Buscar a Deus com discernimento

Buscar a Deus com discernimento
Zedequias, o cativeiro e a libertação de Judá

Texto Básico: 2 Crônicas 36.11-23

Para ler e meditar durante a semana
Domingo – Jr 27.1-22 – A rejeição das falsas profecias; Segunda – Jr 28.1-17 – A confrontação da falsa profecia; Terça – Jr 32.1-44 – Uma compra simbólica; Quarta – Jr 33.1-26 – Consolado pela promessa divina; Quinta – Jr 34.1-22; 39.1-7 – O triste fim de um rei infiel; Sexta – Hb 12.4-13 – A bênção da disciplina; Sábado – Is 62.1-12 – A restauração do remanescente fiel

INTRODUÇÃO

O último capítulo de 2Crônicas descreve a trajetória dos derradeiros reis de Judá (Joacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias). Do ponto de vista da aliança davídica, somos apresentados a uma sucessão de desapontamentos. Dos quatro reis, dois – Joacaz e Joaquim – foram depostos e três desagradaram a Deus (v. 3, 10, 5,9,12). Nesta lição nos concentraremos em Zedequias, o rei estabelecido na época da destruição de Jerusalém.

Forças políticas importantes são citadas em 2Crônicas 36: o Egito, sob o reinado de Neco, uma potência em declínio, mas ainda razoavelmente influente (v. 3); a Babilônia, sob Nabucodonosor (v. 6,9,20) e a Pérsia, sob Ciro (v. 22-23).

1. Por que o relato sobre os últimos reis de Judá contém uma “sucessão de desapontamentos”?

Se uma das principais ênfases de 1 e 2Crônicas é “buscar ao Senhor”, é preciso fazer isso com discernimento, especialmente discernimento histórico. Como escreveu um pesquisador bíblico, a atuação divina nesses livros “abrange a totalidade dos acontecimentos. […] Porém, o lugar predileto em que Deus exerce essa atuação na história é o coração humano, cujos impulsos e decisões […] soberanamente põe a serviço do seu plano histórico”.

É como se o cronista nos dissesse: “Prezado leitor, busque a Deus com discernimento. Aprenda a avaliar, distinguir e compreender a história. Perceba que há um padrão; observe como Deus agiu e como ele continua agindo, geração após geração”. Sendo assim, estamos diante não apenas de um registro de fatos passados, mas de uma amostra do modo como o Senhor lida com o seu remanescente em todos os tempos.

Aceitando tais pressupostos, o que os retornados da Babilônia deveriam aprender da história sagrada e o que é possível aprender hoje?

I. JUDÁ FALHOU EM SUA BUSCA DE DEUS

Notemos o destaque a algumas ações humanas, primeiramente, os pecados do rei, depois, de outros líderes da nação e, por fim, de todo o povo (v. 11-16).

Zedequias falhou. Aquele último descendente de Davi “fez o que era mau perante o SENHOR” (v. 12). Ele tinha de executar “o direito e a justiça”, livrar os oprimidos, estrangeiros, órfãos e viúvas, abandonar a violência e obedecer a Palavra de Deus (Jr 22.1-5). Em vez disso, primeiro ele “não se humilhou  perante o profeta Jeremias, que falava da parte do SENHOR” (v. 12). Segundo, ele “rebelou-se também contra o rei Nabucodonosor, que o tinha ajuramentado por Deus” (v. 13). Terceiro, ele “endureceu a sua cerviz e tanto se obstinou no seu coração, que não voltou ao SENHOR, Deus de Israel” (v. 13).

Jeremias serviu ao SENHOR desde Josias até alguns anos depois de Zedequias (Jr 1.2-3; 38.24-28; 39.1-12). A despeito da oposição dos falsos profetas que anunciavam a paz, Jeremias profetizou que Israel seria subjugado pela Babilônia (Jr 27.1–28.17; 32.1–34.22). Zedequias permitiu que ele fosse maltratado e não lhe deu ouvidos (v. 12; cf. Jr 37.1-2,15; 38.4-6). Ao fazer isso o rei se opôs ao próprio Deus, que falava por meio de Jeremias.

