O Novo Dicionário Aurélio diz que vida é “o espaço de tempo que decorre desde o nascimento até a morte”. O recém-lançado Dicionário de Psicologia Dorsch afirma o mesmo: o curso da vida é “o caminho entre nascimento e morte”.

A vida é só isso?

Essas definições são seculares, mesquinhas e pessimistas. Sob o ponto de vista religioso, esse não é o verdadeiro sentido da palavra vida. À luz do cristianismo, então, vida é assombrosa e infinitamente mais que o miserável período de tempo espremido entre as dores do parto e as dores do enterro. A vida não começa no nascimento nem termina na morte. A vida se inicia no momento da concepção, quando o espermatozóide fecunda o óvulo, e não nove meses depois, no ato de dar à luz. E continua depois da morte, pelos séculos dos séculos, através de “eras que tombam sobre eras numa eterna sucessão”.

Fases da vida

Se a vida não começa no nascimento nem termina na morte, logicamente ela pode ser dividida em três fases.

A vida uterina vai da concepção ao parto. É a única que tem duração certa: nove meses. A princípio, o que existe é apenas um minúsculo embrião, ou “uma substância ainda informe”, que vai sendo entretecido “de modo especial e admirável” até completar-se e poder dispensar o ventre materno (Sl 139.13-18).

A vida presente vai do nascimento à morte. Não tem duração certa. Varia de tempos em tempos. No início do século 20, o brasileiro vivia em média 37 anos. Hoje, cem anos depois, vive 68 anos e meio. Varia de país para país. Atualmente a mais alta expectativa de vida está no Canadá (78,7 anos) e a mais baixa, em Serra Leoa (39). Varia também de pessoa para pessoa. A francesa Marie Bremont morreu em junho com a idade de 115 anos. Na mesma ocasião, morreu o americano Timothy McVeigh, com 33 anos. A morte física é “a cessação definitiva de todos os atos cujo conjunto constitui a vida dos seres organizados”. Depois da morte, a vida presente se extingue e o corpo humano é irremediavelmente reduzido à inércia, ao enrijecimento, à putrefação, ao esqueleto, ao pó, à desintegração total, à inexistência (Ec 12.6-8).

A vida futura vai da morte à eternidade. É de duração eterna. A essa fase da vida, Paulo se refere quando explica: “Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, não construída por mãos humanas” (2 Co 5.1). A vida futura será, para os que estão vivos hoje, uma experiência absolutamente nova, ligeiramente parecida com o parto.

Fases da vida presente

Carl Jung divide o curso da vida presente em duas metades. A primeira metade vai do nascimento aos 40 anos. A segunda metade começa aos 40 e termina com a morte física. Na primeira, dá-se o desenvolvimento do eu. Na segunda, o desenvolvimento de si mesmo (a última instância do processo de individualização).

O Dicionário de Psicologia Dorsch (Editora Vozes, 2001) enumera as seguintes fases-etapas do desenvolvimento da vida presente: recém-nascido (até 2 semanas), lactente (até 9 meses), bebê (até 2 anos), criança pequena (de 2 a 6 anos), criança (de 6 a 12 anos), jovem (de 12 a 20 anos), crescido (de 18 a 21 anos), adulto (de 18 anos em diante), maduro (de 21 a 60 anos), idoso (de 60 a 65 anos), velho (de 65 a 75 anos) e ancião (de 75 anos à morte).

A divisão menos detalhada da vida presente é: infância, meninice, adolescência, juventude, idade adulta, pré-velhice (de 60 a 75 anos), velhice (após 75 anos) e longevidade (após os 85 anos).

Entre a idade adulta e o início da velhice está o período de transição (de 40 a 60 anos).

Cada fase prepara a fase seguinte, como se deu na passagem da vida uterina para a vida presente (por meio do parto) e como se dará na passagem da vida presente para a vida futura (por meio da morte). O certo, aconselha o professor Aquilino de Pedro Hernández, é assumir cada período “em sua peculiar riqueza e em seus limites, sem se agarrar ao passado, que produz uma distorção esterilizante”.

Fases da vida futura

Chama-se de estado intermediário aquele período situado entre a morte e a ressurreição do corpo. Não há dia certo para morrer, mas há dia certo para ressuscitar. A morte é individual, mas a ressurreição é coletiva. Embora não se saiba muito sobre o assunto, as Escrituras nos dão a certeza de que, nesse estado, estaremos conscientes. Moisés e Elias apareceram no monte da transfiguração e conversavam com Jesus a respeito de sua partida, que Ele estava para cumprir em Jerusalém (Lc 9.30-31). Na parábola, ou história, do rico e Lázaro (Lc 16.19-31), ambos, depois de mortos, tinham conhecimento de suas tragédias (caso do rico) ou de suas bem-aventuranças (caso de Lázaro). Paulo estava convicto de que, depois de morto e antes da ressurreição do corpo, estaria com Cristo, “o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23).

Chama-se de estado eterno aquela situação posterior à ressurreição do corpo, tanto dos justos como dos ímpios, tanto dos salvos como dos perdidos, tanto dos bons como dos maus (Dn 12.2; Jo 5.28, 29). Para uns, será de vida eterna; para outros, de morte eterna. Esse estado definitivo será de glória total para os justos, e de vergonha eterna para os ímpios.

Vamos todos morrer

Ivo Pitanguy, cirurgião plástico: “Vou dizer obviedade: não sou eterno. Antes, coitadinho de mim, eu achava que minha vida duraria para sempre.”

Fidel Castro, presidente de Cuba: “Eu sei que vou morrer, por mais que me cuide”.

Oscar Niemeyer, o maior arquiteto do século 20, aos 93 anos: “Um dia vou ter que morrer”.

Raúl Castro, ministro das Forças Armadas de Cuba: “A eternidade não é possível”.

Arthur Clarke, escritor de ficção científica: “É óbvio que, aos 78 anos, eu tenho pensado mais na morte do que antes”.

Vamos todos ressuscitar

Benedita da Silva, vice-governadora do Estado do Rio de Janeiro: “Como cristãos, temos certeza da vida após a morte”.

Dom Marcos Barbosa, da Academia Brasileira de Letras: “Quando ocorrer, na segunda vinda de Cristo, a ressurreição da carne, que é um dos artigos do nosso credo, ainda que nada reste em nós senão a alma, serão nossos os corpos que nos forem dados, daí em diante gloriosos, como o de Cristo ressuscitado, e não mais sujeitos à doença e à morte”.

C. A. Coulson, cientista: “Estou seguro de que a vida deve continuar (depois da morte). Em que me apóio? Em primeiro lugar, na palavra de Cristo. Antes do cristianismo, as pessoas andavam às apalpadelas, à procura de uma crença na outra vida. Mas com Cristo o assunto mudou de figura.”

Pedro Wilson, político: “Não somos cristãos da sexta-feira, somos cristãos do domingo da ressurreição. Sem a ressurreição, para nós, cristãos, não haveria fé.”

Maurílio Nogueira da Silva, professor de política educacional na Universidade Federal de Juiz de Fora, membro do Partido Comunista do Brasil, recém-convertido ao cristianismo: “Comungo com a crença de que após a morte biológica ressuscitaremos em nossa totalidade ou unidade, como corpo-espírito. A morte biológica não é a aniquilação da matéria, reduzindo-a ao nada, como o afirmam equivocadamente os materialistas vulgares. Com a morte, a matéria sofre mais uma de suas metamorfoses, certamente a mais radical, mas não se acaba.

Texto originalmente publicado na edição 272 de Ultimato.

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