As aparências enganam

AS APARÊNCIAS ENGANAM

 

 

Texto Básico:  Mateus 7.15-23

Para ler e meditar durante a semana
D – Jo 10.1-10 – O curral seguro;
S – Jo 10.11-18 – O bom pastor;
T – Dt 13.1-11 – Identificando o falso profeta;
Q – 1 Jo 2.18-29 – Os anticristos;
Q – 1 Co 2.1-5 – Sabedoria humana oupoder de Deus?;
S – Lc 13.22-30 – A porta estreita;
S – Ap 19.11-21 – O Cordeiro vence

 

INTRODUÇÃO

A História da Igreja relata os nomes de inúmeros líderes que, apesar de um início promissor e cheio de boas intenções, terminaram trazendo grande prejuízo para o povo de Deus. Alguns ficaram conhecidos por formarem uma seita, outros por praticarem imoralidade. Está ficando cada vez mais comum aparecerem líderes assim nas páginas policiais dos jornais, envolvidos em fraudes financeiras e fiscais. Eles trazem escândalo para o evangelho e desviam muitas pessoas sinceras do caminho da fé. O que o povo de Deus deve fazer para se precaver contra esses impostores?

I. NÃO SE DEIXEM LEVAR PELAS APARÊNCIAS

Na Palestina do primeiro século, a criação de ovelhas era feita em pastagens abertas. O lobo era um de seus inimigos naturais, e elas ficavam totalmente indefesas diante do feroz predador. Por outro lado, “ovelha” é também uma metáfora comum para Israel no Antigo Testamento (Sl 74.1; 78.52; 79.13; 95.7; e também Mt 10.6), e o Novo Testamento igualmente a aplica à igreja (Mt 25.31-32; Jo 10.14-16; 21.17).

1. De acordo com os textos citados acima, por que o termo “ovelha” é usado para se referir ao povo de Israel e à igreja?

Lobo disfarçado de ovelha (v. 15, literalmente: “que vêm a vocês em roupas de ovelha”) refere-se a elementos perigosos que parecem pertencer ao povo de Deus. O apóstolo Paulo predisse que, depois da sua partida de Éfeso, “lobos vorazes” invadiriam o rebanho dos discípulos (At 20.29-30) surgidos dentre a própria liderança da igreja, donde podemos deduzir que estavam tão bem disfarçados como parte do rebanho que nem mesmo Paulo podia identificá-los claramente naquele momento. Por isso mesmo são os piores inimigos do rebanho, do povo de Deus.

Esses “lobos” são referidos como “falsos profetas”. De acordo com a profecia de Jesus, “falsos profetas” surgirão e enganarão a muitos nos últimos tempos (Mt 24.11,24). É evidente que jamais terão êxito caso se mostrem como são de fato, por isso fingem ser cristãos. Dificilmente desviariam as ovelhas se chegassem rosnando contra Deus e seu povo; pelo contrário, eles têm de balir suavemente por algum tempo, até conquistar a confiança delas, para somente então mostrar as presas.

2. Como podemos conceituar o poder ilusório dos falsos profetas, de acordo com Mateus 24.24?

Provavelmente devemos entender a expressão “falsos profetas” de maneira mais abrangente: não apenas homens que se digam profetas, mas líderes religiosos (inclusive não ordenados oficialmente) que aparentam pertencer ao povo de Deus e que se apresentam para conduzi-lo com o objetivo de desviá-lo para a perdição. O Salvador já demonstrara como os pecados podem se ocultar sob a aparência de justiça: o assassino pode se ocultar no desprezo, o adúltero no olhar cobiçoso, a soberba na oração e no jejum (Mt 5.21-32; 6.5-18). Em outra ocasião, ele tomara escribas e fariseus como modelos da religiosidade hipócrita, feita de aparências, para impressionar aos homens, mas sem vida com Deus (Mt 23.27-28). Jesus ordena que seus discípulos estejam alertas contra esses perigos. Eles não devem se deixar levar pelas aparências, pois elas enganam muito, especialmente no que concerne à vida espiritual.

