O que fazer quando os filhos partem?

O que fazer quando os filhos partem?

Texto Básico: Gênesis 2.24

Leitura diária

D – Sl 113.1-9 – O Senhor e a nossa dor
S – Lc 1.36-37 – O Deus dos impossíveis
T – Dn 4.35 – A vontade soberana
Q – Tg 4.1-4 – Pedindo mal
Q – Tg 4.11-12 – Julgando os irmãos
S – Tg 4.13-17 – Língua arrogante
S – Tg 5.12-20 – Língua abençoadora

Introdução

No começo, a casa dos recém-casados é caracterizada por um silêncio quebrado uma vez por outra por uma conversa calma e elaborada do casal. Os sons mudam com o tempo: passam a ser ouvidos sons de crianças correndo, brigando, de pais “berrando” para que não façam isso ou aquilo, muitos risos e brincadeiras. Novamente acontece uma mudança nos sons ouvidos: músicas que os adolescentes da casa “curtem” no rádio nas alturas, risadas dos amigos e algumas gírias desconhecidas. Mais mudanças acontecem, até que novamente o silêncio retorna, após muitos anos.

O que está acontecendo? Os filhos cresceram, e saíram do lar para seguir o rumo de suas vidas. Os pais geralmente são pegos de surpresa quando esse momento acontece, pois não se prepararam para isso. Sentimentos de nulidade, saudade, solidão, dever cumprido, apreensão, orgulho e outros tantos se misturam, formando uma crise. Como encarar mais essa situação, diante de Deus, honrando-o e gozando de sua graça e paz?

I. Problemas que surgem com a partida dos filhos

a. O sentimento de inutilidade

Durante muitos anos, os pais se dedicaram a prover, educar, cuidar, orientar, ensinar, alimentar e proteger sua criança. Mas um dia você olha para o seu filho e percebe que está na casa dos vinte anos e se dá conta de que sua personalidade adolescente deu lugar às resoluções de um jovem maduro. Embora seja mais agudo para a mulher, um sentimento de inutilidade pode tomar conta dos dois.

A sensação é que agora os pais, principalmente após a saída do último filho de casa, estão sem função no mundo. Percebem que não são mais essenciais na vida de seus filhos, ainda que todos se amem. Muita confusão pode cercar esse momento: o que fazer agora? Qual é o passo seguinte? Do que os pais se ocuparão?

b. A solidão

Quase todos os pais que já experimentaram essa situação mencionam a solidão como um problema envolvido no processo. A saída dos filhos da casa, conforme alguns pais podem relatar, traz um sentimento de vazio.

Como essa saída, na maioria esmagadora das vezes, implica mudança para um lugar distante, quando os pais se dão conta que terão de se acostumar com uma rotina que não mais inclui um retorno ao lar no fim do dia, eles se percebem sós.

c. O impacto no relacionamento conjugal

Outro problema bastante comum, e mais grave do que os demais, é a percepção de que o casal gastou a maior parte da vida conjugal se dedicando aos filhos. Sabem o que pensam pelo olhar. Percebem se estão bem ou não pela maneira com que pressionam a maçaneta da porta quando chegam. Mas com a saída daqueles que foram transformados no centro o lar, os pais não só perdem a referência, como olham um para o outro como quem olha estranhos. Eles percebem que não se conhecem mais.

Esse problema pode tomar contornos mais profundos que os demais, porque os outros são passageiros por natureza, até que uma nova rotina se instale, mas este pode trazer grandes consequências. Nessa fase da vida, não é incomum que o divórcio visite o lar, tornando clara a percepção que o casal teve de si, uma vez que o ponto de convergência não existe mais.

II. Entenda o propósito da criação de filhos

Devemos criar nossos filhos para a glória de Deus. Os alvos de Deus para eles são os mais sublimes e benéficos que podemos almejar. Por isso, os pais precisam entender que criar filhos possui alvos específicos. O desconhecimento desses alvos torna irreconhecível a situação quando ela se manifesta e a crise se instala. Isso pode ser evitado se os pais souberem com que propósito criam seus filhos.

a. Criá-los para formarem famílias

Gênesis informa que não só faz parte do processo natural da vida e da maturidade, mas existe uma profunda motivação para que os pais não só esperem, mas estimulem a saída de seus filhos: a formação de uma nova família.

O novo núcleo que se forma com a saída dos filhos é importante para o crescimento do reino e continuidade da vida. A promessa é para nós e para os nossos filhos, diz a Palavra de Deus, e espera-se que eles cresçam e os filhos de seus filhos façam o mesmo. Para que seus filhos se casem e tenham seus próprios filhos, é preciso deixar o núcleo familiar original, para formar outro, novo. Criar uma nova família inclui o deixar os pais.

b. Criá-los para que virem irmãos

Nosso tempo testemunha a crescente onda do incentivo à imaturidade. Amadurecer é preciso, é natural e um evento cheio de benefícios piedosos. A maturidade é esperada e deve ser estimulada, ao contrário do que pensa o mundo ao nosso redor (Sl 37.45; 1Co 13.11).

