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Foto: PSB

Por Elben M. Lenz César

Não estou sendo mal-educado nem movido pela emoção. Ela é uma desgraça mesmo. No íntimo, creio que todos pensam assim. Mas alguns rodeiam, atravessam a rua quando a veem. Uma vez fiz uma entrevista com a desgraçada, chamando-a de “a amásia do pecado” (Ultimato, novembro de 1972, p. 4). Estou me referindo à morte, a desgraçada que ontem pela manhã arrancou a vida de Eduardo Campos e de mais seis pessoas.

O linguajar que eu estou usando tem uma influência bíblica. Foi Paulo quem disse que o pecado entrou na história não sozinho, mas na companhia da morte. Por isso, “o vínculo do pecado e da morte passaram à humanidade inteira” (Rm 5.12). Em outra passagem, o apóstolo afirma que a morte é o último inimigo do ser humano e da criação a ser vencido (1Co 15.26). À vista desta notícia antecipada da morte da morte, e tomando carona em Paulo, eu tenho coragem suficiente para zombar da desgraçada e lhe perguntar: “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu poder de ferir?” (1Co 15.55).

No domingo passado copiei as seguintes frases sobre a morte, retiradas do último capítulo de É Preciso Saber Envelhecer, de Paul Tournier, conhecido psiquiatra suíço que fundou em 1947 o Grupo Internacional de Medicina da Pessoa, recém-publicado pela Editora Ultimato:

1.
A morte é um mistério impenetrável que escapa a todo debate racional.

2.
A consciência da morte, aquela que subjaz em todo homem, durante toda a sua existência, torna-se ainda mais ameaçadora quando a velhice chega. Se a aposentadoria anuncia a velhice, esta anuncia a morte.

3.
Ninguém poderia negar que o sentido da vida é a morte, porque a vida é uma viagem cujo fim é a morte.

4.
Sim, a vida eterna começa aqui, já. Viver com Deus é participar de sua eternidade; quem tem um pé no infinito pode aceitar sua finitude. Esse passo decisivo, esse nascer para a vida eterna, podemos dar antes da velhice e da proximidade da morte.

5.
A morte é apenas o final da aventura terrena e bem sabemos que nenhuma aventura dura para sempre, e que é necessário que uma aventura morra antes de superar seus limites.

6.
Sim, morrer é encontrar uma vida totalmente nova, isenta de tudo o que converte em peso a nossa existência terrena, até para os mais privilegiados. É a aspiração indelével do coração humano.

Paul Tournier, que morreu aos 88 anos, em 1986, deixou-nos um precioso testemunho: “Creio na ressurreição, mas compreendo, na proximidade da morte, que minha suprema segurança está baseada não tanto na doutrina, mas no laço íntimo que me une à pessoa de Jesus Cristo. Não estou sozinho diante da morte: estou com Jesus Cristo, que já a enfrentou!”.

 

• Elben M. Lenz César é redator-fundador da revista Ultimato.

  1. Nenhuma palavra de conforto à família ou de perda de uma figura política que despontava com enorme perspectiva de sucesso.

    Tal qual com Rubem Alves que levou um pito, aqui um exercício de teologia. Ainda que tenha seu favor, desloca enormemente do foco e da hora.

  2. A fala é de um senhor de cabelos grisalhos que certamente já experimentou muitas tragédias na vida.

    O discurso é de uma teologia. Não importa se nova ou velha, apenas uma teologia.

    Nela a morte não é vista como tal, mas é engessada no modelo teológico.

    A morte é dobrada, calculadamente abordada para entrar em uma caixa.

    Enquanto Paul Tournier dava a ela o máximo que a segurança da fé poderia garantir…

    “Creio na ressurreição, mas compreendo, na proximidade da morte, que minha suprema segurança está baseada não tanto na doutrina, mas no laço íntimo que me une à pessoa de Jesus Cristo. Não estou sozinho diante da morte: estou com Jesus Cristo, que já a enfrentou!”.

    … Elben discorria (de 1 a 6) sobre a morte como uma mistura de filosofia (…a vida é uma viagem cujo fim é a morte) e uma tintura teológica (…Viver com Deus é participar de sua eternidade…).

    Escrevesse o pastor, o conforto seria imenso. Salvou o texto a citação de Paul Tournier. O restante ficou com aquele jeito de arremedo filo-teológico.

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