II. NÃO SE ILUDAM COM A BELEZA DO DISCURSO

Jesus também descreve algo da fala desses falsos profetas. Eles têm um discurso superficialmente ortodoxo, repetidamente chamando-o com aparente respeito e devoção – “Senhor, Senhor!” (v. 21-22). O pronome “Senhor” tinha uma aplicação bastante larga: referia-se ao dono da casa em relação a seus servos, era um título endereçado ao Imperador, considerado divino no Império Romano, ou simplesmente um vocativo respeitoso; mas a repetição pode indicar um tratamento mais íntimo e pessoal (Gn 22.11; 1Sm 18.33; Lc 22.31). Considerando que no contexto imediato esses homens são identificados com os profetas falsos e com os lobos disfarçados (v. 15), podemos deduzir que, durante sua vida terrena, eles invocaram o Senhor e usaram seu nome (v. 21), mas sem dar a ele a devida honra; antes, buscaram sua própria glória (Fp 3.18-19). Entretanto, agora que são retratados “naquele dia” (v. 22), o dia do juízo, encaram o Santo Juiz e seu clamor denuncia o reconhecimento tardio e aterrorizado de sua divindade (Mt 24.30); e procuram atrair a empatia do juiz, sugerindo ter tido alguma intimidade com ele.

3. O comportamento descrito em Filipenses 3.18-19 é compatível com a dos falsos profetas? Por quê?

As caracterizações do falso profeta no Antigo Testamento são constantemente relacionadas com sua fala. O falso profeta é alguém que fala como se tivesse a autorização divina, quando, na verdade, Deus não o enviou; assim, ele anuncia a sua própria mensagem. É aquele que incitava o povo contra a lei de Deus, especialmente levando-o à idolatria (Dt 13.1-2); ou que trazia uma mensagem de conforto, quando Deus estava irado e prestes a castigar (Jr 6.14; 8.11; Ez 13.10). Em ambos os casos, dar ouvidos ao falso profeta significaria destruição.

Mas lembremos de que esses lobos estão disfarçados: seu uivo imita o balido. Se a falsidade de sua mensagem fosse óbvia, ninguém seria enganado. A igreja de Corinto, por exemplo, encantou-se com o discurso pomposo de falsos apóstolos que se instalaram, após a partida de Paulo. Aos poucos, ela foi abandonando a pureza do evangelho e se voltando contra o apóstolo, que, segundo os novos líderes, não tinha uma oratória refinada o bastante (2Co 11.3-6; 1Co 2.1-5). As igrejas da Galácia, por sua vez, ficaram fascinadas pelo ensino aparentemente piedoso de alguns líderes judaizantes, chegados de Jerusalém. Suas sutilezas haviam levado aqueles irmãos a abandonar a cruz de Cristo como o centro da fé, em troca de guardar preceitos da lei judaica (Gl 1.6-7; 5.2-4).

4. De acordo com 2Coríntios 11.3-6, que tipo de problema Paulo parece indicar que os coríntios passaram a ver nele?

Devido à capacidade que os falsos profetas têm de usar suas palavras para destruir o rebanho de Deus, a igreja sempre deve conferir o discurso deles com as Escrituras, para se precaver de sua influência maligna (At 17.11; Is 8.20; Gl 1.8- 9). A mensagem dos mestres deve estar de acordo com a instrução apostólica original, especialmente quanto à encarnação de Cristo, reconhecendo assim sua pessoa divino-humana e a redenção por meio de sua cruz (1Jo 2.22-23; 4.3; 2Jo 1.7).

III. NÃO CONFIEM EM SINAIS

Curiosamente, Jesus não nega a alegação dos falsos profetas de que, em seu nome, realizaram grandes e maravilhosos sinais: profetizaram, expulsaram demônios, fizeram muitos milagres (v. 22). Como é possível falsos profetas realizarem sinais milagrosos?

a) Apostasia. Jesus pode estar descrevendo homens que haviam experimentado a Palavra de Deus e os poderes espirituais depositados na igreja, mas que apostataram (Hb 6.4-6). Sua profissão de fé fora correta, porém superficial; deram ouvidos às mentiras de Satanás, e então se desviaram da fé genuína (1Tm 4.1-2; Lc 8.11-14).Seus sinais foram concedidos pelo verdadeiro Espírito de Deus para proveito de seu povo, mas isso não significa que eles eram de fato ovelhas de Deus. Assim como Saul, foram instrumentos impuros e temporários na obra de Deus (1Sm 10.10-11).

b) Engano carnal. Falsos profetas podem imitar as realizações divinas, de modo que pareçam milagres verdadeiros. O mágico Simão iludia o povo de Samaria com truques de mágica (At 8.9-11); exorcistas tentaram usar o nome de Jesus para expulsar demônios (At 19.13-16); os magos egípcios não conseguiram copiar a terceira praga (Êx 8.7,18-19). Cada um deles fingia ter algum poder sobrenaturalaté ser frustrado.

