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Marcelo Moscheta: “A Line In The Arctic”. Esta foto ilustrou a seção Arte e Cultura da revista Ultimato 360 e também o topo do boletim Últimas de 04/07/2016

 

Por Ana Claudia Braun Endo

 

Ele pode estar em seu ateliê em Campinas, SP, ou em alguma expedição pelo mundo, nas “residências-artísticas” que estabelece quando busca inspiração. É a partir de suas andanças por lugares como Pólo Norte, deserto do Atacama, no Chile, Ucrânia, China, Vancouver, no Canadá, que o artista plástico Marcelo Moscheta, um cristão de talento reconhecido internacionalmente, inspira-se para produzir sua arte.

BlogUlt_30_06_16_MarceloNa infância, deu seus primeiros passos na arte. Já sabia o que pretendia, mas foi a graduação em artes plásticas e o mestrado em artes visuais, ambos pela Unicamp, que o lançaram definitivamente. A Bolsa Iberê Camargo, que ganhou em 2007, foi desfrutada na École des Beaux-Arts de Rennes, na França.

Uma de suas exposições mais trabalhosas, segundo afirma, foi “1.000 km, 10.000 anos”, quando utilizou cerâmicas e produziu cerca de 2,5 mil cópias de uma ferramenta paleolítica encontrada no Atacama.

“Foi emocionante a primeira residência que fiz, na Bretanha, França. Meu amadurecimento como artista veio daquela experiência e várias propostas surgiram” – conta o artista que participou de mostras internacionais de grande importância no último ano, seja na Bienal de Vancouver ou em uma exposição em Nova York, e que se prepara para enfrentar um novo momento de residência-artística na Colômbia, em um trabalho de imersão que deve durar dois meses.

“Quando produzo uma obra, sinto-me mais perto de Deus. Tenho uma conexão espiritual com aquilo que faço de forma manual e acho isso tocante, não só para mim, mas para aqueles que têm contato com minha arte. Gosto quando aqueles que interagem com minhas obras são profundamente tocados… Isso para mim é essencial, pois entendo que se a arte tem alguma serventia prática, ela seria o despertar de questões impossíveis de serem alcançadas através do lugar comum.”

Você é uma daquelas pessoas que sabia, desde pequeno, que tipo de profissional queria ser ou com o que queria se envolver?

Sim, eu costumava dizer que queria ser artista. Essa é uma das minhas primeiras lembranças. Lembro-me de ficar desenhando e pintando o dia inteiro, de me interessar por tudo relacionado às artes. Mas morava em Maringá, uma cidade que naquela época possuía somente um museu histórico da colonização da cidade. Encontrei dificuldades imensas para estudar mais sobre história da arte, pois na biblioteca da cidade não havia conteúdo relativo a esse tema, quando precisei estudar para prestar o vestibular para artes plásticas na Unicamp.

Como se deu seu envolvimento com as artes plásticas? Apenas com sua entrada na faculdade?

O meu envolvimento real com a arte aconteceu somente depois de me mudar para Campinas para estudar. Os primeiros semestres foram meio titubeantes, muitas dúvidas, mas no fundo sabia que aquilo era a coisa para a qual eu tinha mais envolvimento. No decorrer dos anos, minha decisão foi se consolidando e quando terminei a graduação estava começando a ter uma proposta clara dentro do meu trabalho, aquilo que chamamos de poética.

Qual trabalho foi mais emocionante para você desenvolver?

É uma pergunta difícil de responder, pois são envolvimentos diferentes que crio com as obras. Às vezes um trabalho se revela mais interessante do que inicialmente projetado, mas também o contrário é muito constante. Tudo depende muito de um estado de entrega e os fatores externos contam demais. Eu gosto muito de fazer residências artísticas, que são períodos em que posso ficar distante do meu ateliê, da minha prática diária de produção e me envolver com contextos muito distantes do meu, do cotidiano que tenho em Campinas. Então, quando viajo para lugares como o Polo Norte, o deserto do Atacama, a Ucrânia, a China, as florestas de Vancouver, tenho diferentes histórias para contar e me relacionar com a paisagem, que é meu interesse principal. Mas consigo pontuar como emocionante, talvez a primeira residência que fiz, em 2007, na Bretanha, França. Acho que meu amadurecimento como artista surgiu daquela experiência de deslocamento para aquele espaço. Várias propostas que tenho hoje em minhas obras surgiram daquele tempo ali.

Qual obra ou exposição efetivamente deu mais trabalho e por quê?

Uma exposição que deu bastante trabalho foi “1.000 km, 10.000 anos”, que realizei em 2013 na Galeria Leme, em São Paulo, SP. Tive que pesquisar cerâmica, que era um meio que nunca tinha utilizado e fazer então 2.500 cópias da mesma matriz – uma rocha/ferramenta paleolítica encontrada no Atacama. Essa obra consumiu cerca de três meses intensos de trabalhos e pesquisas diárias, de produção com terceiros e viagens sem fim até o ceramista, mas no final fiquei muito satisfeito com o resultado.

Como você se inspira para as temáticas que desenvolve com seu trabalho? Como se dá o processo criativo?

Como já disse, eu gosto de viajar e criar. Acabei juntando os dois numa poética que tem a natureza como foco principal. Eu entendo a paisagem como um lugar onde posso estar para medir a mim mesmo e ter uma vaga ideia do tamanho do mundo. Isso me coloca numa posição de insignificância frente à grandeza da Criação. O que tento com minhas obras é tocar questões relativas a essa interação homem/natureza, mundo artificial/mundo natural. Gosto também de reordenar as coisas, de classificar, um desejo quase adâmico de querer nomear as coisas do mundo, e é por isso que me interesso tanto por arqueologia e pelas ciências naturais. Gosto de geografia e geologia, e trabalho sempre com um GPS em minhas andanças, traçando o desenho que o meu deslocamento provoca sobre o mundo, como se pudesse traduzir em dados e coordenadas precisas uma experiência sensorial e subjetiva.


Ana Claudia Braun Endo atua como consultora de marketing educacional na FIPECAFI (FEA-USP) e na PUC-Campinas, SP.  Faz doutorado em gestão da informação pela Universidade Nova de Lisboa e em comunicação pela ECA-USP, onde estuda as “lovemarks”. Entrevista concedida originalmente ao portal Cristianismo Criativo.
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ARTE E CULTURA – REVISTA ULTIMATO
A fotografia no início deste post ilustrou o topo da seção Arte e Cultura, da revista Ultimato 361 (julho-agosto). Ela faz parte da exposição A Line In The Arctic, que Marcelo elaborou em viagem à região ártica. Confira o vídeo abaixo em que o artista explica como fez o trabalho.

 

NORTE Marcelo Moscheta | documentário from marcelo moscheta on Vimeo.

 

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