Livro da Semana   |   Acontece nas Melhores Famílias

 

O que os pais podem fazer para evitar um final trágico para suas famílias, como teve a de Eli?

Além de algumas atitudes já mencionadas, gostaria de acrescentar outros pontos.

Pais muito atarefados devem buscar tempo para interessar-se de forma real e efetiva pela vida e pelo mundo de seus filhos. Não basta interessar-se pelas boas notas no boletim ou pela arrumação do quarto. É preciso procurar saber o que o filho realmente gosta: quais seus interesses, quais músicas ouve e por quê, quais jogos de computador ele joga, quais atividades desenvolve com amigos quando estão juntos. Alguns pais querem que seus filhos gostem daquilo que eles gostam (futebol, por exemplo). Porém, impor seus gostos aos filhos é uma forma de desrespeitar a sua individualidade.

Os pais devem aprender a desenvolver um equilíbrio dinâmico entre liberdade e limites. Uma fantasia que a ideologia capitalista inculca na mente de muitos pais é que eles devem satisfazer todos os desejos de seus filhos para que eles não desenvolvam “traumas”. Isso é falso! Os filhos devem aprender a ouvir “não” da parte dos pais e saber que esse é um treino para a vida, pois a vida nos coloca diariamente limites em nossos desejos.

Entretanto, os pais também precisam dar certa liberdade a seus filhos. Tentar criá-los em redomas de vidro é impossível e os impede de se tornarem plenamente adultos, deixando-os infantilizados pela vida afora. A liberdade deve ser sempre uma forma de exercício da responsabilidade nos filhos. Pais sábios permitem liberdades adequadas aos filhos dentro de sua faixa etária e avaliam se os filhos souberam fazer um bom uso da liberdade que lhes foi concedida. Esse constante exercício vai gerando nos filhos a responsabilidade sobre si e sobre seus atos. Por outro lado, quando os pais cerceiam continuamente a liberdade dos filhos, impedem que eles se desenvolvam como adultos responsáveis.

Ter continuamente um canal aberto de diálogo com os filhos é outro ponto importantíssimo para evitar tragédias familiares. Reservar um tempo periódico para um diálogo de qualidade onde se possam abordar temas importantes do relacionamento familiar, especialmente falando de sentimentos, é essencial na construção da autoestima dos filhos. Satir afirma:

Ele [o filho] se valorizará como uma pessoa com domínio (uma pessoa capaz de resolver seus próprios problemas) se pelo menos um dos pais validar seu crescimento e desenvolvimento […]. O domínio desenvolve-se ao ponto de incluir a habilidade de tomar decisões, raciocinar, criar, formar e manter relacionamentos, sincronizar as necessidades com relação à realidade, planejar, tolerar fracassos e desapontamentos.

No entanto, é preciso lembrar sempre que as palavras dirigidas ao filho precisam obrigatoriamente ser acompanhadas de uma vivência pessoal. Filhos admiram não pais infalíveis, mas, sim, pais coerentes, que sabem admitir suas limitações existentes entre discurso e prática. Não devemos temer expor nossas falhas aos nossos filhos, pois eles podem aprender com elas. Isso não significa contar todos os detalhes sórdidos de nossos pecados. Significa poder afirmar com tranquilidade: “Filho(a), eu errei e me arrependo disso. Espero sinceramente que você me perdoe pelo meu erro”.
Um dos grandes erros de Davi foi exatamente esse. Ele errou, pediu perdão a Deus, mas não a seus filhos. Por isso, não tinha autoridade para confrontá-los quando foi necessário. Davi não se perdoou porque não tinha a confirmação do perdão por parte dos filhos.

Por fim é preciso incentivar o desenvolvimento da espiritualidade de seu filho. Os filhos de Eli eram bastante religiosos, mas nada espirituais. Ou seja, é possível impor aos filhos uma religiosidade, mas a espiritualidade é algo que se incentiva, não se impõe. Há filhos que vão à igreja porque os pais obrigam, mas, quando chegam à adolescência, se rebelam e abandonam a igreja. Tais pais criam a falsa expectativa de que a instituição vai ser o suficiente para o filho sentir-se atraído pelos valores do evangelho, e isso não ocorre.
A verdadeira espiritualidade se inicia na vivência em casa, quando os filhos observam a integridade dos pais e a coerência entre o discurso deles sobre seguir os ensinamentos de Cristo e a prática cotidiana. Os pais precisam demonstrar com palavras e ações que os valores do evangelho são o melhor que uma pessoa pode desejar para a vida. Assim, facilmente os filhos se encantarão por tais valores.

Orar e ler a Bíblia com os filhos é algo que os pais devem fazer não apenas quando eles são pequenos e querem ouvir histórias na hora de dormir, mas durante toda a formação da criança. É preciso lerem a Bíblia juntos e dialogarem sobre o que leem, por que creem naquilo que leram e, mais importante, como colocar o que leram em prática. É preciso discutir até mesmo as dificuldades pessoais para manterem-se coerentes! Dessa forma, os filhos desenvolverão um verdadeiro amor por Deus e pelas coisas de Deus, não apenas uma religiosidade encardida, como era o caso dos filhos de Eli.

• Trecho retirado de Acontece nas Melhores Famílias, de Carlos “Catito” Grzybowski e Jorge E. Maldonado (Editora Ultimato)

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