c) Poder satânico. No intuito de influenciar os homens contra Deus, Satanás pode executar grandes sinais por meio de falsos profetas, seus ministros (2Co 11.13-15). E conforme se aproximam os últimos dias, Satanás agirá de maneira ainda mais aberta com poder, sinais e prodígios, por meio de seus enviados, de maneira a, se possível fosse, enganar os próprios eleitos de Deus (Ap 13.11-14).

d) Permissão divina. Deus pode permitir que Satanás realize coisas impressionantes, como fogo caindo do céu e vento impetuoso, além de incitar latrocínios e enfermidades (Jó 1.12-19; 2.6-7). O próprio apóstolo Paulo foi atingido fisicamente pela atuação satânica, sob permissão de Deus (2Co 12.7-9). Na lei de Moisés, se um profeta tivesse a predição concretizada, mas incitasse o povo à idolatria, isso era sinal de que Deus havia concedido a realização de sua profecia a fim de testar a fidelidade de Israel, diante de um falso profeta (Dt 13.1-5).

5. O que 2Coríntios 12.7-9 nos ensina sobre a permissão de Deus para a atuação de Satanás?

Na verdade, quaisquer manifestações ou atuações malignas contra o povo de Deus serão resultado da combinação entre o pecado humano e a malícia de Satanás, debaixo da soberana vontade do Senhor. Mas isso não isenta a igreja de estar alerta contra essas investidas.

IV. OBSERVEM OS FRUTOS TERRENOS

Em sua pedagogia, o Salvador não apenas avisa seus discípulos contra os falsos profetas, mas também os orienta sobre como discerni-los – e o faz na tão familiar forma de parábola agrícola. Assim como o sentido da analogia da árvore e seus frutos era claro para os ouvintes dos dias de Jesus, ainda hoje é óbvio que não se colhem uvas dos espinheiros, nem figos dos abrolhos;1 percebe-se um contraste proposital no qual frutos muito apreciados são procurados em plantas completamente imprestáveis (v.16-20). A ilustração tem um significado inequívoco, repetido objetivamente no início e no fim: Pelos frutos se conhece uma árvore – e também um profeta.

Apesar de não podermos contemplar o interior do coração de outra pessoa, podemos deduzir o que há em seu interior a partir do que se manifesta do lado de fora (Mt 12.34-35). Com nossa fala, nós expressamos o que há em nosso coração, de maneira que, se temos guardado bons princípios e valores, isso se manifestará quando abrimos nossa boca; a grande questão é que se pode guardar coisas boas ou más (Lc 6.45-46). Más palavras e más atitudes implicam um mau coração.

6. Como podemos relacionar o texto de Mt 12.34-35 aos falsos profetas?

É claro que, no caso dos lobos disfarçados de ovelhas, os frutos serão enganosos. Isso não quer dizer que o princípio bíblico de examinar os frutos seja invalidado pelos falsos profetas. Mas significa que, em alguns casos, será necessário esperar um pouco para ter o real discernimento dos frutos. O apóstolo Paulo orientou os jovens pastores que tutelava a observar o ministério desses homens, para ver se seu ensino produziu fé ou descrença, se sua atuação conduziu a igreja à paz ou à discórdia, se seu exemplo motivou os homens à santificação ou à imitação do mundo, se sua liderança aproximou as pessoas de Deus ou as manteve ligadas a si mesmas – em suma, se edificam ou destroem o rebanho de Deus (1Tm 1.4; 6.4-5; 2Tm 2.23).

Da mesma maneira, Jesus nos ensina a nos perguntarmos que efeitos os ensinamentos desses homens estão produzindo na igreja. Por vezes, a falsidade de um ensino pode não aparecer claramente, a partir de uma análise de seu conteúdo; em algum tempo, os resultados demonstrarão que não eram genuínos servos de Deus.