A rebeldia contra a Babilônia é mencionada em detalhes pelo profeta Ezequiel (Ez 17.12-17). Zedequias rompeu um juramento que foi feito “por Deus”, ou seja, “em nome de Deus” (v. 13; cf. Ez 17.13). Daí a conclusão em Ezequiel: “Prosperará, escapará aquele que faz tais coisas? Violará a aliança e escapará?” (Ez 17.15).

A expressão “endureceu a sua cerviz” (v. 13) (endurecer o pescoço, isto é, não se curvar) faz lembrar o povo rebelde do deserto (Êx 32.9; 33.3,5; Dt 9.6). “Se obstinou no seu coração” (v. 13) ecoa a oposição de Faraó a Moisés (Êx 8.15,19). Consequentemente, Zedequias “não voltou ao SENHOR, Deus de Israel”, ele não se converteu de seus “maus caminhos” (v. 13; cf. 2Cr 7.14).

2. Cite os três pecados cometidos pelo rei Zedequias

a)

b)

c)

Os líderes de Judá falharam. A impiedade do rei foi seguida por “todos os chefes dos sacerdotes” (v. 14). Pasur é um exemplo da deterioração moral e espiritual da liderança daquela época. Ele era “presidente da Casa do SENHOR” e homem de confiança de Zedequias (Jr 20.1; 21.1). Blasfemo e violento, ele meteu Jeremias no tronco, e foi chamado pelo profeta de “Terror-Por-Todos-Os-Lados” (Jr 20.2-3).

Todo o povo falhou (v. 14). Como vimos , o povo costuma refletir seus líderes. Judá reagiu aos alertas divinos com descaso e repúdio (v. 15-16; cf. Jr 7.13). O cronista usou dois termos que são únicos em todo o Antigo Testamento: “zombavam” tem o sentido de “ridicularizavam” e “desprezavam” poderia ser traduzido como “se divertiam com” (v. 16). A queda de Jerusalém teve relação direta com o desrespeito aos profetas fiéis.

Os escritos de Jeremias lançam mais luz sobre aquela condição. O trabalho profético parecia improdutivo: “o fole bufa, só chumbo resulta do seu fogo; em vão continua o depurador, porque os iníquos não são separados. Prata de refugo lhes chamarão, porque o SENHOR os refugou” (Jr 6.29-30). O povo confiava no santuário como se este fosse um amuleto. Diziam “templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este”, enquanto praticavam obras más (Jr 7.1-4). Eles precisavam “emendar” seus caminhos, mas, em vez disso, mergulhavam em mais injustiça (Jr 7.5-7). Eles confiaram em “palavras falsas” até o ponto de serem chamados de “covil de salteadores” (Jr 7.8-11).

Deus “rejeitou e desamparou” aquela “geração objeto do seu furor”, porque “fizeram o que era mau” diante dele (Jr 7.29-30). Daí as duras sentenças proféticas: seriam “lançados” da presença do Senhor e Jeremias não deveria interceder por eles (Jr 7.15-16). O próprio Deus seria opositor de Judá (Jr 21.1-7) e uma nova leitura do apelo de Deuteronômio foi oferecida: o povo podia escolher entre “render-se aos caldeus” ou ser fulminado por eles (Jr 21.8-10; 38.2; cf. Dt 30.15-20).

O resultado é trágico (v. 14,16).O que se via eram ações opostas ao que é descrito em 2Crônicas 7.13-14. O oposto da busca de Deus: infidelidade de alto a baixo. Como escreve um comentarista, “não há humilhar-se (12), não há voltar-se (13) e, consequentemente, não há sarar (remédio, 16)”.

3. Resuma o comportamento do povo de Judá utilizando uma só palavra: _____________________________________

II. DEUS ENTREGOU JUDÁ AO CATIVEIRO

Deus castigou Judá por meio da Babilônia (v. 17-21). O relato do cronista retrata fielmente a matança (v. 17), o saque (v. 18), a destruição (v. 19) e o aprisionamento de parte da população (v. 20). Dito de outro modo, a desconsideração de 2Crônicas 7.14 levou à aplicação de 2 Crônicas 7.19-22. O arrasamento do templo, dos muros e dos palácios de Jerusalém indicou, pelo menos para aquela geração, o abalo de toda a monarquia davídica (v. 19). E tudo isso cumpriu “a palavra do SENHOR, por boca de Jeremias” (v. 21).

