Murmuração e ansiedade

MURMURAÇÃO E ANSIEDADE

 

Texto Básico: Filipenses 2.14-16

Leitura Diária
Domingo: Lc 12.13-21 – Guardai-vos da avareza
Segunda: Rm 9.19-29 –Não discuta com Deus
Terça: Jd 14-16 – Murmuradores descontentes
Quarta: 1Co10.1-13 – Não murmureis
Quinta: 1Tm 6.3-10 – Piedade com contentamento
Sexta: Hb 13.1-6 – Contentai-vos com o que tendes
Sábado: Tg 5.7-11 – Não vos queixeis uns dos outros

Introdução

Vivemos em uma sociedade que adora reclamar. Ironicamente, a sociedade mais indulgente que o mundo conheceu até aqui é também a mais descontente. Quanto mais as pessoas possuem, mais descontentes são para lidar com o que têm – além disso, essas mesmas pessoas não acreditam no sofrimento silencioso. Parece que estamos produzindo uma geração de queixosos. Murmuração e descontentamento estão presentes em todos os ambientes: em casa, na escola, no trabalho, nas relações sociais… mas o que isso tem a ver com a vida cristã? E o que a Escritura tem a dizer sobre isso?

I. Descontente na sociedade

Muitos jovens são caracterizados por uma atitude de insatisfação, têm aversão à responsabilidade e constante mau humor – nada é do modo que eles gostariam que fosse. O fato é que, em muitas famílias, a autoridade é concedida à criança. Assim, o que temos é uma geração crescendo em um ambiente onde a autoridade é atribuída a ela. Esse é o produto infeliz dos pais centrados nos filhos.Crianças que crescem controlando o ambiente familiar não desejam se tornar adultos, porque isso significa que eles terão de moldarse. Elas não querem ter um emprego, porque ninguém no trabalho vai dizer: “Como você gostaria que fosse a decoração do seu escritório?; A que horas você gostaria de almoçar?”. Ao contrário, no trabalho elas serão postas em uma linha de montagem ou outro lugar similar onde se espera que se adaptem às regras da empresa. Não é de admirar essa geração que não quer crescer nem deixar o lar. Muitos jovens se sentem assim porque estão protelando o momento de arcar com responsabilidades. A liberdade da sua infância parece bem mais atraente do que ter de se adaptar a um sistema. Seus pais, embora bem-intencionados, estão involuntariamente preparando homens e mulheres irresponsáveis.

Quando a realidade os atingir, os que foram criados dessa forma finalmente se verão forçados a arrumar um trabalho e, claro, vão procurar por um que ofereça muito dinheiro por pouco trabalho.

O objetivo dessas “crianças crescidas” é financiar a si mesmas, de modo que possam alimentar os próprios vícios. Eles tentam extrair o máximo do mal necessário da vida adulta, para colecionar peças inúteis, barcos, carros, viagens de férias, e qualquer outra coisa que reacenda a chama da sua infância perdida. Porém, essa é uma busca sem valor, “porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”, disse Jesus (Lc 12.15). Esses “adultos infantilizados” se sentem interiormente vazios e sabem que lhes falta algo. Por estarem enfatizando o físico em detrimento do espírito, eles acham que não têm o suficiente – e seja o que for que possuam nunca é o bastante para eles!

As queixas têm-se tornado cada vez mais fúteis. Pense no que leva as pessoas a se queixarem, se tornarem ansiosas e até enfurecidas. Elas querem as coisas do seu jeito e na hora! Telefonemas em horas inconvenientes, chaves perdidas, filhotes de cachorro desaparecidos, zíperes enguiçados, roupas apertadas, dietas fracassadas, afobação por ser apressado ou interrompido – quantos ficam aflitos por causa dessas “tragédias”, não é mesmo?

Perder uma promoção, um negócio importante ou outra coisa desejável, não é justificativa ficar reclamando ou se sentir ansioso. As preocupações são produtivas quando nos levam a agir de forma sensata, mas são estéreis quando nos conduzem à ansiedade. Esteja ciente de que as preocupações nos deixam mais propensos a seguir o caminho da ansiedade e da aflição, mais ainda se forem acompanhadas de queixas.

É um pecado queixar-se contra Deus. “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?”, perguntou Paulo retoricamente (Rm 9.20a). Pode a criatura indagar ao Criador: “Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20b). A queixa contra Deus é inoportuna e completamente inapropriada. Não se engane pensando que apenas os piores blasfemos cometem esse pecado. Não é contra Deus que estamos realmente nos queixando, quando reclamamos de alguma situação? Afinal de contas, ele nos colocou onde estamos. A falta de gratidão e de contentamento são, na realidade, ataques contra Deus.