V. AGUARDEM O JULGAMENTO DIVINO

Falsos profetas têm aparência traiçoeira, fala mentirosa, operam os sinais que podem iludir muito bem e, por vezes, os resultados de seus enganos não se mostram em tempo hábil. Daí a importância dos elementos escatológicos do texto. Primeiramente, há o “fogo” (v.19), pois Jesus promete que a árvore infrutífera será lançada ao fogo, uma expressão que aponta para o julgamento final; o Filho do Homem lançará no fogo todos aqueles que trouxeram escândalo e praticaram iniquidade, colocados à esquerda do Grande Rei (Mt 13.40-42; 25.41-46). Em seguida, a referência “àquele dia” (v. 22): nesse contexto, “o dia” é uma referência bíblica inconfundível ao grande dia do juízo final (Is 2.11-17; Sf 1.7-16; Lc 10.12; 1Ts 5.1-4). É importante lembrar que será também um dia de recompensa para aqueles que fizeram a vontade do Senhor e creram em seu nome (2Tm 4.8). Por fim, o vocativo “Senhor” (v. 22) que, como já dissemos, está indicando mais do que um pronome de tratamento respeitoso, mas a posição exaltada ocupada por Jesus no dia de julgamento.

7. Tomando por base o texto de Mateus 13.40-42, faça o paralelo entre lobos e ovelhas, joio e trigo. Justifique.

Cristo estará exercendo o papel de Juiz supremo, declarando aos incrédulos a sua condenação eterna e aos justificados sua bem-aventurança eterna (Mt 25.31- 33; 2Co 5.10) e seu senhorio será reconhecido por todas as criaturas, inclusive aqueles que nunca se submeteram a ele em vida. Note que eles argumentam diretamente contra ele, e ele “diz explicitamente” (literalmente: “declararei”) que não os conhece, o que sugere que o critério do julgamento é o relacionamento estabelecido com Jesus pela fé (Jo 3.18-19, 36). É por meio de Jesus que Deus julga todos os habitantes da terra.

Sua sentença final sobre os falsos profetas e lobos disfarçados inclui desmascaramento e castigo. Jesus declara que nunca os conheceu (v. 23); isso certamente não significa que Cristo não saiba quem são aqueles homens, já que ele é o Juiz deles, e sabe muito bem quem são, quais seus frutos e até suas motivações. Na Bíblia, o conhecimento do homem por Deus se refere à aprovação divina e comunhão; Deus conhece tudo sobre todos, ainda assim, é o caminho dos justos que ele “conhece”, não o do ímpio (Sl 1.5-6). Cristo não os conhece porque eles “praticam a iniquidade”, isto é, vivem alienados da justiça divina. Essas declarações públicas do Juiz servem para desmascarar o disfarce de ovelha desses lobos, que passaram a vida falando em nome de Deus, mas são obreiros da iniquidade (v. 23).

Por fim, os falsos profetas recebem sua pena, nas duras palavras do Juiz: “Apartai-vos de mim” (v. 23). Nesse contexto escatológico, a ordem para se apartar significa uma terrível sentença de que não terão mais oportunidade de se achegar a Deus nem entrar no céu, preparado para os justos: a porta se fechou, restando apenas a horrorosa existência reservada aos ímpios, de “choro e ranger de dentes” (Lc 13.27-28).

8. O que implica a expressão “choro e ranger de dentes”, de Lucas 13.27-28, para os falsos profetas?

CONCLUSÃO

Jesus alertou à sua igreja para que testasse aqueles que se levantam como profetas, líderes e mestres no seu meio. As aparências enganam, bem como o discurso, mas somente o Espírito de Deus poderá dar frutos espirituais ao ministério de alguém. Se não houver esses frutos, tais líderes devem ser rejeitados pelos discípulos. De todo modo, a confiança dos fiéis reside na confiança nas promessas das Escrituras, de que “naquele dia”, tudo que está encoberto será revelado e julgado pelo Senhor da igreja.

APLICAÇÃO

1) Teste sua capacidade de desmascarar falsos profetas e mestres respondendo a estes ensinos (valem apenas argumentos devidamente fundamentados nas Escrituras):

• “Jesus não é Deus, é uma criatura especial de Deus” (Testemunhas de Jeová).

• “O único batismo que salva é o nosso, porque é realizado para perdoar pecados” (Igreja Internacional de Cristo).

• “Para pertencer ao povo de Deus você precisa guardar o sábado” (Adventistas do sétimo dia).

• “Nós podemos recorrer à intercessão dos santos do passado, porque eles são atendidos por Deus pela sua fidelidade” (Catolicismo Romano).

• “Peça à Mãe que o Filho atende” (Catolicismo Romano).

2) O que você pensaria sobre um pregador que faz sucesso com suas mensagens, mas que provoca divisões nas igrejas por onde passa?

—  Autor do estudo: Alceu Lourenço Jr.
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão, na revista A Vida no Reino – O Sermão do Monte. Usado com permissão.

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2 Comentários para “As aparências enganam”

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