Talvez você não saiba: o ânimo é uma de suas maiores riquezas. Sem ânimo, você não levanta o pé, não levanta a mão, não levanta a cabeça. Sem ânimo, você não se alegra. Sem ânimo, você não vive.

O ânimo tem muito que ver com Deus. É uma energia que se extrai da comunhão com Deus, que se armazena e que se gasta. Quando o gasto é maior, por causa de circunstâncias especiais, as reservas de ânimo se acabam e você fica numa situação delicadíssima. Daí a arte não da animação, mas da reanimação. A prática constante da reanimação é a arte de recuperar o ânimo enfraquecido ou perdido, por meio de um esforço especial na presença de Deus, logo depois de uma significativa quebra de disposição provocada por qualquer situação de ordem interna ou externa.

Seja realista. Há muitas coisas que agridem o seu ânimo, todos os dias. A começar com a canseira do corpo, com a repetição do mal, com a eterna mesmice das coisas, com as dificuldades no relacionamento doméstico, com o sufoco da falta de dinheiro, com a concorrência dos mais fortes, com o desprezo dos soberbos, com a dor das perdas, com as ameaças dos que detêm o poder, com a selvageria deste mundo cão, com a propaganda do absurdo, com a fragilidade da saúde e com a exposição sistemática daquilo que é hediondo. Você ainda está no deserto e, não, em Canaã. Você ainda é um cordeiro no meio de lobos. O pecado ainda habita em você e ao seu redor, e quer dominá-lo. Você ainda é parcialmente medroso, parcialmente tímido, parcialmente incapaz. Você ainda está dentro de um corpo que precisa de água, comida, sono e descanso. Daí a imperiosa necessidade da reanimação, vez após vez.

Em certa ocasião, um dos mais atraentes personagens da história sagrada passou por vários reveses. A cidade onde Davi e outros 600 homens e suas famílias viviam foi incendiada. As esposas e os filhos foram levados cativos por seus inimigos. Todos choraram até não mais poder. Alguns ficaram insatisfeitos com a liderança de Davi e chegaram a pensar em apedrejar o seu chefe. Foi no meio dessa trapalhada toda que “Davi se reanimou no Senhor” (1Sm 30.6).

Para tomar qualquer providência, para agir com acerto e coragem, e até para começar a movimentar-se depois daquela tragédia, Davi precisou recobrar seu velho ânimo. Sem ânimo, ele não saberia o que fazer nem como fazer. O expediente deu certo. Uma vez reanimado, Davi perseguiu e derrotou os amalequitas e trouxe de volta o despojo, as mulheres e as crianças.

Algum tempo antes, frente aos problemas gerados pela insegurança de Saul, Jônatas havia fortalecido a confiança de Davi em Deus (1Sm 23.16). A esta altura foi Davi mesmo quem procurou reanimar-se no Senhor.

Você já observou quantas vezes Jesus apela para a reanimação? Ao paralítico de Cafarnaum (Mt 9.2) e à mulher hemorrágica (Mt 9.22), Ele ordenou: “Tem bom ânimo”. Aos discípulos no mar da Galileia (Mt 14.27) ou no cenáculo de Jerusalém (Jo 16.33), Jesus repetiu: “Tende bom ânimo”. E a Paulo, quando o apóstolo estava preso numa fortaleza em Jerusalém, “o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem!” (At 23.11).

Não abra mão do ânimo. Se ele estiver em baixa, trate de renová-lo. Se ele tiver acabado, busque-o outra vez. Não cometa suicídio emocional. Apegue-se à prática diária da reanimação.

O segredo da reanimação repousa na expressão “no Senhor”. Lembre que Davi se reanimou no Senhor e deu certo. Abra o Salmo 37 e veja lá estas expressões: “Confia no Senhor” (verso 3), “Descansa no Senhor” (verso 7) e “Espera no Senhor” (verso 34). São as mesmas palavras que Paulo usa na Epístola aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor”(verso 4).

Dirija suas súplicas de reanimação a Deus. Fale abertamente de sua necessidade de reanimação. Peça sem timidez alguma: “Anima-me!”, “Fortalece-me!”, “Livra-me do desânimo”, “Dá-me outra vez o ânimo de outrora” ou “Pastoreia-me!”. Pratique o derrame de queixas e preocupações na presença de Deus. Esse desabafo espiritual esvazia sua alma de temores e abre espaço para o ânimo. Você fica cheio não de medos, mas de ânimo.

Então você dirá sem vaidade alguma: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13), durante todo o Ano Novo. Deus o abençoe!

Texto originalmente publicado na edição 256 de Ultimato.

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