A conversão dramática de Paulo

A conversão dramática de Paulo

Texto Básico: Atos 9.1-31

Texto Devocional: Atos 9.3-9

Versículo-chave: Atos 9.27
“Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus”

Alvo da Lição: O aluno compreenderá a importância de compartilhar com os outros o que Deus tem feito em sua vida, através da salvação em Jesus, tendo como base a vida de Saulo e Tarso.

Leia a Bíblia diariamente
S – At 8.1-13
T – At 8.14-25
Q – At 8.26-40
Q – At 9.1-9
S – At 9.10-19
S – At 9.20-30
D – At 9.31-43

 

Introdução

Talvez este seja o homem mais conhecido como representante do cristianis­mo, além de ser de fundamental importância para a história da igreja. Saulo, seu nome aramaico na comunidade judaica em Jerusalém, e Paulo, a forma romana de seu nome, ecoam nos livros de teologia e também de filosofia. Ele também é o homem que mais escreveu sobre doutrina no Novo Testamento: treze cartas são de sua autoria. Paulo foi o primeiro teólogo da igreja e foi chamado por alguns de seu segundo fundador.

Era natural de Tarso, uma importante cidade da Cilícia, e era cidadão romano, título que herdou de seu pai ou de algum parente que prestou serviços ao império e como recompensa ganhou a cidadania.

Sua educação preliminar foi doméstica tendo seu pai como tutor. Em Filipen­ses 3.5, Paulo nos mostra credenciais de quem mantém em dia sua ligação com a família: circuncidado no oitavo dia, israelita da tribo de Benjamim, hebreu nascido de hebreus. Com aproximadamente seis anos, Paulo foi à escola da sinagoga para ser educado na Torá e no hebraico. De acordo com Atos 22.3, foi educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel. Este era um rabino moderado (At 5.34-39). Em­bora Paulo não o mencione em suas cartas, seu estilo reflete o método rabínico de pensar.

Alguns acreditam que Atos 26.10 tem implícito que Paulo foi membro do Siné­drio. Fariseu, foi perseguidor fanático da igreja, antes de sua conversão.

I. Saulo, o perseguidor dos crentes (At 8.1; 9.1-2)

Atos 8 traz a história posterior à morte de Estêvão, consentida por Saulo de Tarso. Alguns estudiosos afirmam que a expressão “Saulo consentia em sua morte” significava que dera o seu voto no Sinédrio para a execução de Estêvão. Mas é no ver­sículo 3 desse mesmo capítulo que vemos a ferocidade de Paulo como perseguidor. “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere.” Alguns comentaristas nos explicam que o verbo “assolava”, em grego, nesse versículo pode ser traduzido como destruição e não tem paralelos no Novo Testamento. No Antigo Testamento, o equivalente usado descreve a destruição que um animal selvagem podia causar a uma planta ou a outro ser. Ele realmente era algoz e tinha um sentimento de ódio no coração em relação aos cristãos. Em suas próprias palavras, em Atos 26.11, ele diz que estava demasiadamente enfurecido.

Depois desse parágrafo, encontramos Saulo em Atos capítulo 9. O versículo registra: “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos”. A palavra ainda liga os acontecimentos desse trecho com os descritos anteriormente, ou seja, a morte de Estêvão (At 7) e a expulsão de cristãos de Jerusalém. Não se contentando em atuar na área sob domínio do Sinédrio, Saulo vai até o sumo sacerdote e pede recomendações para conseguir apoio das sinagogas de Damasco, região sob domínio de um outro povo (Nabateus), para perseguir cristãos fora de Jerusalém.

II. Saulo e Jesus, a conversão na estrada (At 9.3-9)

Foi a caminho para praticar mais um de seus atos perseguidores que Saulo encontrou Jesus de forma singular e definitiva. Quase no fim de sua viagem de 240 km, ele viu e ouviu o Senhor Jesus ressurreto. Posteriormente, esse fato foi muito im­portante para conferir autoridade apostólica a Paulo. A pergunta feita ao perseguidor lhe mostrou quanto o Senhor prezava, amava e era unido com a Sua igreja. Ele não perguntou por que Paulo perseguia a igreja, mas sim porque O perseguia.

