Por Antonia Leonora van der Meer

 

#ELJ2016

Tonica orando com um participante do ELJ2016. Foto: Movimento Lausanne

Tonica orando com um participante do ELJ2016. Foto: Movimento Lausanne

O Movimento Lausane teve muita influência na minha vida cristã, desde o Congresso Missionário da ABU (Aliança Bíblica Universitária) em 1976, inspirado por Lausane, e pelos líderes Samuel Escobar, Pedro Arana e René Padilla que tiveram uma importante participação no Lausane 1974, e no Congresso. Também o aprendizado e os contatos com John Stott foram sempre muito encorajadores.

Tive o privilégio de participar do Lausane 2 em Manila, em 1989, como a única representante branca e feminina de Angola e Moçambique e andava no Congresso com meu grupo de líderes, traduzindo tudo o que era possível. Houve muitas coisas boas. O que mais me marcou foi o encontro dos representantes dos países marxistas, um compartilhar mútuo em várias línguas. Eu ajudei uma conversa entre africanos e pessoas de vários países da Europa Oriental, usando meu alemão mal falado.

Tive o privilégio de estar muito mais ativa no Lausane 3 na Cidade do Cabo em 2010. Foi um congresso muito grande e excelente na parte de louvor bem criativo, nas palestras, nos grupos de estudo, discussão, com partilhar e oração divididos em mesas, nos testemunhos.

Quando fui servir ao CEM (Centro Evangélico de Missões) no início de 1996 fiquei feliz vendo o vínculo entre o CEM e o Movimento Lausane, pela base de fé e o compromisso com a missão integral. O Pacto de Lausane foi um livro chave tanto para a ABU quanto para o CEM.

Mas tive uma grande expectativa em relação ao Encontro de Líderes Jovens de Lausane (ELJ), realizado em Jakarta de 3 a 10 deste mês de agosto. Essa expectativa foi crescendo enquanto participava (quase diariamente) de dois grupos no WhatsApp (em inglês, multicultural, e em português). Houve relatos de países, dos vários ministérios, pedidos de oração, encorajamento mútuo. Era a expectativa do que Deus iria fazer por meio de tantos jovens comprometidos com a sua obra missionária, interessados em trabalhar juntos, cheio de amor e alegria em sua fé e compromisso.

Houve um grupo de aproximadamente 60 jovens brasileiros, pessoas de visão e compromisso e ansiosos por aprender e servir ao Senhor. Foi um grupo bem selecionado em termos de envolvimento em vários ministérios e regiões do país, além de pessoas que servem em países de vários continentes. Talvez tenha sido um dos maiores grupos de países. Eu era uma dos poucos mentores brasileiros (no total, apenas três). A coordenadora geral do ELJ foi a jovem brasileira Sarah Breuel, que com seu marido René realiza um ministério excelente entre universitários e na igreja da Itália. Eles foram preletores, além da Marina Silva, que deu testemunho de sua vida e conversão e desafiou todos à responsabilidade pelo meio ambiente.

O que os mentores deviam fazer?

Cheguei no dia 1 à noite, depois de dois dias de viagem, dormi e no dia seguinte começaram 2 dias de treinamento, muito bem organizados, com vários momentos de compartilhar em grupos menores, buscando mostrar que tipo de atendimento devíamos fazer, com muita disposição para ouvir, e aprendendo a fazer perguntas que ajudam as pessoas a se abrir, e não ficar dando respostas, mesmo sem conhecer as pessoas. Gostei da decisão de colocar os mentores nos quartos dos estudantes da Universidade e os participantes nos hotéis, com mais conforto. A vantagem para nós era que não precisávamos nos deslocar de ônibus.

ELJ_logoCada um ficou responsável por um pequeno grupo, geralmente de 6 participantes. Meu grupo eram 4 brasileiros, uma portuguesa e eu. Esses pequenos grupos se reuniam em vários horários, na discussão das mensagens bíblicas da manhã, principalmente na aplicação, e depois nos reunimos em grupo onde cada pessoa apresentava sua história de vida, baseada em desenhos – alguns bem artísticos, outros bem simples -, mas assim pudemos nos conhecer uns aos outros, e orar por cada pessoa do grupo. Também discutíamos como o congresso nos afetava e nossas perspectivas e lutas em relação ao futuro. Criamos uma boa amizade.

Além disso havia os encontros pessoais, um a um. Eu ficava ocupada durante os horários livres da tarde, 2 ou 3 pessoas cada tarde, e outras conversas no almoço e no jantar. Conversei com brasileiros, asiáticos e africanos, e foi bom e emocionante. Não marquei conversas após o programa da noite, conhecendo os limites de minha energia. Uma noite houve um desencontro com o irmão que queria conversar comigo, na fila do jantar uma irmã começou a falar sobre o ministério com pessoas com deficiência. Falei do trabalho que ajudei a organizar em Angola, e da associação FENADOR de pessoas com deficiências físicas. Ela ficou animada e me convidou para sentar na mesa do seu grupo. Disse que havia uma pessoa de outro país africano que podia me dar umas dicas sobre apoio para tais ministérios. E conheci o Dyonah Tomas da Libéria que me deu umas dicas e um endereço de contato. Foi uma boa surpresa.

