Pois nesses dias os judeus livraram-se dos seus inimigos, e nesse mês a sua tristeza tornou-se em alegria, e o seu pranto, num dia de festa. (Ester 9:22a)

Costuma-se dizer que o nome de Deus não aparece no livro de Ester. Na verdade, em dois outros livros do Velho Testamento — Cântico dos Cânticos e Obadias — ocorre o mesmo.

A presença de Deus é mais importante que a simples menção de seu nome. Deus está presente na história do povo judeu no livro que leva o nome de uma plebéia estrangeira que se tornou esposa do rei Assuero, cujo império tinha 127 províncias, que se estendiam da Índia, no extremo sul da Ásia, à Etiópia, ao norte da África.

Há um detalhe muito significativo no primeiro versículo do capítulo três de Ester: “Depois destas coisas, o rei Assuero engrandeceu a Hamã e o exaltou e lhe pôs o trono acima de todos os príncipes que estavam com ele”. O texto diz que Assuero engrandeceu a Hamã depois de ter engrandecido a Ester, fazendo-a rainha e dando-lhe uma coroa, apesar de sua condição humilde (a moça era uma exilada que perdera os pais na infância e fora criada pelo primo Mordecai), não obstante ser muito formosa. Embora os dois livros anteriores — Esdras e Neemias — falem muito sobre casamentos mistos, de judeus com não-judeus, tem-se como providencial o casamento da jovem judia com o monarca gentio. Era Deus agindo soberanamente. Além de casar-se com Ester, Assuero a amou “mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens” (Et 2.17). Estava, então, muito bem montada a providência por meio da qual Deus iria resguardar o seu povo de uma tragédia coletiva pior do que o Holocausto imposto pelo nazismo durante a Segunda Grande Guerra.

Porque o primo de Ester não se inclinava nem se prostrava diante do vaidoso Hamã, este bolou o plano de mandar matar de vez todos os judeus, moços e velhos, crianças e mulheres, e de lhes saquear os bens, em todas as 127 províncias do vasto império, em um único dia, sob a alegação de que eles tinham leis diferentes das leis de todos os povos (Et 3.13). Convencido pelo astuto Hamã, Assuero deu o seu aval e ainda lhe emprestou o seu anel-sinete, no qual havia gravações em alto-relevo para carimbar documentos oficiais (Et 3.10).

O plano diabólico de Hamã daria certo se antes Deus não tivesse colocado uma judia ao lado do rei. Graças à corajosa e inteligente atuação da rainha Ester, o projeto fracassou e os milhares de judeus espalhados pelo império medo-persa foram poupados, apesar do decreto real e de todas as medidas tomadas.

O Deus cujo nome não aparece em Ester é um Deus providente, que age antes dos homens e antes da história. Acreditar neste Deus traz segurança, seja qual for a circunstância contrária. A própria salvação do homem, por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo, foi elaborada antes da queda do gênero humano, antes mesmo da fundação do mundo, embora manifesta muito depois (1 Pe 1.17-21).

Texto originalmente publicado na edição 265 de Ultimato.

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