Quem olha para essa passagem sem ter lido 1 e 2Crônicas desde o início pode chegar a uma conclusão precipitada. A Bíblia não apresenta uma divindade caprichosa maltratando os mortais para divertir-se. Ao longo dos anos Deus demonstrou compaixão “do seu povo e da sua própria morada” (v. 15). Ele importou-se ao ponto de enviar-lhe  mensageiros” (v. 16). Contudo, Israel rejeitou as inúmeras ofertas de reconciliação de Deus (cf. Dt 7.7-8; Os 11.1-4). Deus preservou “os que escaparam da espada” (v. 20). Com essa declaração o cronista estabeleceu um link entre as gerações. Seus leitores eram descendentes do remanescente de Judá e podiam sentir-se incluídos na graciosa profecia de Zacarias (Zc 8.6,11-12).

A opressão e oposição podem resultar de disciplina. É claro que nem sempre isso é assim; até mesmo os mais dedicados servos de Deus podem sofrer injustamente (Mt 5.10-12; 2Tm 3.12; 1Pe 2.19-25; Ap 7.13-17). O próprio Senhor Jesus Cristo “foi contado com os transgressores” sem nunca ter pecado (Is 53.12; Lc 23.4,13-15). Há ainda aquelas situações em que o sofrimento é um mistério impenetrável da providência, sem nenhuma relação aparente com qualquer pecado cometido pelo indivíduo (Jo 9.1-3). O cativeiro de Judá sob a Babilônia, porém, foi uma medida disciplinar (v. 16,21). O cronista ensina que é possível que o sofrimento do crente decorra de seu pecado.

Os leitores de 1 e 2Crônicas podiam receber tais palavras como um consolo. “Será que Deus nos abandona quando pecamos? Não, ele cuida de nós, educando-nos por meio da disciplina.” A disciplina derivava do amor paterno de Deus.

O Novo Testamento reproduz esse ensino. O fato de Deus nos disciplinar indica que somos seus filhos (Hb 12.7-8). A disciplina divina é para aproveitamento, a fim de sermos participantes de sua santidade” (Hb 12.9-10). Apesar de produzir tristeza a curto prazo, ela frutifica pacificamente em justiça (Hb 12.11). Por essa razão, ao estar sob a disciplina de Deus não devemos desanimar nem menosprezá-la (Hb 12.4-6,12-13).

A finalidade pacífica daquele ato divino é ressaltada pelo v. 21. Durante o tempo do exílio a terra “repousaria”, aguardando a restauração do remanescente de Deus (Lv 26.34-35,43-45).

4. A ideia de disciplina divina é popular hoje? Por quê?

III. DEUS DEU CONTINUIDADE À ALIANÇA MESSIÂNICA

Estudiosos críticos afirmam que a obra do cronista terminou no v. 21 e os v. 22-23 devem ser considerados como inclusões posteriores. Tal  hipótese deixa de considerar a harmonia entre todas as partes deste capítulo. Na verdade, este é o ponto alto de 1 e 2Crônicas como um todo. A evidência da ligação entre as partes é a terceira referência à profecia de Jeremias (v. 22; cf. v. 12,21).

Uma questão precisava de esclarecimento. Uma vez que o “último” agente messiânico havia falhado, como ficaria a aliança? Isso é respondido no v. 22. Para cumprir a promessa feita a Davi, Deus levantou “Ciro, rei da Pérsia”, como um novo agente messiânico. Isso não significa que Ciro tenha exercido a função de substituto do “descendente” de Davi. Deus “despertou o espírito de Ciro” ou, como afirma Isaías, “ungiu” aquele monarca pagão para permitir o retorno de Israel à sua terra (Is 45.1-7). Assim, não apenas a caminhada espiritual da nação foi retomada, mas houve garantia de continuidade da linhagem davídica, até o momento propício para o nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 1.12-16).

