— E o que vocês fazem nos finais de semana? — perguntei ao jovem casal.
— Vamos à casa de nossos pais almoçar e passamos a tarde lá! Um domingo na casa de cada pai.

Aparentemente isso é muito bom — apenas aparentemente. Uma das questões com as quais frequentemente nos deparamos em nosso consultório é que muitas pessoas, principalmente os jovens, têm pouca ou nenhuma amizade profunda. É comum os jovens falarem que têm muitos amigos, mas verifico que a maioria destes são virtuais, se encontram nas redes sociais.Onde estão os amigos que frequentam a casa um do outro? Aqueles com os quais se pode ter conversas significativas?Atualmente veicula um comercial de bebida que compara a diversão de beber em casa com aquela em um bar. Ele induz o espectador à conclusão de que estar em um bar é muito melhor que ficar em casa. Esta é uma manobra de propaganda consumista, pois fora de casa as pessoas consomem mais do que em casa. Segundo esta lógica, para o capitalismo consumista é melhor não estabelecer amizades profundas, pois fazem mal à economia.

No Salmo 133.1 lemos: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”. Pergunto-me: como será possível “viver em união” com alguém que encontro em bares? Alguém cuja casa não frequento? Ou mesmo, será que o contato rápido que temos após a celebração religiosa em nossas igrejas é suficiente para produzir uma amizade verdadeira?

As famílias estão cada vez menores e mais isoladas. O casal trabalha a semana inteira, fica horas fora de casa e, nos finais de semana, não tem disposição para desenvolver amizades para si e para os filhos. Correm para o “refúgio da casa dos avós”, que com alegria recebem filhos e netos, mas que mal sabem o dano que podem causar a longo prazo. Exceções acontecem quando a família sai para passear e gastar nos shopping centers e, se sobrar energia, ir à igreja.

Todo relacionamento profundo e significativo demanda tempo, disposição e franqueza. É necessário tempo para conhecer quais valores o amigo preza e disposição para abrir a minha casa. Muitos escolhem ficar com os amigos virtuais, pois quando não há “olho no olho” é fácil esconder as caracteristícas que não são tão bonitas em nós e no outro, como ocorre nos “chats” e redes sociais. Não são pessoas reais, mas personagens criados.

Quando abrimos nossa casa para os amigos estamos criando várias possibilidades para os nossos filhos.Damos a eles a oportunidade de desenvolver amizades com os filhos de pessoas que conhecemos, que têm valores semelhantes aos nossos e com as quais sabemos que nossos filhos estarão seguros. Por isso é tão importante desenvolvermos amizades que vão além daquelas virtuais.

Quando tenho preguiça em desenvolver relacionamentos verdadeiros “abro a porta” para que meu filho busque as amizades que puder encontrar por conta própria, e estas nem sempre serão boas. Lembro-me de um casal de minha igreja quando convidei a filha deles de 6 anos para vir à minha casa brincar com minha filha, na época com a mesma idade. Disse-me que achava muito trabalhoso levar a menina lá em casa, pois ela poderia muito bem brincar com as crianças de seu condomínio. Infelizmente esta moça hoje encontra-se fora da igreja. Provavelmente a falta de amigos cristãos não foi a única responsável pelo distanciamento, mas pode ter contribuído para que ela não desenvolvesse um sentido de pertencimento à igreja local.

É necessário ter coragem para desenvolver padrões de vida diferentes dos que a sociedade quer nos impor. Fazer boas amizades pode ser custoso, mas as recompensas são grandes. É bom ter uma família extensa que podemos visitar nos finais de semana. Porém, é preciso mais que isso. Nos encontros de casais que costumamos dar, falamos, brincando, que Deus foi muito sábio ao estabelecer quatro finais de semana no mês: um para visitar os avós maternos; um para visitar os avós paternos; um para convidar/visitar os amigos e um para se curtir como família nuclear! Que Deus nos dê sabedoria neste equilíbrio e ousadia na busca de amizades verdadeiras.

Artigo publicado na edição 332 da revista Ultimato

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