Estamos nos aproximando da semana santa. É interessante perceber que no nosso calendário, entre a sexta-feira da Paixão e o domingo de Páscoa, existe um dia sem nome. Sábado sem predicados. Phillip Yancey foi quem me chamou a atenção para a existência desse dia que todos evitam comentar. Decidi ver isso mais detalhadamente.

Corri para a Bíblia. Pensei: lá devo encontrar algo sobre o sábado sem-nome. Abri em Mateus. Não havia praticamente nada, a não ser que os principais sacerdotes e os fariseus procuraram Pilatos pedindo segurança para o sepulcro. Criam que os discípulos poderiam roubar o corpo espalhando a notícia que Jesus havia ressuscitado. “Ide e guardai o sepulcro como bem vos parecer” (Mt 27.65).

Rapidamente passei as últimas páginas de Marcos. No capítulo15, verso 47, encontrei Maria Madalena e Maria, mãe de José, ainda na sexta-feira, com os olhos parados sob o túmulo. O verso subsequente, 16.1, dizia assim: “Passado o sábado…”. Marcos também se cala. O sábado já era passado.

Lucas… Lucas… Lá certamente vou achar algo, porque Lucas é mais detalhista. Abri no capítulo 23, versos 54 a 56 e li: “Era o dia da preparação e começava o sábado. As mulheres que tinham vindo na Galiléia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E no sábado, descansaram, segundo o mandamento”. Não havia praticamente nenhuma informação, a não ser que fizeram o que se fazia no dia do descanso, segundo a religião judaica.

Só me restava verificar João. Vigorosamente fui ao encontro dele. Havia ali apenas o relato que o sepultamento de Jesus teve que ser rápido e às pressas por causa da “preparação dos judeus” (19.42). O sol estava para se pôr e, então, começaria o sábado judaico, no qual nenhum serviço poderia ser feito. Depois de dizer isto, João se cala e abre o próximo versículo falando do primeiro dia da semana, o domingo.

O sábado é silencioso. Nele paira o fracasso, o sentimento de incapacidade, predomina a dor e a saudade, o vazio existencial, o vácuo na alma. Nele, Deus se cala. No sábado, a graça está trancafiada num túmulo, morta sobre uma pedra fria. Quem vive é a lei, manifestando seu poder através do cumprimento ritualístico do descanso sabático.

Quem escreveu sobre o sábado foram os humanistas que anunciaram a si mesmos como “super-homens”. Proclamaram: “Deus está morto! Continua morto! E fomos nós que o matamos…” A morte de Deus foi entendida por eles como a exaltação do homem acima de si mesmo. Entendiam que no sábado, o homem enterrou a Deus e tomou as rédeas da história em suas mãos. É no sábado que os inimigos de Deus se levantam e festejam a suposta vitória.

De certa maneira vivemos o dia sem nome. Embora saibamos, cremos e pregamos que Cristo morreu e ressuscitou, vivemos um tempo entre “o já e o ainda não”. O reino de Deus já chegou entre nós, mas ainda não na sua plenitude. Segundo Yancey, “a história humana prossegue entre o período da promessa e do cumprimento”. Por isso ainda sofremos com os sons dos tiros nas favelas, com os assaltos relâmpago nas ruas das grandes cidades, com a fome que cresce e assola os mais pobres, com a exploração sexual de menores, com a violência das guerras que ceifam vidas inocentes, com o desemprego, com a miséria que desfigura e desmoraliza, com os refugiados que em sua triste fuga não encontram braços que os acolham.

Mas, há uma promessa e nela devemos nos apegar. O cristianismo é a religião da esperança porque o túmulo no domingo se encontrava vazio. Jamais poderemos nos esquecer de que o sábado está findando e o domingo está às portas. O reino de Deus já presente e com seus sinais, virá com toda a sua força, vigor e beleza. Por isso não podemos nos deixar abater. Ao contrário. Devemos viver e proclamar a Esperança de que Jesus vive, reina e voltará.

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