Preletores humildes

Houve excelentes preletores, mas o que me marcou em todos eles foi a simplicidade e a humildade. Nenhum tentou se mostrar como um líder importante. Chris Wright, Os Guinness, Richard Chin (asiático da Austrália), Anne Zaki (teóloga egípcia), e tantos outros traziam mensagens profundas e desafiadoras, mas sempre a partir de sua humanidade frágil e do compromisso com a glória de Jesus e o reino de Deus. Isso me impactou e alegrou muito. Seguiram os passos dos líderes como John Stott, René Padilla e Samuel Escobar. Um dos preletores, o africano Mutua Mahiani, nos desafiou: “Queremos ser um nome ou uma voz? Um nome que busca reconhecimento ou uma voz que proclama a mensagem de Deus?”.

Houve várias entrevistas com líderes que todos, mostraram suas lutas e fraquezas e como Deus lhes ajudou a enfrentar e a vencer, dia a dia, usando pessoas, usando momentos de crise, enfrentando a tendência de entrar no esgotamento por trabalhar demais e não ter tempo para amar a família e mesmo para a intimidade com Deus. Andrea Rolda, uma jovem Filipina, que coordenou de maneira eficiente os mentores, foi uma das entrevistadas e nos aconselhou a buscar um Paulo – que nos desafia ao ministério; um Barnabé, que nos ampara e consola e um Timóteo, nosso discípulo que continuará o ministério.

Houve testemunhos emocionantes de pessoas de países mais fechados para o Evangelho, mostrando suas lutas, e também sua coragem e sua fé, e como Deus continua conquistando pessoas nas situações mais difíceis.

Oficinas e lab´s

Houve oficinas e “Lab’s”. Eu escolhi como tema principal a diáspora. É um assunto que já me interessava, mas quanto mais tenho notícias do sofrimento dos muitos refugiados mexe muito comigo, e comecei a dar uma contribuição, em oração e através de contatos. Foi muito enriquecedor, houve apresentações e depois discussão em grupos e cada grupo depois apresentava um testemunho. Porém ainda gostei mais do grupo menor que continuou com essa discussão durante o Lab. Aí deu para discutir com mais profundidade e ouvir ministérios muito abençoadores realizados em vários países. Também escolhi o tema sobre liberdade e justiça, dirigido por Pranitha Timothy, da Compassion Internacional na Índia. Mesmo muito frágil fisicamente, ela tem um testemunho de vida de muito amor e coragem pelas pessoas que sofrem pelo tráfico humano e pela escravidão. Ela e seus companheiros têm enfrentado situações extremas e libertado muitas pessoas. Havia outras pessoas, servindo em vários países, também na liberação e restauração da dignidade e esperança dessas pessoas sofridas e abusadas. Foi também excelente.

E agora?

Como respondemos a tudo isso? Por enquanto a maioria está testemunhando, refletindo, buscando a direção de Deus, e desafiando a outros. Espero que tenha um impacto significativo na igreja brasileira, no envio de mais jovens bem preparados para ministérios estratégicos, mas também em seguir esse exemplo de simplicidade e humildade da liderança. Isso promove a unidade (não uniformidade), fortalece nosso testemunho e glorifica a Deus.

 

• Antonia Leonora van der Meer foi missionária em Angola, deã no CEM (Centro Evangélico de Missões) e ainda leciona disciplinas na área de missiologia em várias escolas. Atualmente, é coordenadora de expansão da Interserve na América Latina. No movimento estudantil, Tonica envolveu-se tanto com a ABU quanto com a IFES. Na ABU, ela foi Assessora Auxiliar, Assessora, Secretária do Escritório Nacional, redatora de “Alcance”, “Entre Nós”, “Intercessor” e Estudos Bíblicos Indutivos. Na IFES, foi Assessora Pioneira para Angola e Moçambique e Membro do Comitê Executivo Internacional por oito anos. É autora de Missionários Feridos, Eu, Um Missionário? e O Estudo Bíblico Indutivo (ABU Editora).

 

  1. Faustino Paulo Mandavela

    Foi muito bom ler o testemunho da nossa mamã na fé e no Ministério com estudantes. Juntos podemos coordenar a campanha mais rápida e desafiadora de levantamento de fundo neste tempo de crise e permitir que dois jovens, Jesus e Palmira pudessem participar do Encontro de líderes Jovens. Sempre pensei que deveria participar de uma atividade de cura no nosso país muito sofrido. esta campanha encorajou-me a pensar que é que é possível levantar fundos local e internacionalmente desde que a causa seja devidamente anunciada. Com a Irmã Tonica aprendi a confiar, mesmo quando a nossa razão desconfia. Muito Obrigado pelo Artigo e pelos servos como René Padila, John Stott e outros aqui mencionados.

  2. Maravilhoso e empolgante relato da irmã Tonica! Pude me sentir como uma observadora bem próxima do evento, mesmo não estando lá. Senti-me desafiada a orar mais pelas causas apresentadas como cenário mundial da nossa época, a colaborar ainda que minimamente, e a acompanhar o agir de Deus através da sua igreja e e líderes da juventude cristã. Obrigada Tonica!

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