Os queixosos exercem um efeito devastador sobre a igreja. Alguns são apóstatas; Judas os qualifica como “… murmuradores (…) descontentes, andando segundo as suas paixões” (Jd 16). Seu pecado é profano porque é altamente contagioso. Encontramos provas abundantes disso no Antigo Testamento. Examinemos essas coisas cuidadosamente para que possamos proteger a nós mesmos e a nossas igrejas de descerem a um lamaçal de queixas, descontentamento, ansiedade e miséria.

II. Descontentes no Antigo Testamento

Esta é a cena: os israelitas estão no deserto, a caminho da terra prometida, após o miraculoso livramento de séculos de escravidão no Egito. Deus lhes ordena que ocupem a terra. Josué, Calebe e dez outros espiaram a terra ao redor e fizeram seu relato:

“Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse: Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos contra ela. Porém, os homens que com ele tinham subido disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. (…) e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos. Levantou-se, pois, toda a congregação (…) murmuraram contra Moisés e contra Arão; e (…) lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? (…) Então, Moisés e Arão caíram sobre o seu rosto perante a congregação dos filhos de Israel (…) E Josué (…) e Calebe (…) falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: (…) não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo dessa terra (…) retirou-se deles o seu amparo; o Senhor é conosco (…) Apesar disso, toda a congregação disse que os apedrejassem (Nm 13.30–14.7,9-10, grifos do autor).

Aqueles dez espiões, aqueles profetas da destruição, puseram toda a nação descontente por reclamarem do que Deus tinha ordenado que fizessem. O que dizem as Escrituras sobre o que aconteceu a eles? “Os homens que Moisés mandara a espiar a terra e que, voltando, fizeram murmurar toda a congregação (…) esses mesmos homens que infamaram a terra morreram de praga perante o Senhor” (Nm 14.36-37).

Dá para ter uma ideia do que Deus pensa a respeito dos murmuradores? Eles espalharam um veneno pernicioso, que contaminou rapidamente outras pessoas. Eles tiveram a capacidade de agitar todo o grupo, que já estava tomado pelo pânico. Isso aconteceu muitas vezes na história de Israel. Com frequência, o pobre Moisés teve de ouvir reclamações acerca de sua liderança e do alimento que Deus provia a todo o povo. No Salmo 106, conhecemos os murmúrios dos israelitas: “tentaram a Deus na solidão [do deserto] (…) desprezaram a terra aprazível e não deram crédito à sua palavra; antes, murmuraram em suas tendas (…) Então, lhes jurou, de mão erguida, que os havia de arrasar no deserto; e também derribaria entre as nações a sua descendência” (v. 14,24-27).

O Novo Testamento deixa claro que a igreja deve aprender com os erros de Israel. Depois de enumerar as bênçãos incríveis desfrutadas por esse povo das mãos de Deus, Paulo declarou: “Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto. Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram (…) nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos” (1Co 10.5-6,10).

A murmuração é sintoma de um problema espiritual profundo – o fracasso de confiar em Deus e submeter-se à sua vontade. Não se trata de uma questão insignificante: “Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso” (lJo 5.10). Eis um texto que melhor se enquadra: “Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados” (Lm 3.39). Deus perdoou nossos pecados e o único meio apropriado de lhe dizer “obrigado” é sendo realmente agradecidos. Como aprendemos anteriormente, um espírito de gratidão afugenta a ansiedade – e também estorva as reclamações.

III. Contentamento como ordem

Temos agora base para compreender a ordem de Paulo em Filipenses 2.14: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas”. O “tudo” refere-se ao que Paulo havia dito antes: “… desenvolvei

a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar” (v. 12-13). Em outras palavras, enquanto Deus está operando em sua vida, esteja certo de que você não terá do que se queixar. A vida nem sempre nos supre com aquilo que gostaríamos. Deus permite que sejamos provados para ajudar-nos a orar, confiar e ser gratos por aquilo que temos. Ao longo de toda a Bíblia, há mandamentos para que sejamos contentes:

• Lucas 3.14: “Contentai-vos com o vosso soldo”.

• 1Timóteo 6.6,8: “Grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento (…) Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”.

• Hebreus 13.5: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes”.

Os obstáculos para o contentamento são a queixa e a contestação. Em Filipenses 2.14, a palavra grega traduzida por “murmurar” refere-se à murmuração, uma expressão de descontentamento e resmungo em voz baixa, a qual expressa uma atitude negativa de queixa. A palavra grega traduzida por “contestação” é mais intelectual por natureza. Ela se refere a questionamento e crítica. Isso ocorre quando uma lamúria emocional transforma-se um debate com Deus (como aconteceu com Jó).

Começamos a discutir com Deus por que as coisas são da maneira como são ou por que temos de fazer o que ele espera que façamos. Achamos nossas concepções sobre emprego, casamento, igreja, lar e outras situações melhores que as de Deus.

