O interesse de Valéria Lamim pelas artes começou quando ela ainda era criança. Foi a partir da música, mais especificamente pelo piano. Os primeiros rabiscos surgiram como desenhos associados a pequenas composições musicais de sua autoria.

A paixão pelas tintas e pincéis veio muito tempo depois. Esboçando poesias, surgiu o desejo de também inserir nelas ilustrações para um possível projeto literário. A pintura chegou de maneira despretensiosa, usando imagens de buscas da internet como referências.

Valéria foi se aprimorando e começou a utilizar fotos pessoais de viagens como inspiração, o que abriu seu leque de referências para uma amplitude de mundos, paisagens e culturas diferentes.

A fotografia é outra de suas paixões, servindo hoje de base para o processo criativo. Com ela, reinventa cenários e pessoas nas pinturas.

A artista é também tradutora, participando das edições brasileiras de As controvérsias de Jesus, Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos, Desafios da liderança cristã, Lendo o Sermão do Monte com John Stott, entre outros, publicados pela editora Ultimato.

É uma obra sua que ilustra a seção Arte e Cultura da revista Ultimato 374, e conversamos com ela sobre sua trajetória na arte, suas inspirações e mais:

 

O que essa expressão artística representa em sua vida?

Para mim, a expressão artística é a essência daquilo que somos. É libertar-se de padrões e conceitos. É socializar-se. É expor-se. É interagir com quem observa sua arte. É mergulhar no imaginário e trazer para o mundo tangível inquietações, anseios, angústias, tristezas, alegrias, críticas, sentimentos, emoções, histórias. É contar algo que já foi contado por meio da sua ótica e com seu estilo. É buscar sua identidade. É conscientizar. É impactar de alguma forma. É mobilizar. É encantar. É emocionar. Acredito que se a arte conseguir tocar uma pessoa de alguma maneira, ela já cumpriu seu papel.

O que a inspira frente à tela em branco?

A figura humana, em primeiro lugar, umas das mais belas criações de Deus. Quando me vejo frente à tela em branco, o que me vem à mente não é “o que”, mas “quem” vou pintar. Não vejo um objeto; vejo uma pessoa, depois o sentimento que quero imprimir nela (alegria, tristeza, solidão, liberdade, paixão, desejo, revolta, etc.) e, em seguida, o contexto no qual intento inseri-la. Tudo parte basicamente da figura humana.

A qual peça artística sua você é mais apegada?

Pergunta difícil. É como perguntar a uma mãe a qual filho ela é mais apegada (risos). Talvez eu pudesse responder a essa pergunta se considerasse apenas o desenvolvimento técnico que se vai obtendo com a prática – “gosto mais desse trabalho porque nele consegui aprimorar tal aspecto técnico” –, mas prefiro não seguir por este caminho; contudo, ainda assim, seria difícil escolher um. Todas as peças são únicas e têm um pedacinho de mim.

Alguma delas tem uma história especial?

As que representam crianças. Elas me lembram de como era bom ser criança e ver o mundo pelos olhos de uma criança. Remetem à casa da minha avó materna, à convivência com meu avô paterno, aos tempos em que as crianças eram crianças e tinham brincadeiras de criança. Elas me lembram de como a infância era saudável no tempo em que eu era criança, ou pelo menos essa é a lembrança que tenho da minha infância. Talvez sejam uma maneira de resgatar aquela ingenuidade, pureza e inocência infantil que, infelizmente, estão se perdendo no mundo imediatista e tão conturbado em que vivemos hoje. E talvez sejam uma forma de chamar a atenção para nossas crianças hoje, tão esquecidas com um celular ou um iPad na mão – a solução que pais cansados encontraram para ter um momento de paz.

Você vê alguma relação entre seu trabalho como artista e como tradutora?

Com certeza. A palavra é outra forma de expressão artística. Com ela, é possível criar imagens e mundos imaginários infinitos que são inerentes ao universo do autor e que, consequentemente, surgem na cabeça do leitor. Autor, leitor e pintor, nesse caso, participam de um processo criativo de maneiras diferentes e com ferramentas distintas, mas todos, de certa forma, criam um universo a partir daquilo que imaginam, veem e sentem. No caso do tradutor, isso é ainda mais evidente, porque ele traduz para o leitor o imaginário do autor. Acho que nesse sentido o tradutor seria a ferramenta de trabalho do artista, o pincel, o cinzel, o instrumento musical, a câmera fotográfica, etc.

Quais artistas, do passado e do presente, você admira?

São tantos! Com certeza serei injusta com muitos que não são citados aqui. Entre aqueles pelos quais tenho grande admiração estão Caravaggio, Velázquez, Vermeer, Rembrandt, Da Vinci, Van Gogh, Kandinsky, John Singer Sargent, Norman Rockwell, Portinari, Carybé, Andrew Wyeth, Philip Jamison, John Blockley, Sir George Clausen.

Para quem quer começar agora, ou quer se aprimorar na pintura, qual caminho você indica?

Estudar a arte, procurar bons professores de arte, dedicar-se à prática diária, buscar inspiração nos grandes pintores, aprimorar-se sempre e, por fim, buscar a própria identidade artística.

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