[LIVRO DA SEMANA]

Por Colin Chapman

Todos os judeus religiosos baseiam seu direito à terra na Escritura, e todos os muçulmanos têm fortes razões islâmicas para reivindicar a terra, e especialmente Jerusalém, para os palestinos.

 
A política e a religião estarão sempre estreitamente ligadas

É difícil pensar em outra situação em qualquer lugar do mundo em que a política tenha se tornado tão estreitamente ligada à religião, e em que textos sagrados tenham um efeito tão profundo na ação política.

No entanto, por mais que a religião esteja amarrada com a política nesse conflito, problemas políticos requerem soluções políticas, e se as pessoas religiosas das três crenças não conseguem aprender a falar umas com as outras e a fazer concessões no mundo real com vistas à sobrevivência, paz e convivência, deve ser exigido que elas retirem-se para seus guetos e falem apenas com quem está dentro do seu círculo fechado.

Todos os judeus religiosos baseiam seu direito à terra na Escritura, e todos os muçulmanos têm fortes razões islâmicas (que são tanto teológicas quanto históricas) para reivindicar a terra, e especialmente Jerusalém, para os palestinos. O problema é que os fundamentalistas de todos os tipos – judeus, cristãos e muçulmanos – colocam-se fora do alcance da razão. O choque de fundamentalismos (de modo especial, judaico e islâmico) é particularmente agudo quanto à questão de Jerusalém. Yitzhak Rabin sabia, como diz Martin Gilbert, que “se o conflito fosse teologizado, jamais haveria paz. Isso porque, para conflitos teológicos, não há concessões e, consequentemente, não há soluções”.

Não traz muito consolo para ninguém ouvir de certos cristãos que “a situação é tão ruim, e os problemas tão complexos, que as coisas só serão resolvidas quando Jesus voltar”. Deveria ser possível, pelo menos para algumas pessoas de fé, entender sobre o que é o problema e, em vez de optar por não se envolver e esperar o melhor num milênio futuro na terra ou no céu, envolver-se no trabalho árduo de trabalhar pela justiça e fazer a paz aqui e agora. Nas palavras de Mark Braverman, “As crenças que as pessoas têm sobre o significado da Terra Santa são parte do problema, mas também são parte da solução”.

Inevitavelmente os judeus sentem que têm uma relação especial com a terra

Embora as comunidades de judeus religiosos tenham continuado a viver na terra a partir do século 2º, a maioria dos primeiros sionistas era de judeus bem seculares que tinham pouco interesse pela religião. Eles colonizaram a terra como modo de afirmar sua identidade e fugir do mal do antissemitismo na Europa. Foi só mais tarde que os judeus ortodoxos (que antes suspeitavam do sionismo) começaram a ser associados com o movimento sionista e a conscientemente relacionar sua visão com sua Bíblia hebraica. No entanto, se eles foram atraídos de volta para a terra por causa da sua fé judaica e da sua associação com ela no passado, e porque precisavam de um refúgio seguro, teriam de ter enfrentado a terra como a encontraram, não como imaginavam que ela fosse: ocupada por outros com igual senso de conexão com ela e enraizamento nela.

Para muitos judeus israelenses hoje, a Bíblia hebraica é simplesmente parte de sua história e cultura, e o livro de Josué é ainda um texto obrigatório nas escolas israelenses. No entanto, para muitos judeus religiosos, ela ainda é tratada como a Escritura que lhes dá o direito divino permanente à terra. Aqueles que leem os textos sagrados desse modo precisam se perguntar se os colonos na Cisjordânia e em Gaza e seus governantes já sentiram a necessidade de também atender ao mandamento na Torá sobre não oprimir o forasteiro ou o estrangeiro (p. ex., Êx 22.21) – não que os palestinos considerem-se “forasteiros” ou “estrangeiros”. E há qualquer sentido em que se possa ver o atual Estado de Israel como o cumprimento dos sonhos dos profetas que viram a nação restaurada na terra como uma bênção para toda a raça humana? Se as reivindicações dos judeus com respeito à terra são baseadas na Bíblia hebraica, os judeus estão dispostos a que o Estado de Israel seja julgado à luz dos Dez Mandamentos e de tudo o mais contido nessas Escrituras?

#LivrodaSemana

Texto retirado de De Quem é a Terra Santa? O contínuo conflito entre Israel e a Palestina.

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