Missão e evangelização urbanas

Missão e evangelização urbanas

Texto básico: Lucas 8.26-39

Leitura diária
D Cl 1.13-23 O poder soberano e redentor
S Mt 17.14-21 Um jovem curado por Cristo
T Lc 4.16-19,31-37 Jesus confirma o seu ministério
Q Ef 6.10-20 Revestindo-nos da armadura
Q Jo 8.31-47 Só Jesus pode libertar
S Mt 22.1-14 A bodas e os marginalizados
S Ef 2.1-10 Do pecado à glória da salvação

Introdução

Há muitos desafios à tarefa das missões urbanas; talvez os maiores estejam relacionados ao preconceito que costumamos ter contra certas pessoas. Isso forma uma espécie de “barreira humana”. Nas cidades, tais barreiras nos saltam mais aos olhos, pois há pessoas que são consideradas indesejáveis ou pelo menos ignoradas no cotidiano urbano. Como devemos agir para com esses seres humanos, segundo a Palavra de Deus?

Para a nossa reflexão sobre a missão e a evangelização urbanas, analisemos o episódio da cura efetuada pelo Senhor Jesus no geraseno endemoninhado. Podemos extrair desse episódio alguns princípios gerais que nos orientem na nossa tarefa de evangelização em nossa cidade.

 I. A cura do endemoninhado geraseno

Assim que Cristo e os seus discípulos desembarcaram no Mar da Galiléia, na terra dos gerasenos, foi ao seu encontro um homem possuído por demônios, que havia tempos vivia em condições animalescas, sem roupas e que residia nos sepulcros. Ao ver o Filho de Deus, o reconheceu escandalosamente e lhe rogou que não o perturbasse, pois Cristo havia ordenado aos espíritos imundos que saíssem dele (vs.26-29). Identificando-se como Legião, em resposta à pergunta do Senhor Jesus, os demônios solicitaram permissão para entrar nos porcos que pastavam ali próximo. Após a permissão do Senhor, os demônios entraram na manada, o que resultou na precipitação dela despenhadeiro abaixo, rumo ao mar, fato que espantou os porqueiros, os quais foram narrar o ocorrido na cidade e pelos campos (vs.30-34). Tendo ouvido o relato, o povo foi verificar o ocorrido e se espantou ao ver o antigo endemoninhado em perfeita sanidade, aos pés de Cristo. O fato ocorrido foi confirmado por outras testemunhas, mas os gerasenos, amedrontados pelos relatos e pela visão do homem recuperado, rogaram ao Filho de Deus que se retirasse daquele lugar, pelo que Cristo voltou ao barco (vs.35-37). O homem que fora curado pelo Senhor pediu permissão para segui-lo, mas Jesus o despediu dizendo que ele deveria voltar para a sua casa e anunciar aos seus familiares o que Deus fizera; então aquele homem passou a anunciar por toda a cidade tudo o que Cristo havia feito (vs.38,39).

Esse relato bíblico é impressionante, pois apresenta muitos dados incomuns, não apenas quanto à anormalidade da presença e da atuação demoníacas, mas também quanto ao fato de Jesus ter sido evidenciado como Messias através dos espíritos imundos. Comumente os demônios o reconheciam rápida e publicamente (Mc 1.24), o que não é uma virtude em si, mas a confirmação incontestável de uma verdade (Tg 2.19): Cristo tem absoluto poder sobre todos os seres, homens e anjos, fiéis e rebeldes (Mt 28.18; Cl 2.10). Certamente tais manifestações serviam para evidenciar a singular autoridade do Senhor como o Messias (Lc 4.18,19,33-37). Essa autoridade foi compartilhada

em alguma medida com os apóstolos e discípulos missionários, responsáveis pela implantação do Cristianismo (Lc 10.9; Mt 17.16-18,21), ainda que eles não a possuíssem na mesma medida, pois neles era apenas delegada. Além desse papel confirmador de Jesus como o Messias, não se deve negar que o poder espiritual do mal exerça influência devastadora no mundo sem Cristo. Ainda que as formas de atuação malignas não precisem ser obrigatoriamente as mesmas, as finalidades continuam sendo manter os pecadores sem Cristo nas trevas espirituais (2Co 4.4,5), conservando-os mortos (1Jo 5.19) na escravidão moral do pecado (1Jo 3.8; Jo 8.34,44). Vejamos agora como esse relato nos ensina importantes princípios para a evangelização nos centros urbanos.

