Valdir Steuernagel é atualmente o colunista mais antigo da revista Ultimato, responsável pela seção Redescobrindo a Palavra de Deus. Pastor luterano, Valdir tem mestrado e PhD da Lutheran School of Theology em Chicago, EUA.

Ele já exerceu ministério junto a diferentes comunidades luteranas, a Aliança Bíblica Universitária e a Visão Mundial Internacional. É  assessor sênior do Movimento de Lausanne e Embaixador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira. Valdir tem obras publicadas em português, espanhol e inglês, com ênfase especial na área da missão da igreja.

Com tanto já vivido, ele afirma que “envelhecer é custoso e dolorido, mas pode ser vivido com graça”. Diz também que seu medo em relação ao meio evangélico brasileiro é o de que “estejamos nos encantando com o nosso tamanho e nossa influência, nos deixando seduzir pela tentação do poder e do dinheiro”.

Confira essas e outras respostas de Valdir na entrevista do “Na Varanda com o Autor”:

Alguma pessoa ou livro, em especial, influenciou sua aproximação da leitura e da escrita?

Aprendi o valor da leitura e a possibilidade da escrita um pouco tarde em minha vida. Foi na vida adulta, quando encontrei pessoas como Samuel Escobar e Rene Padilla. Lembro do Samuel Escobar entrando na sala onde proferiria a sua conferência com uma pilha de livros debaixo do braço, e posteriormente citá-los com conhecimento e autoridade. Eu ficava boquiaberto e decidia, para mim mesmo, que eu também queria fazer assim, ainda que nunca o tenha conseguido. A primeira vez que editei um livro, ainda nos anos 70, levei o rascunho do meu texto ao Padilla e foi ele que o revisou e me animou a publicá-lo. Foram eles que investiram e acreditaram não apenas em mim mas em outros de minha geração, sedentos de uma academia que fosse séria, piedosa e contextual. Agradeço muito pela vida deles.

Quando a inspiração para escrever não vem…
Quando a inspiração não vem eu vou para o chuveiro. De fato, muito de minha inspiração acontece no chuveiro, mas isso não basta. Para mim, escrever é uma agonia e depender da inspiração requer uma paciência da qual raramente disponho. Preciso confessar, no entanto, que o que me causa muito mais trabalho é a transpiração, e esta é essencial em qualquer produção. Inspiração sem transpiração é um engodo e gera pouco mais do que um autor panfletário.

O que os adultos devem ler para as crianças?

Em primeiro lugar eu afirmaria que os adultos devem ler para as crianças. Isto, afinal, não é tão natural no nosso mundo digital e num contexto onde os pais estão muito ocupados em seus afazeres profissionais. Tirar tempo para ler é essencial para as crianças e fazê-lo com “As Crônicas de Nárnia”, do C. S. Lewis, será inesquecível para elas. E pode, inclusive, ler a coleção inteira mais de uma vez, pois elas certamente não vão enjoar.

Que conselho você gostaria de ter recebido na sua juventude?

Não consigo responder. Eu tive uma juventude bastante livre e cercada de pessoas que me ajudaram a encontrar-me no caminho da vocação pastoral. Meus pais eram muito simples e cercados de muito trabalho. Não posso pedir que eles tivessem me dado mais do que eles me deram. Afinal, ainda hoje uso calças costuradas pela minha mãe, apesar de ela ter falecido há mais de cinco anos.

Valdir e Silêda, junto com o pastor Jony de Almeida, no culto de celebração de 50 anos de Ultimato.

Como você lida com o envelhecer?

Envelhecer é um privilégio e uma droga. Essa história de que a terceira idade é a melhor idade é conversa para velho não deixar de consumir alguma viagem num cruzeiro qualquer. Envelhecer é custoso e dolorido, mas pode ser vivido com graça.

Para mim é essencial dizer que envelhecer junto à Silêda é uma graça e um privilégio. Temos mais de 40 anos de casados, uma rica convivência e uma visão ministerial muito coesa. Temos, ainda, saúde para usufruir esta idade da nossa vida, seja com um ritmo de vida mais lento ou seja, no meu caso, ainda escrevendo mais uma coluna para a Ultimato e ela sempre revisando qualquer coisa que eu escreva.

Agradecemos a Deus por esta fase da nossa vida. Vivendo a nossa idade sem encolher-nos na velhice.

O que mais o anima e o que mais o incomoda no meio evangélico?

Ah! São muitas coisas! Sou da geração que sonhou e orou por uma igreja evangélica que experimentasse crescimento e relevância e tivemos o enorme privilégio de testemunhar isso. Este tem sido um tempo de muita graça e Deus nos tem permitido viver numa época em que as pessoas estão abertas ao evangelho e a se comprometer com ele. Tenho muita gratidão a Deus pelo fato de nossas igrejas e comunidade estarem repletas de jovens e oro para que isso continue acontecendo pelas próximas gerações.

O meu medo é de que não seja assim. Ou seja, o meu receio é que estejamos nos encantando com o nosso tamanho e nossa influência, nos deixando seduzir pela tentação do poder e do dinheiro. Madre Teresa de Calcutá nos ensinou, com a vida, que não somos chamados para o sucesso mas para a fidelidade, e disso nunca podemos nos esquecer. Que o Espírito Santo nunca nos deixe esquecê-lo.

  1. Sempre gosto de ler os artigos do Valdir, e gostei muito dessa reflexão autobiográfica. Andamos juntos boa parte da nossa caminhada, na ABU onde conheci Valdir e Silêda. Fiquei feliz com a crescente sensibilidade, humildade e sabedoria que seus escritos manifestam. Para mim também Samuel Escobar e René Padilla foram meus pais na fé, e exerceram uma influência saudável, de aprofundar minha fé e aprender a reflexão e o debate com pessoas com convicções diferentes. Que Deus continue abençoando a vida desse casal e dos seus filhos e netos…

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