Saulo não sabia quem estava falando com ele. Então, ouviu o Senhor responder: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9.5).

Após a resposta, o novo convertido foi instruído quanto ao que fazer. Todos à sua volta ouviam a voz, mas não viram ninguém. Além disso, ouviram o som, mas não compreenderam o que a voz havia dito. Levantando-se do chão, Paulo estava cego. Ele deveria seguir viagem, levado por outros para a cidade, onde aguardaria a pessoa que lhe diria o que lhe convinha fazer (At 9.6).

1. A experiência de Saulo foi marcante: um ponto entre dois extremos

De perseguidor passou a apóstolo, de odiento à causa de Cristo se tornou um dos mais apaixonados discípulos de Jesus.

2. A experiência de Saulo foi pessoal

Somente Saulo entendeu completamente o que estava acontecendo. Ele viu e ouviu o que Jesus lhe pedira e Lhe obedeceu imediatamente, mesmo que ainda não estivesse compreendendo exatamente o que estava acontecendo. Note que a obediência de Saulo foi completa porque, primeiramente, foi sua resposta a alguém que até então ele não cria ser o “Messias”; em segundo lugar, porque aquela ordem mudou o curso de seus planos imediatamente; e em terceiro porque teria de confiar em um desconhecido. Tais atitudes seriam impensadas para um personagem com o currículo de Saulo, mas mostraram sua fé e obediência em ação.

3. A experiência de Saulo foi uma demonstração da graça de Deus

Calvino fala que a graça de Deus é vista não apenas em um lobo tão cruel sendo transformado em ovelha, mas também em ele assumir o caráter de um pastor. O próprio Paulo reconhece isso em seus escritos. Basta observar a linguagem que usa para descrever sua conversão. Em Gálatas 1.15-16, ele diz “aprouve [a Deus] revelar seu Filho a mim”, e em 1Coríntios 15.10 – “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo”. Você poderá encontrar um exemplar de versículo como este em quase todas as cartas de Paulo. Essa consciência impulsionava Paulo sempre na dependência Daquele que o salvara e o chamara ao ministério e que deve nos impulsionar na mesma direção.

III. Paulo e Ananias – a recepção na igreja (At 9.10-25)

A recepção de Paulo na igreja foi um pouco diferente. Ele jejuou, orou e esperou por três dias antes que obtivesse alguma explicação para tudo aquilo que aconteceu com ele. Essa atitude de Paulo mostra sua rápida transformação. Claro que, como fariseu, orava e jejuava, mas agora era diferente. Esperou calmamente que o Senhor lhe enviasse uma resposta e, enquanto isso, apenas jejuou e orou. Como diz Stott, “o rugido do leão foi transformado em balido de cordeiro”. Seu relacionamento com Deus foi transformado.

1. O diálogo com Ananias

Enquanto Paulo esperava jejuando e orando, o Senhor tinha um diálogo muito interessante com Ananias, um membro mais velho da igreja de Jesus naquele lugar. Ao receber a ordem de orar por Saulo, Ananias respondeu ao Senhor que Saulo era um homem muito perigoso e demonstrou certo medo a Deus. Mas a resposta do So­berano foi reveladora. Ananias recebeu a revelação de que Saulo se tornaria apóstolo aos gentios e aos seus reis, como de fato foi. O próprio livro de Atos nos mostra isso. Além de ser o apóstolo dos incircuncisos (Rm 11.13; Gl 2.2, 7-8; Ef 3.8), foi teste­munha perante o governador Felix e sua esposa, Drusila (At 24.24), o rei Herodes Agripa II, além de comparecer perante César. Após essa palavra, Ananias se encheu de coragem e foi ao encontro do novo convertido. Em Ananias, Saulo encontrou uma resposta para seu problema de cegueira, recebeu oração, ficou cheio do Espírito Santo, foi batizado e, finalmente, se alimentou. Ananias foi o primeiro a reconhecer o perseguidor como cristão e quando foi orar por ele o chamou de “Saulo, meu irmão”.