 II. O evangelho como causa eficiente

Analisando o texto, destacamos o poder eficiente que Cristo tem para transformar a vida das pessoas. Os efeitos da ação salvadora que o Senhor Jesus produz podem ser mais claramente percebidos no grande contraste experimentado por aqueles que foram libertos da escravidão do pecado através do encontro com o Filho de Deus. O anúncio do evangelho é o meio através do qual o próprio Redentor se revela aos homens (Jo 5.39) atraindo-os para uma relação graciosa com Deus (Jo 1.12; Gl 3.26), com todas as graças daí decorrentes, desde a salvação (Rm 1.16) da condenação dos pecados até à nossa glorificação (1Pe 1.5-7), passando pela salvação do poder escravizador dos pecados (1Pe 1.23).

As ações do Estado e dos cidadãos podem trazer alguns benefícios às pessoas, mas o farão apenas na esfera natural, preservando a manutenção digna das relações sociais (Rm 12.18; 13.4). Contudo, essas ações não têm poder para produzir eficiente mudança no coração das pessoas (seus desejos malignos e as suas práticas pecaminosas); a ação humana, inclusive a sua religiosidade, apenas consegue coibir parcialmente a manifestação das malignidades que estão nos corações (Mt 23.27,28), mas sem efetivar a mudança interior e sobrenatural que só o evangelho pode produzir (Ef 1.13). Essa convicção de que o evangelho é o poder de Deus para salvar e libertar pecadores deve nos motivar e acompanhar a fim de realizarmos a tarefa de evangelização em uma sociedade que, estando sob trevas e perdida espiritualmente, ainda terá muitas pessoas libertas e salvas do maligno poder escravizador do pecado (Cl 1.13). Esse é o poder que o evangelho (1Jo 3.8,9) tem de transformar vidas, unindo-as a Cristo Jesus (2Co 5.17), salvando-as da condenação dos pecados exclusivamente pela soberana graça divina (Ef 2.8,9) e reconciliando-as com Deus (Rm 5.1), mediante a fé por ele mesmo concedida. O Espírito Santo atua de forma gracioso através do anúncio do evangelho (Jo 3.3; Gl 3.3-5) produzindo verdadeiros milagres ao transformar as pessoas para a glória de Deus (Ez 36.25-27).

Essa convicção no poder eficiente do evangelho deve nos levar em direção aos milhares de pessoas que estão vivendo sem Deus neste mundo, escravizadas por toda sorte de práticas pecaminosas, sob o poder maligno das trevas, ainda que estejam sem consciência do terrível estado da sua alma imortal (Ef 2.1-3). Devemos ir ao encontro delas na plena certeza de que a misericórdia e o poder de Deus são capazes e suficientes para transformá-las positivamente (Ef 2.4-7), chamando-as para o louvor da sua glória, mediante o evangelho (2Ts 2.13,14), o qual produz gloriosas mudanças na vida dos incrédulos quando recebido com fé (1Ts 1.5,9; 2.13). Com base nessas convicções, não devemos nos acomodar ou até mesmo nos acovardar diante do desafio de resgatar para Deus aqueles que ele já preparou, ainda que estejam nos mais baixos níveis da escravidão maligna. A Palavra de Deus nos enche de ânimo aos nos afirmar: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20), e também aos nos recordar que fomos libertos das trevas para nos tornarmos libertadores de outros que ainda estão escravizados (1Pe 2.9,10).