No texto de Gênesis, somos informados de que os filhos deixam seus pais para formar uma nova família. Isso significa que, com a idade adulta chegada, eles possuem o mesmo status e a mesma posição de seus pais. Eles estão páreos. A verdade é que seus filhos não permanecerão para sempre infantes e dependentes de sua direção, mas poderão, quem sabe, até os ensinar (Sl 119.100). Criamos filhos para que se tornem adultos e, por conseguinte, irmãos na fé. Criamos filhos que se tornarão irmãos.

III. Prepare-se para um futuro próximo

Os pais devem procurar preparar seus filhos para a vida adulta. Provérbios 22.6 diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Normalmente interpretado como uma promessa, esse texto não é corretamente entendido até que se atente que o sábio não diz qual é esse “caminho”. Antes, o texto nos diz que, não importando em que caminho a criança seja ensinada, ela adquire um gosto, de modo que quando cresce permanece gostando dele.

Preparar-se não é uma boa opção, nem mesmo é uma opção. Preparar-se para esse futuro próximo é uma ordem. Caso, porém, esse momento de saída do ninho não tenha sido preparado e planejado, você sentirá fortemente a sensação de perda. Nessa hora, vale a análise e a reflexão sobre algumas questões: “O que está faltando para esse casal? O que aconteceu na dinâmica dessa família que centralizou a atenção exclusivamente sobre esse filho? Onde estão os indivíduos nessa casa?”. Como, então, preparar-se de modo correto?

a. Bons relacionamentos com os filhos

Os pais podem se preparar para esse tempo estabelecendo com seus filhos relacionamentos íntimos, mas não sufocantes. Criamos filhos como o pequeno príncipe preservava sua rosa na redoma de vidro. Os pais devem apoiar seus filhos, não coibi-los.

Paulo adverte contra provocar nossos filhos à ira, para que eles não fiquem desanimados, zangados, cansados ou frustrados e para que seu ânimo não esmoreça e eles se sintam abatidos (Ef 6.4; Cl 3.21).

Lembre-se de que, quando os filhos partem de casa, muitos pais colhem aquilo que semearam. Durante anos eles provocaram e afastaram seus filhos por pura negligência (Pv 29.15), por parcialidade (Gn 37), por irritá-los (1Sm 19 e 20), por falta de apreciação e equilíbrio (elogiar, bem como corrigir, valorizar diversão e alegria, bem como trabalho e respeito), por hipocrisia (padrões duplos) ou excesso de severidade. Quando chega o dia de partirem de casa, esses filhos estão hostis ou completamente apáticos e indiferentes em relação aos pais, pois esse é o resultado esperado e previsto biblicamente (Pv 17.21,25).

b. O centro do lar

Os filhos podem ser uma poderosa força de coesão. Por um lado, eles unem o marido e a esposa; mas por outro lado, podem evitar que o marido e a esposa consigam estabelecer um bom relacionamento conjugal. O perigo? Os filhos se vão e ficam dois desconhecidos.

Podemos nos preparar para a partida dos filhos desenvolvendo um relacionamento íntimo com o cônjuge. Esse é o relacionamento mais duradouro do lar. De fato, antes da chegada dos filhos, havia apenas o marido e a esposa e deles decorrem os filhos. Os filhos não são o motivo do casamento, mas sua consequência.

Sem dúvida essa é a ênfase bíblica. Quando Deus disse que não era bom que o homem ficasse só, Deus não providenciou filhos para Adão, mas uma esposa: “far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn 2.18). Quando Paulo buscou uma figura para representar o íntimo relacionamento de amor e redenção entre Cristo e a igreja, dentre todas as figuras existentes, ele usou o relacionamento de um casal (Ef 5.25-31). Em sua primeira carta, Pedro também enfatiza que o relacionamento conjugal possuía prioridade, com efeitos tão profundos capazes de fazer interromper orações (1Pe 3.7). O que dizer da lei que dava ao casal recém-casado a bênção de gozar de um ano de folga dos seus serviços, inclusive o militar, conforme está em Deuteronômio 24.5? Que outra ocasião da vida humana foi contemplada com benefício equivalente ou superior? Se as Escrituras valorizam tanto o aspecto conjugal, por que insistiria o casal em dar aos filhos a centralidade do lar?

É natural que se sinta falta dos filhos, mas não é uma calamidade terrível capaz de despedaçar a vida. O relacionamento humano mais duradouro está intacto e há muito tempo para gozá-lo, sem as preocupações que até então ocuparam a casal.

c. Interesses diversos

É possível, também, preparar-se para esse tempo cultivando interesses que, mais tarde, possam ser desenvolvidos ou aprimorados. Algumas pessoas não possuem outros interesses ou afazeres senão os ligados diretamente à rotina doméstica. Com isso não estamos excluindo os maridos, pois com rotina doméstica podemos incluir o interesse no trabalho e na família que, como muitos fazem, é cercado de uma falta crônica de diversão fora desse contexto. Assim, quando os filhos se vão, não há nada para preencher a lacuna na agenda, sobra um tempo que permanecerá desocupado.

