básico: Lucas 9.22-26
Textos de apoio
– Salmo 44. 20-22
– Provérbios 14. 12
– Romanos 8. 12-14
– 2 Coríntios 4. 10-11
– 2 Timóteo 1. 8-10
– Apocalipse 2. 10
Introdução
Perder para ganhar. Essa frase, que parece ser um senso comum dos filmes hollywoodianos, na verdade tem uma origem bem mais nobre e antiga. Ela, assim como os “finais felizes” de Hollywood, devem a sua existência à visão de mundo do cristianismo. O triunfo do bem, apesar da aparente e momentânea vitória do mal; o triunfo da vida, apesar da aparente e momentânea vitória da morte, são verdades plasmadas e nutridas pela esperança cristã, ancorada por sua vez nas Escrituras Sagradas.
Isso não quer dizer, obviamente, que na prática do dia a dia todos vivam na expectativa e na certeza paciente de um “happy end” derradeiro. Não. Nossa cultura individualista, pragmática e hedonista não aceita muito bem essa proposta “ascética” de perder momentaneamente para ganhar efetivamente, de morrer momentaneamente pra viver eternamente. É difícil. É até inaceitável.
Mas é exatamente com esta proposta que John Stott resolveu encerrar seu legado, materializado em O Discípulo Radical. Para ele, a “última característica do discípulo radical é a morte”. E explica: “O cristianismo oferece vida – vida eterna, vida em abundância. Porém, ele deixa claro que a estrada para a vida é a morte” (p. 95).
Entramos no caminho do discipulado conscientes de que esta era a “estrada” proposta? Quando chamamos outros a este caminho, apresentamos o “mapa” original? O quanto estamos, nós e nossas comunidades, comprometidos com uma vida cotidiana que expresse essa visão de que “morrer” é a única opção para quem quer “viver”?
Para refletir e entender o que a Bíblia fala
- O capítulo 9 de Lucas marca uma nova fase no ministério de Jesus, em que ele investirá a maior parte de seu tempo treinando e ensinando aos doze apóstolos (Lucas 6. 12-16). Há poucas horas (ou dias) eles tinham acabado de receber e executar sua primeira missão em nome de Cristo. E agora, no v. 22, Jesus faz o primeiro anúncio de sua paixão e morte. Como você acha que os discípulos devem ter recebido essa revelação de Jesus? Por que foi importante Jesus fazer esse anúncio antes do desafio que lançaria a todos nos versos seguintes?
- Quais são as três condições que Jesus impõe a quem deseja ser seu verdadeiro seguidor (v. 23)? Se você pudesse “traduzir” essas condições em termos atuais, que palavras você usaria?
- Na época de Cristo, ver um homem carregando uma cruz nos levaria imediatamente a reconhecê-lo “como um criminoso a caminho da execução, pois os romanos obrigavam os sentenciados a carregar a cruz até o local da crucificação” (p. 98). Jesus utiliza essa imagem dramática para ilustrar a autonegação (v. 23). Por que Jesus diz que devemos fazer isso “cada dia” ou “diariamente”?
- No v. 24 Jesus nos apresenta um paradoxo do discipulado – quem quiser salvar a si mesmo vai se perder, mas quem perder a si mesmo vai se salvar. O que significa “querer salvar a si mesmo”? E, nesse mesmo contexto, como podemos entender o “perder a si mesmo”? Por que, no contexto do seguimento de Jesus, “ganhar o mundo inteiro” pode se revelar na verdade um caminho de perda (v. 25)?
- De que maneira(s) podemos nos envergonhar de Cristo e de suas palavras no nosso cotidiano (v. 26)? O que isso tem a ver com o “ganhar o mundo inteiro” do verso anterior?
Hora de Avançar
Podemos parafrasear o versículo [24] da seguinte forma: “Quem estiver determinado a se apegar a si próprio e a viver por si próprio, perderá a si próprio. Porém, quem estiver disposto a morrer, a perder-se, a se entregar à obra de Cristo e ao evangelho, se encontrará (no momento do completo abandono) e descobrirá sua verdadeira identidade”. Assim, Jesus promete a verdadeira autodescoberta pelo preço da autonegação, a verdadeira vida pelo preço da morte. (John Stott, p. 99)
Mesmo que muitas vezes eu me renda aos muitos temores e apelos de meu mundo, ainda creio profundamente que nossos poucos anos nesta terra são parte de um acontecimento muito mais amplo que os limites de nosso nascimento e morte.(…) Se tenho medo de morrer? Consideremos: vez após vez, deixo-me seduzir pelas vozes turbulentas de meu mundo que me dizem que minha “pequena vida” é tudo que tenho e me aconselham a apegar-me a ela com toda a minha força. Nesse caso tenho tudo a perder. Entretanto, quando nego ouvidos a essas vozes em minha vida e ouço a aquela voz mansa e suave a chamar-me de Amado, sei que nada há a temer e que morrer é o maior ato de amor, o ato que em leva ao acolhimento eterno de meu Deus, cujo amor não tem fim. (Henri Nouwen, Meditações com Henri Nouwen, Editorial Habacuc, 2003, n. 107)
Para Terminar
- Neste último capítulo, John Stott trata da “morte” como caminho para a “vida”. É preciso que o discípulo radical experimente a “morte” para alcançar a “vida”. Para muito cristãos ao redor do mundo isso significa enfrentar a perseguição física, e em muitos casos, o martírio. Em nosso país, a ausência, ou pelo menos a raridade destas modalidades de “morte”, podem provocar em nós acomodação e até insensibilização para com os desafios do seguimento de Cristo. Que atitudes podemos cultivar em nossa caminhada cristã para evitarmos esses perigos?
- Como o convite de Jesus para “tomarmos a cruz diariamente” pode ser vivido em seu convívio familiar, social e eclesiástico? De que maneira(s) a tentação de “ganhar o mundo inteiro” pode estar influenciando seus objetivos pessoais, profissionais, acadêmicos, etc?
Eu e Deus
Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz. (Agostinho, Confissões, Livro X, p. 277, Paulus, 1984)
Leia mais
Cristianismo Básico, John Stott, Ed. Ultimato.
>> Autor do estudo: Reinaldo Percinoto Junior
Linda meditação. Grande verdade para todos nós quando a maioria pensa apenas no aqui e agora!
Na parte PARA REFLETIR E ENTENDER O QUE A BÍBLIA FALA os versículos citados não correspondem com o texto bíblico a ser refletido. Por exemplo, foi citado Lucas 9, mas citaram o capítulo 6 e dá a entender na sequência que os versículos são do capitulo 6.. Só uma observação que me confundiu na hora da conferência, mas entendi o estudo. Seria bom que revisse para não causar dúvida em outros leitores.
Mas esta direção espiritual dada pelo autor, John Stott é salutar. Concordo.
Grata pela atenção!
Pétala Branca