III. A restauração da imagem de Deus como meta

O nosso propósito diante do desafio das inúmeras pessoas perdidas e escravizadas pelo maligno através de uma vida pecaminosa na qual vivem não se encerra em apenas anunciarmos o evangelho. Na verdade, esse anúncio é para que um projeto glorioso se inicie nas suas vidas, o qual só se encerrará com o maravilhoso encontro final com Cristo (Fp 1.6). Esse projeto consiste basicamente na restauração da perfeita imagem de Deus no homem através do poder eficiente da sua obra (Rm 8.29). Essa é a única maneira de efetivamente neutralizar o poder devastador do pecado em nós, inclusive em relação a Deus (Rm 5.10-12). Costuma-se chamar esse processo de santificação, no qual é operada eficazmente uma crescente transformação gloriosa em nosso ser como fruto da graça de Deus (2Co 3.18). Apesar de ser uma graça divina, a santificação se processa com a ativa participação dos fiéis, os quais naturalmente a perseguem como um reflexo esperado da presença de Deus em suas vidas (1Jo 3.1-3). É por isso que a mudança de vida serve de indício para se reconhecer a genuína experiência espiritual de conversão (1Jo 3.7-9).

Sendo assim, não se espera que os cristãos interpretem as condutas pecaminosas dos incrédulos e ímpios que lotam as cidades como evidentes sinais da preterição deles (Gl 1.23), como se eles demonstrassem dessa forma que não foram eleitos por Deus para uma vida diferente. Tal conhecimento não nos é dado (Dt 29.29). Não é saudável nem recomendável procurar identificar aqueles que serão condenados por Deus tendo como evidência a permanência em sua incredulidade. Enquanto ainda estiverem vivos (Hb 9.27), poderão ser alcançados pela imensa misericórdia de Deus (Ef 2.3,4,10; Rm 11.23). Antes, devemos seguir o exemplo de Cristo, o qual, ciente dos decretos divinos, não apenas convidava a todos (Mt 11.25-30), mas também se compadecia das pessoas escravizadas em seus pecados, as quais rejeitavam a oportuna ocasião da visitação divina (Lc 19.41-44). Certamente, o deleite do coração de Jesus seria acolhê-los amorosamente (Lc 13.34).

Caso tenhamos o nosso coração despertado pela graça divina, devemos nos encorajar a pregar, na certeza do poder divino para transformar pecadores em santos instrumentos para a sua glória, segundo o exemplo de Jesus Cristo (Mc 6.34). Um convertido não sabe se outro pecador também irá a Cristo. Ainda assim ele deve se empenhar por evangelizar os incrédulos na esperança de alcançá-los e na certeza de que a misericórdia de Deus é eficiente para trazer a si quem ele quiser e quando quiser (Rm 9.15,16). Sendo assim, lembremo-nos que, embora algumas conversões pareçam impossíveis, não o são para Deus (Mt 19.25,26).

Conclusão

Devemos realizar as missões urbanas buscando a restauração da imagem de Deus na vida dos descrentes, sem nos esquecer de que não devemos sentenciar previamente ninguém à exclusão no reino de Deus. Devemos ir em busca de todos, sem nos esquecer dos marginalizados e inconvenientes, como o homem geraseno, porque há muitos escolhidos dentre eles (Mt 22). Estes serão alcançados pela igreja fiel nessa tarefa missionária. Empenhemo-nos por ver toda a igreja, a noiva de Cristo, completamente reunida para as bodas do Cordeiro (Ap 19.7-9).

Aplicação

Quais são os grupos de pessoas que estão à margem da sociedade e da igreja e que poderíamos tentar alcançar com o evangelho? Quais seriam as dificuldades que a igreja teria para alcançar e receber essas pessoas? Elabore um projeto.

>> Texto publicado na revista Palavra Viva – Sua Cidade Para Cristo, pela Editora Cultura Cristã.
>> Autor do Estudo: Raimundo M. Montenegro Neto

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11 Comentários para “Missão e evangelização urbanas”

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