Especial Lausanne III. No café do primeiro dia do 3° Congresso de Evangelização Mundial, na Cidade do Cabo (África do Sul), Robinson Cavalcanti, autor de, entre outros, Cristianismo e Política, falou com Ultimato. Para o bispo anglicano, o crescimento evangélico no Brasil é uma espécie de casamento do modelo superstar americano com o nosso coronelismo. Precisamos de um “choque de humildade”. Por Lissânder Dias e Klênia Fassoni.

Voce é o único da comitiva brasileira presente no Terceiro Congresso Mundial de Evangelização que esteve nos dois outros congressos (Lausanne I e II). Qual a sua expectativa?

Lausanne I foi marcante, fez história. Foi chamado pela revista Time de Vaticano II dos evangélicos, pelo documento que produziu. Lausanne 2, a despeito de ter muito mais gente e de toda parafernália americana, teve um resultado pífio. Lausanne 3 para mim é uma interrogação. Mas tenho expectativas, pois este encontro vai juntar cristãos e o Espírito Santo. Alguma coisa vai acontecer.

O que você espera da participação da delegação do Brasil? Acredita que haverá uma repercussão maior do que os Congressos anteriores para a igreja no Brasil?

Lausanne 1 aconteceu durante a ditadura militar; os mais conservadores o consideraram avançado demais e os liberais tímido demais. A CPAD publicou o Pacto de Lausanne. Lausanne 1 teve conteúdo e pouca divulgação, Lausanne 2 teve menos conteúdo. Espero que Lausanne 3 tenha mais conteúdo e que esteja a disposição.

A direção do Congresso esta colocando como um dos desafios atuais uma igreja evangélica globalizada. Na Europa há igrejas pequenas com mais de 15 diferentes etnias. Para a igreja brasileira este também seria um desafio significativo?

Lasanne I contribuiu para a conscientização missionária no Brasil. Passamos a enviar missionários para fora. Não sei qual será a maior contribuição de Lausanne 3 para o Brasil. Nós temos tantos problemas internos que, se não os resolvermos, vamos exportar problemas junto com os nossos esforços missionários. A igreja brasileira tem o desafio de retomar as grandes ideias de Lausanne: unidade da missão, missão integral como conteúdo da missão, a Palavra como base da missão. O espírito de Lausanne e a unidade na verdade e na missão. Lausanne e o desdobramento de Berlim 1966. Estamos marcados pelo divisionismo.

O perfil das pessoas que fazem parte do grupo do Brasil é adequado?

Não sei, não conheço todas as pessoas do grupo. Aqui está a multiforme graça de Deus. Sinto a ausência de grandes lideranças missionárias e denominacionais. Por exemplo, há poucos representantes da Assembleia de Deus. Soube que alguns destes lideres foram convidados mas não aceitaram o convite e isto revela o nosso grau de divisionismo. Não responder ao convite revela desinteresse.

O fato de a igreja no Brasil ter caminhado para ser uma religião de massas tem a ver com o divisionismo?

Creio que não. Na Nigéria o crescimento evangélico explodiu sem implodir. O reavivamento do Leste da África se fez dentro da igreja. No Brasil houve o casamento do modelo superstar americano com o coronelismo do nosso pais. Mas creio na providencia divina que, contra as evidências, depura a igreja.

Eventos como estes, onde há a ausência de nomes institucionalizados, no Congresso e em outros movimentos como a ALCEB, pode ser um aspecto positivo?

Precisamos de um choque de humildade. Mas isto não significa que não necessitemos de líderes. A liderança deve ser forte, mas os líderes precisam ser legítimos e um eco de um grupo. Temos no Brasil um neoplatonismo forte, que tem nos levado a desprezar a instituição: o orgânico é de Deus e a instituição é do homem. Mas ambas tem carne e espírito. O sopro da Reforma sopra criando instituição. O espírito da Reforma é a reforma da igreja, e não uma igreja reformada. Creio que as instituições não estão em crise. Temos uma crise de liderança.

  1. “… o crescimento evangélico no Brasil é uma espécie de casamento do modelo superstar americano com o nosso coronelismo.”
    Como tem também uma certa verdade, apoteótica, na inserção do anglicanismo no Brasil típico do colorido carnavalesco nas vestes.

    E porventura as igrejas anglicanas no Brasil não incorporaram de igual modo o modelo americano com aquela coisa esquisita dos Europeus passé de inserir um esquerdismo light nas sua práxis social?

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