Por Délnia Bastos

Hoje amanheci com dor nas costas e pensei: “Será que voltou aquela dor que senti por muitos dias por causa de um acidente há três meses?”.

A verdade é que este domingo me acordou pensativa e nostálgica – um misto de ausência e presença. Saudade e alegria. Nosso arco foi bem esticado até o ponto de lançar nossa terceira flecha[1] para fora de casa. Foi lançada para longe.

Ausência porque ela se foi para seguir seu caminho e chamado. Ausência dobrada por lembrar que o avô não pode presenciar este momento. Faz cinco meses que ele se foi. Tenho certeza que ele teria ido até a rodoviária para despedir da neta. Com orgulho, teria compartilhado com os amigos que ela foi para São Paulo trabalhar em um projeto para refugiados. Talvez até arrumasse um jeito de ir visitar o projeto (de novo) e escrever algo como “O Mineiro com Cara de Matuto visita a Neta em Projeto Missionário”. Saudade.

Presença porque Ele é fiel e nos enche até nesses momentos. Presença espiritual. Um contentamento ao ver a flecha atingindo o objetivo, voando rapidamente para o alvo. Que segurança saber que o Arqueiro é bom de mira e certeiro. Talentoso, Ele sabe o que faz. A flecha foi preparada para isso. Formou-se para isso. Foi forjada para isso. “Nada me alegra mais do que ouvir que os meus filhos vivem de acordo com a verdade”[2]. Alegria.

Neste misto de sentimentos contraditórios, releio o poema:

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda Sua força
para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria;
pois assim como Ele ama a flecha que voa,
também ama o arco que permanece estável.[3]

Voltando à dor nas costas, permito-me uma alegoria. Não era dor no “arco costal próximo à vértebra D9”, que quebrou no tal acidente. Não era dor física. Agora entendo que era dor em outro arco, aquele que foi esticado. Era dor da alma.

Notas:
[1] “Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude” (Sl 127.4, NVI).
[2] 3Jo 1.4, NTLH.
[3] Poema “Os Filhos”, de Khalil Gibran. Tradução de Mansour Challita.

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