Formado em Comunicação Social e Literatura Francesa, é ele quem dá o ponto final na revista Ultimato. Para ele, a leitura é como comer verduras: sabe que precisa, mas não gosta. Como assim? Isso mesmo, ele gosta do resultado: “Saber o que aquele livro contém, diz, ensina”.

O nosso segundo convidado de “Na Varanda com o Autor” é aposentado do Senado Federal e presbítero emérito da Igreja Presbiteriana do Planalto e avô da Amanda. Vamos prosear com Rubem Amorese?

Rubem Amorese é aposentado do Senado Federal e presbítero emérito da Igreja Presbiteriana do Planalto

Ultimato – Alguma pessoa ou livro, em especial, influenciou sua aproximação da leitura e da escrita?

Rubem Amorese – Sim, meu desejo de escrever surgiu com a leitura de C.S. Lewis. Depois que comecei com As Crônicas de Nárnia, devorei tudo o que encontrei dele. Havia, à época, muita coisa não traduzida, em inglês; e eu tive muita dificuldade, mas acabei melhorando meu inglês, por força dessa admiração. Mas aqui vai uma revelação (misericórdia, por favor!): não gosto de ler. Não sou um leitor compulsivo, devorador de bibliotecas. Eu gosto do resultado do esforço: o saber. Saber o que aquele livro contém, diz, ensina. Mas para chegar a isso, preciso lê-lo. E é aí que começam meus problemas. É como comer verduras. Sei que preciso, mas não gosto. Então como para não ficar doente.

A influência decisiva para escrever me veio da profissão: em 1975, morando no Rio, recém-formado, consegui um emprego na área de Comunicação, em Brasília. O cargo era de Editor Técnico. Como recusar? Topei. Mais tarde, fiz meu mestrado, na UnB, dentro da área. E fui obrigado a escrever muito. Daí, não parei mais. Pois é, prefiro escrever a ler, embora saiba que a escrita não vem sem a leitura.

Ultimato – Quando a inspiração para escrever não vem…

R. A. – Quando isso acontece, faço um trabalho técnico ou acadêmico. Tipo, prova de redação: “você tem duas horas para desenvolver o seguinte tema…”. O resultado o leitor percebe rapidinho. Paciência: nestes quase 30 anos, nunca deixei o Marcos Bontempo na mão. E acho que aqui e ali, pintou uma inspiração.

Ultimato – O que os adultos devem ler para as crianças?

R. A. – Tenho uma netinha, chamada Amanda. Ela tem dois anos e dois meses. Já comecei a ler histórias da Bíblia para ela. Bem ilustradas, coloridas e em linguagem fácil. Mas também histórias universais e da cultura brasileira. Ela ainda não consegue manter a atenção até o final. Mas na próxima vez, começo de onde parei, montando a trama. Vira uma espécie de novela. Acho que é isso. A propósito, ela é capaz de assistir a um vídeo de boa música do começo ao fim. Há dias em que está mais serena, e pede outra, por três ou quatro vezes! Ela já gosta de Ennio Morricone e de Pentatonix, passando por crianças prodígio, de três ou quatro anos, tocando piano.

Rubem Amorese acompanhado da esposa, Ângela, e da neta, Amanda

Ultimato – Que conselho você gostaria de ter recebido na sua juventude?

R. A. – Não sei responder bem a essa pergunta. Mas pensando agora, com a Amandinha no colo, acho que teria gostado muito de estar, como ela, no colo da mamãe ou do vovô, “lendo” uma historinha. Em especial, bem quentinho, depois do banho. Teria sido muito bom.

Ultimato – O que mais o anima e o que mais o incomoda no meio evangélico?

R. A. – Vou responder invertido. O que mais me incomoda é o crescente confronto de ideias e ideologias evangélicas, tendo como palco, em especial, as redes sociais. Elas viraram quase que um campo de batalha. O que mais me anima é ter olhos para ver, na minha comunidade, lindos sinais da graça de Deus; sinais de conversão; sinais de transformação, de crescimento, de amadurecimento. Eu olho em volta e, quando me é dado discernir o agir de Deus, lembro da afirmação de Jesus: “eu edificarei a minha igreja”. E lá no meu cantinho, eu digo: aleluia!

Ultimato – Que conselhos você daria a quem assumisse sua coluna na próxima edição da revista?

R. A. – Eu diria assim: “cara, você tem o direito de fazer como quiser; pode imprimir seu estilo, promover mudanças etc. Mas faça um favor aos seus leitores: leia o que foi escrito antes. Faça um trabalho de casa: leia pelo menos o livro Ponto Final. Senão, periga chover no molhado de montão.

Ultimato – Como você lida com o envelhecer?

R. A. – Tenho pensado muito sobre esse assunto, muito novo para mim. Comecei com um livro da Ultimato: “É Preciso Saber Envelhecer”, de Paul Tournier. A partir dessa leitura, descobri que estava atrasado. Bem uns 20 anos. Ele propõe um planejamento antecipado em vários anos, para essa fase. E estou tentando planejar daqui para a frente. Tenho escrito sobre isso no meu blog. Mas ainda tenho tido algumas dificuldades em aceitar as limitações do meu corpo. Sei disso porque, embora tenha consciência dos meus 65, toda vez que meu corpo me deixa na mão, eu fico frustrado. Sinal de que, lá dentro, me esqueço (no sentido da negação) da lasqueira em que me encontro. Mas vou concordar com o que muitos têm dito (e eu achava que era discurso de quem já dobrou o cabo da boa esperança): é uma fase bonita. Hoje, sou menos dependente, menos escravo de chefes e patrões, expectativas, ansiedades, vaidades, etc.. Hoje, percebo melhor as coisas.  Hoje, embora não me aventure mais em triatlos e maratonas, gozo melhor a vida.

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