Por Felipe Fulanetto*

Eu sou fascinado por filmes, principalmente drama e ação. Tenho minha própria coleção de filmes em casa com os melhores títulos, aqueles que nos fazem refletir após longas horas de atração. Mas uma das coisas mais interessantes na escolha de filmes é que buscamos saber o elenco que os compõe e, principalmente, os atores principais para, então, decidirmos se começamos a assistir ou não.

Os protagonistas, sim, são estes que chamam atenção e fazem todos delirar e querer autógrafo e selfies no meio da multidão. São eles que levam os créditos pelo sucesso de toda a equipe; são os que ganham títulos e honrarias. No entanto, no reino de Deus, quem é o protagonista? Quem são os heróis?

Quando olhamos para Atos 10 na conversão de Cornélio, o protagonista não é o próprio centurião, muito menos os anjos ou ainda Pedro, mas definitivamente é o próprio Deus que está agindo para salvar uma família inteira. E todos envolvidos nessa história são apenas coadjuvantes, secundários, ajudantes do grande Protagonista da cena. Em contrapartida, no mundo real, nós gostamos de criar ícones gospel, desde pastores e músicos até missionários.

É bem verdade que precisamos de modelos na fé para inspirar a nova geração e conclamar como Paulo disse “sedes meus imitadores como sou de Cristo” (1 Co 11:1), mas estou convencido que temos valorizado demasiadamente pessoas famosas, os figurões dos congressos, e esquecido dos anônimos. São estes que não tem seus nomes escritos no cronograma de eventos, não tem suas biográficas publicadas, não são convidados para podcasts ou possuem canais de Youtube com milhares e milhões de inscritos.

Quando terminei meu período missionário no Peru, recebi uma honraria por ter plantado uma igreja entre o povo Chachani. No entanto, o que poucos sabiam é que durante mais de dois anos uma missionária norte-americana chamada Kindra, que mal falava espanhol, evangelizou crianças e adultos sem aparente sucesso em conversões, mas ela arou a terra para o que Deus iria fazer. São estes anônimos que não recebem títulos, mas fazem toda a diferença no reino de Deus. Como os anônimos de Antioquia, que plantaram a igreja missionária onde foram chamados primeiramente cristãos (Atos 11); como a escrava de Naamã, que sem ela não haveria milagre (2 Reis 5); como a mãe de Rufo, que cuidou de Paulo como se fosse sua mãe (Romanos 16:13); como Jasom, que hospedou os apóstolos na cidade Tessalônica (Atos 17); entre outros.

O livro de Atos termina sem conclusão porque demonstra que quem está escrevendo a história é o Senhor, através de milhares e milhares de anônimos que tem pago o preço, colocado suas vidas em risco e alcançado os perdidos. Que o Senhor nos ajude a sermos seus coadjuvantes, sem buscar a glória e prestigio humano, mas almejar a glória daquele que nos arregimentou, vencendo o tentador desafio que o pastor queniano Mutua Mahiaini disse em referência a João Batista e Jesus: “A escolha que eu tenho todo o tempo é se eu vou ser um nome ou ter uma voz”.

 

* Felipe Fulanetto é pastor e missionário pela Igreja do Nazareno, serviu no Peru e Paraguai com plantação e revitalização de igrejas. Atualmente pastoreia uma igreja em Campinas (SP). É também pesquisador missionário da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB), coopera no Movimento VOCARE e no Centro de Reflexão Missiológica Martureo. Organizador e coautor do e-book Vocação e Juventude, publicado pela editora Ultimato, e autor do livro Artigos de Fé na Ótica Missional, publicado pela Sal Cultural.

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