Essa orientação é bíblica (cf. Fp 4.8). Após a partida dos filhos, o casal percebe que poderia ter investido mais em algumas habilidades e aprendizados. Um pode lamentar o fato de não ter aprendido a guiar um veículo, outro por não ter aprendido outra língua, ou então por não ter adquirido aquela habilidade manual que desejava.

Este é um tempo para se expandir as atividades e relacionamentos, e não para afastar-se da vida. Conforme Paulo nos diz em Filipenses, há todo um leque de possibilidades que se abre diante da pessoa que deseja viver este momento diante de Deus, para a sua glória e com plenitude.

Uma questão importante a se enfatizar aqui é que, dentre os inúmeros novos interesses que estão disponíveis, um novo ministério na sua igreja local deve figurar entre eles, afinal, há mais tempo livre para servir ao Senhor sem tantas responsabilidades com a família.

Ver os filhos partirem pode dar a sensação de um segundo parto. Mas se é assim, por que não se preparar para esse evento como se preparou para o primeiro?

IV. Ajuste-se ao seu novo papel na vida dos filhos

Quando os filhos partem, as pessoas precisam reconhecer que cada fase da vida tem suas próprias compensações. Os anos da meia-idade e da terceira idade não são um poslúdio do viver verdadeiro; eles são, em si, um viver verdadeiro. Toda pessoa deveria ter alvos específicos e apropriados para alcançar, bem como, graus de crescimento para atingir. Isso acrescentaria uma nova dimensão à vida.

Esta nova situação exigirá que o papel dos pais se revista de novos contornos, que são distintos e pouco abordados. Os pais não mais têm o papel de protetores, orientadores diretos e direcionadores da vida da criança. O filho agora é um adulto, possui seu próprio lar, suas responsabilidades, sua própria vida.

a. Influência indireta

A primeira e mais impactante mudança é o tipo de influência que os pais vão exercer na vida de seus filhos doravante. O fato de ela agora passar a ser quase exclusivamente indireta é muito difícil para muitos pais. Esses pais tenderão a se intrometer nas decisões de seus filhos, na maneira como criam seus netos, na forma como administram a sua rotina.

Não tentar influenciar diretamente é um desafio de grande peso para os pais que passam por essa fase da vida. Inúmeros casais reclamam da influência que alguns pais têm em seu lar, e que não é abençoadora.

Os pais têm de ter consciência que sua ajuda será necessária e valiosa; seus ensinos e conselhos serão considerados; suas experiências reconhecidas. Contudo, todas essas coisas precisam ser requisitadas, não oferecidas. De maneira alguma isso defende qualquer forma de desprezo, pelo contrário. Entretanto, essa é a fase em que os filhos tentarão praticar o que aprenderam com seus pais, e recorrerão a eles sempre que precisarem ou dúvidas surgirem. Aguarde por esse dia sem se tornar inconveniente.

b. A casa agora é do vovô e da vovó

Quando as pessoas levam a sério o fato de que serão avós, essa nova fase da vida pode envolver significado e entusiasmo.

Verdade seja dita, alguns avós são arrogantes e ofensivos no dar conselhos sobre a criação de filhos. A posição de ser fonte de sabedoria e conselho que gozam em virtude da experiência que têm não deve, no entanto, fazer com que as pessoas abusem deste privilégio. Devem, antes, procurar cumprir com responsabilidade a benção que lhes é dada pelo próprio Deus. Bons avós podem ser uma grande influência na vida de uma criança e esse é um novo papel para o qual você deve se preparar para desempenhar bem.

Alguns reclamam de que não estavam prontos para serem avós “tão cedo”. Lembre-se: se seus filhos já saíram de casa pela porta do casamento, então esta é uma possibilidade bem real e não tardará. Receba bem a notícia e seja uma benção para esse novo membro da família.

Conclusão

Quando os filhos partem, a vida não acaba. Apenas uma nova fase é inaugurada. Olhar para essa nova etapa da vida com esperança pode transformar totalmente as expectativas de um casal.

A dor e os sentimentos misturados são inevitáveis, mas no poder de Cristo e sob a orientação do Espírito, podemos lidar com essa fase da vida de maneira que glorifiquemos a Deus com nosso exemplo, palavras e pensamentos. Esteja pronto para passar por essa fase de modo que Deus se agrade de você.

Aplicação

1 – Converse sobre o assunto com outros pais que passaram por essa situação;

2 – Dê exemplo de um comportamento maduro;

3 – Examine seus desejos com respeito aos seus filhos;

4 – Faça uma lista de interesses que não tem condições de dar atenção agora, mas que poderá fazer quando os filhos partirem;

5 – Repense seu relacionamento conjugal e priorize-o.

>> Estudo Bíblico publicado na revista Nossa Fé do 2º trimestre de 2012 com o tema O lar segundo Deus, pela Cultura Cristã.

>> Autor do Estudo: Jônatas Abidias de Macedo

Print Friendly, PDF & Email

Tags: , ,

7 Comentários para “O que fazer quando os filhos partem?”

    Error thrown

    Call to undefined function ereg()