2. Seu relacionamento com a igreja

Deste ponto em diante, ocorreu a Saulo a maior mudança de toda sua vida – em relação à igreja. Assim que se sentiu fortalecido com a acolhida de Judas e Ananias, Saulo saiu pregando na cidade, causando espanto e confusão em todos os judeus, e passou a ser perseguido. Alguns deles tramaram a morte de Saulo, que saiu fugido em um cesto pela muralha da cidade. A igreja a qual odiara passou a ser objeto de um amor apaixonado e contagiante. Saulo também mudou seu relacionamento com os judeus. Em vez de concordar com eles sobre o Messias, passou a demonstrar que Jesus era o Cristo que eles ainda esperavam. Ia até as sinagogas para persuadir seus compatriotas da verdade que tinha experimentado a caminho de Damasco. Antes foi aos judeus para pedir autorização para matar os cristãos, depois foi aos judeus para que eles morressem para a sua incredulidade e nascessem como cristãos.

Aplicação

Não existe conversão genuína em que não haja mudanças de comportamento e de relacionamento para com Deus, com a igreja e com o mundo. Ensinemos essa verdade tão importante e tão ausente nas pregações evangélicas de hoje.

IV. Saulo e Barnabé a apresentação aos apóstolos em Jerusalém (At 9.26-31)

A mesma dificuldade enfrentada por Ananias quando teve de encontrar Saulo foi também enfrentada pelos irmãos em Jerusalém quando o novo convertido vol­tou para lá. Novamente, Deus providenciou um homem que se dispôs a acreditar em sua conversão genuína e o apresentou aos irmãos. Temos de lembrar que entre sua conversão em Damasco e sua chegada em Jerusalém há um período de três anos que Paulo passou na Arábia. Alguns entendem que ele buscou isolar-se para buscar a Deus, entendê-Lo melhor e estudar. Outros comentaristas afirmam que esses três anos compensaram os três anos que ele não passou com o Senhor Jesus, assim como os outros apóstolos. Enfim, voltou de lá para ser recebido em Jerusalém.

O papel de Barnabé foi muito importante nesse processo. Ele foi a carta de apresentação de Paulo aos líderes da igreja que acolheu o novo convertido. Uma vez acomodado na igreja, Paulo mostrou o mesmo espírito corajoso e saiu às ruas para testemunhar. Então, o que aconteceu em Damasco se repetiu em Jerusalém. Ele foi perseguido, e os apóstolos o mandaram secretamente para outro lugar.

Aplicação

Precisamos de Ananias e Barnabés na igreja de hoje. Pessoas que ensinam a igreja a receber os novos adeptos que vêm de contextos diferentes. Devemos prestar atenção nisso! Não é somente o novo convertido que vem unir-se a igreja, mas também a igreja deve demonstrar-se receptiva ao novo convertido.

Conclusão

Em seu comentário, Stott assinala algumas características do testemunho de Paulo que devemos desenvolver em nossa vida e também ensinar àqueles que chegam ao evangelho sob nossos cuidados.

1. Era cristocêntrico

Sua mensagem era centrada em mostrar o Cristo e Sua graça salvadora. A ênfase não era ele mesmo ou sua própria experiência.

2. Era no poder do Espírito Santo

Sem Ele é impossível cumprir a grande comissão, pois Ele é a grande condição para isso.

3. Era corajoso

Lucas menciona que sua pregação era ousada: não tinha medo nem das privações nem das perseguições que poderia sofrer.

4. Custou caro

Paulo pagou com sofrimento seu desvelo pela pregação do evangelho. Várias vezes fugiu, foi apedrejado e preso. No entanto, quanto mais oposição, mais testemunho fluía da vida desse nosso irmão.

A conversão de Saulo nos ensina muitas lições que podemos resumir aqui:

  • devemos orar pelos irmãos que são perseguidos;
  • testemunhar é um dever que mostra nossa temperatura espiritual;
  • vivenciar a conversão genuína implica necessariamente mudança.

Devemos imitar Ananias e Barnabé, e nos empenhar para receber bem os novos convertidos que chegam à igreja.

>> Autor do Estudo: Pr. André de Souza Lima

>> Publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica, usado com permissão.

Print Friendly, PDF & Email

Tags: , ,

17 Comentários para “A conversão dramática de Paulo”

    Error thrown

    Call to undefined function ereg()