O cronista concluiu transcrevendo o édito de Ciro. O soberano persa emitiu um decreto que correspondia, na verdade, a um encargo que lhe havia sido dado pelo próprio Deus (v. 23). O Senhor continuava comprometido com a aliança de 1Crônicas 17.10-14. Uma “casa” haveria de ser novamente edificada. Ainda que o sentido óbvio do texto seja o de edificação de um novo templo, e isso será retomado vigorosamente por Esdras, não podemos deixar de considerar que, para o leitor original de 1 e 2Crônicas, o vocábulo “casa” fazia lembrar tanto do santuário quanto da dinastia de Davi.

As palavras finais do édito foram significativas: que o povo “suba” pode ser considerado tanto uma permissão para sair quanto um convite à confiança em Deus. “E o Senhor, seu Deus, seja com ele” transmite um dos conceitos centrais do livro. Não há como prosseguir sem buscar a Deus (Jo 15.5). O Senhor caminha com seu remanescente fiel (Sl 23.4). Ele mesmo é quem levanta uma nova geração de buscadores (Ef 1.11-12). A igreja pertence a ele, Supremo Edificador (Mt 16.18).

5. Em duplas, compartilhe experiências relacionadas ao amor restaurador de Deus.
Finalize com orações de ações de graças.

CONCLUSÃO

Essas palavras finais de 1 e 2 Crônicas são relevantes não apenas para seus leitores originais, mas também para nós.

Aqui aprendemos sobre a natureza da igreja. Nós falhamos na busca de Deus; a igreja na História é pecadora. Como lemos na Confissão de Fé de Westminster, “as igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; […] não obstante, haverá sempre sobre a Terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo” (CFW XXV.V). O Senhor Jesus Cristo ensinou que antes da consumação o joio e o trigo permanecerão juntos (Mt 13.24-30,36-43). Sendo assim, a pessoa que diz que não participa da igreja porque encontra falhas nela ainda não entendeu o ensino bíblico sobre os remanescentes, nem sua atualização na parábola do joio e do trigo, nem o que diz a CFW acerca da igreja visível e invisível. Tomemos cuidado também com algumas “soluções” ministeriais que sugerem a possibilidade de estabelecimento imediato de uma igreja quase perfeita e de alto desempenho. A igreja nada mais é do que a comunidade dos pecadores salvos pela graça, e isso se aplica a seus líderes, de modo que não há espaço para celebridades na igreja; a glória é unicamente de Deus (1Tm 1.12-17; Jo 5.44; 1Co 1.30-31).

Isso nos fala sobre a esperança messiânica. O cronista terminou sua obra aberto à vinda do “descendente” de Davi. Seus primeiros leitores deviam esperar pelo Messias. Os primeiros cristãos puderam vê-lo, ouvi-lo e tocá-lo (Jo 1.14; 1Jo 1.1-4). Muitos deles foram “testemunhas oculares” de sua morte, ressurreição e ascensão (Jo 19.17–21.15; At 1.1-11; 1Co 15.1-8). Por fim, eles aguardaram por seu retorno (Mt 24.27- 31; 2Pe 3.1-13). Atualmente podemos buscá-lo unindo-nos aos que oram “Maranata!” (1Co 16.22).

Em 1 e 2Crônicas aprendemos que somos responsáveis por nossos pecados (completamente depravados) e Deus é responsável por nossa salvação (ele é quem elege, redime e chama por meio da mensagem de seus profetas). Descobrimos ainda que os remanescentes fiéis são aqueles que buscam o Senhor (os salvos perseveram na fé). Isso se encaixa perfeitamente na doutrina da salvação anunciada no Novo Testamento.

APLICAÇÃO

Uma palavra de Jeremias chama nossa atenção: “Até a cegonha no céu conhece as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do SENHOR” (Jr 8.7). Seria isso aplicável hoje? Não teríamos de atentar para as palavras do Senhor Jesus em Mateus 24.3-44 e discernir os tempos? Fomos alertados sobre sete necessidades crônicas, então atente para as palavras do Senhor e procure discernir os tempos que apontam para o juízo divino.

Busque a Deus, com fé, humildade, integridade, sinceridade, zelo e discernimento. Agradeça ao Senhor por sua compaixão que é demonstrada em seu chamado ao arrependimento. Não rejeite as ofertas de reconciliação que Deus oferece.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – O remanescente fiel, 2011. Usado com permissão.

 

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3 Comentários para “Buscar a Deus com discernimento”

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