Paulo disse que há um meio melhor para viver: desenvolver nossa vida cristã sem nos queixar. Essa é uma atitude mais em sintonia com a vida como ela é. Estamos vivendo em um mundo degradado. O mundo e as pessoas à nossa volta nem sempre são do modo que gostaríamos. Tiago advertiu: “Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas” (Tg 5.9).

IV. Razões por trás da ordem

Entretanto, seria um erro concluir que Deus está sempre pronto para nos flagrar. Em sua Palavra ele não apenas diz que odeia a lamentação, como também deixa claro o porquê. Ele deseja que aceitemos as razões em nosso coração com o mesmo apreço que ele e entendamos que elas ocorrem para nosso próprio bem.

A. Pare de reclamar por você
Paulo recomendou que não nos queixássemos, para nos tornarmos “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis” (Fp 2.15). Quando paramos de lamentar, ficamos livres para ser tudo o que Deus deseja que sejamos. “Sede (…) imitadores de Deus”, disse Paulo, “como filhos amados” (Ef 5.1). Se você é filho de Deus, viva pela manifestação do seu caráter.

B. Pare de reclamar pelos não cristãos
Paulo afirmou que refletimos a natureza de Deus para que nos tornemos “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual [resplandeceremos] como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida” (Fp 2.15-16). A maneira como vivemos exerce um efeito surpreendente não apenas em nós, como filhos de Deus, mas também na maneira como influenciamos o mundo ao nosso redor.

Essa afirmação, a essência do apelo de Paulo, é direcionada ao nosso propósito evangelístico. Uma simples definição do evangelho demonstra que os filhos de Deus resplandecem como luzeiros neste mundo em trevas. Fazer isso com eficácia envolve duas coisas: contentamento e caráter. Tanto ao que dizemos como o que somos.

Se você é um cristão obediente e virtuoso, causará uma impressão surpreendente em muitas pessoas. Elas sentirão sua luz e algumas até se afastarão assustadas por ser realmente óbvio que você tem algo que elas não possuem. Outros serão atraídos por sua luz porque anseiam ser pessoas melhores do que são. O destino deles está intimamente ligado ao modo como vivemos nossa vida.

A qualidade da sua vida é o termômetro do seu testemunho pessoal. Um cristão murmurador, descontente, resmungão, mal-humorado e queixoso nunca terá uma influência positiva sobre os outros. É incongruente falar sobre o evangelho do perdão, da alegria, da paz e do conforto e, ao mesmo tempo ficar se lamentando e se queixando. Dê às pessoas mais crédito do que isto: elas não vão acreditar no evangelho até verem você comprovar a sua verdade. “Mostre-me a sua vida redimida e eu me disporei a crer em seu Redentor”é um desafio válido para qualquer não cristão fazer.

Pare de murmurar, diz Paulo. Parem de argumentar com Deus. Obedeçam ao Senhor com alegria. Brilhando como luz do mundo, você descobrirá uma recepção imediata, porque uma vida transformada é a maior propaganda do evangelho. Um espírito negativo, mal-humorado e murmurador é o pior testemunho que pode haver.

Esforce-se, hoje, para viver sem reclamações. Anote toda vez que fizer isso. Você pode se surpreender ao descobrir que essa postura tornou-se um modo de vida. Além de ser altamente contagioso aos outros, um espírito murmurador tem um efeito anestésico sobre aquele que o possui. A murmuração se torna tão frequente que muitas pessoas ficam contaminadas e sequer percebem que essa é sua característica predominante.

Faça uma lista de suas reclamações e será bem-sucedido ao atacar a ansiedade em sua fonte. Você afirmará que Deus sabe o que está fazendo em sua vida. Ouvir suas próprias queixas é escutar-se dizendo o contrário, e quanto mais o fizer, mais você acreditará nisso. Pela paz da mente, pare agora.

Conclusão

O contentamento não está ligado à condição financeira de uma pessoa, mas à sua postura diante da vida e da providência de Deus. Aquele que sabe que sua vida está nas mãos de Deus, que descansa na providência de Deus, desfruta deleitosamente das bênçãos que o Senhor lhe concede e encontra contentamento em seu Senhor.

Aplicação

Você é uma pessoa contente? Você tem contentamento com aquilo que o Senhor lhe dá? Como você tem desfrutado das suas bênçãos? Liste atitudes que você identifica em sua vida, as quais o impedem de ter contentamento no Senhor. O que você pode fazer a esse respeito?

Coloque essas atitudes diante de Deus em oração e comece a mudá-las a partir de hoje.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Vencendo a Ansiedade. Usado com permissão.

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15 Comentários para “Murmuração e ansiedade”

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