1960 — Surpresas e mais surpresas em Viçosa

Não tenho absoluta certeza se foi em 1960. O fato é que nesse ano ou no outro fui convidado para comparecer à cerimônia de abertura da tradicional Semana do Fazendeiro, no Salão Nobre do prédio principal da UREMG. O presidente da cerimônia me apresentou como pastor e me convidou para fazer parte da mesa. Em seguida, solicitou que eu desvelasse a imagem de Cristo (na época, no início de cada cerimônia, desvelava-se, e no final, cobria-se de novo a imagem). Interpretei esse gesto, dirigido a um protestante (contrário ao uso de imagens), como um ato de delicadeza. Entendi que o melhor seria desvelar a dita imagem. Havia fazendeiros protestantes do Leste de Minas e outras regiões. Não sei o que eles pensaram… (Em ocasião bem posterior, o prefeito ou o presidente da câmara de vereadores de Viçosa me fez o mesmo convite e eu passei a responsabilidade para um padre, também presente à cerimônia.)

Surpresas incríveis aconteceram no final de 1960. As bacharelandas da Escola Superior de Ciências Domésticas elegeram como paraninfa a prof.ª Sônia da Silva, e os engenheiros agrônomos elegeram como orador da turma o formando Osmar Ribeiro. Os dois — Sônia e Osmar — eram metodistas. Apenas uma das oito economistas domésticas e apenas dois dos 34 agrônomos eram evangélicos. A missa de ação de graças foi celebrada por Dom Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana; e o culto de ação de graças teve como pregador o Rev. José Henrique da Matta, bispo da Igreja Metodista Ortodoxa (do Rio de Janeiro).

A homenagem prestada ao formando Osmar Ribeiro não podia ser mais justa pois, além de ser notável exemplo de um estudante extremamente pobre que venceu na vida, foi ele quem liderou os outros poucos estudantes evangélicos na organização de uma congregação evangélica em Viçosa, em julho de 1957, dois anos e meio antes da minha chegada. As reuniões aconteciam numa casa de propriedade da família Fortes, na rua Benjamim Araújo. Nessa casa havia bancos, púlpito e até o velho harmônio, porque nela se reunia no passado uma pequena comunidade batista, mais tarde desativada. Ao chegar em Viçosa, Osmar encontrou apoio de algumas famílias não evangélicas, como a família do sr. Toninho e dona Ieda Mafia e de dona Aurora, proprietária de uma das primeiras repúblicas de estudantes da cidade.

Uma das coisas mais bonitas e edificantes que aconteceram em Viçosa em 1960 foi a decisão tomada pela Igreja Metodista Ortodoxa do Brasil no sentido de abrir mão de seu trabalho em Viçosa em favor da Igreja Presbiteriana do Brasil, já que o maior número de fiéis eram dessa última denominação. Por ser a única igreja evangélica na cidade durante alguns anos, acolhíamos metodistas, batistas, luteranos e assembleianos, que tinham os mesmos direitos dos presbiterianos. Na fachada do templo presbiteriano havia uma placa com o nome “Templo Evangélico”. Só começamos a chamar de “Templo Presbiteriano” quando outras denominações chegaram a Viçosa.

A minha vinda para Viçosa obviamente não tem nada a ver com a presença de não poucas famílias americanas na cidade, graças ao convênio entre a Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos, e a UREMG. Esse acordo durou 15 anos (de 1959 a 1973). No auge do intercâmbio chegaram a morar em Viçosa 16 famílias. Um bom número era formado de famílias protestantes, alguns nominais, outros bem comprometidos com o evangelho. Eles não contribuíam regularmente, mas eram simpáticos à obra social desenvolvida pela igreja e ajudavam na construção do primeiro templo, da casa pastoral e do segundo templo. Pouco menos de um quarto do que gastamos com o primeiro templo foi ofertado por eles (Cr$ 120.000,00). Duas ou três famílias americanas levavam, em seus famosos e cobiçados Opalas, estudantes para pregarem em Ubá, quando a estrada ainda era de terra. Trouxe a Viçosa alguns bons missionários de língua inglesa para pregar para eles em seu próprio idioma.

Depois do culto de vigília, na virada de 1960 para 1961, colocamos debaixo da porta de quase todas as casas de Viçosa o pequeno folheto: “Quatro sugestões no alvorecer de 1961” (põe-te em ordem perante Deus, procura falar com Deus pela oração, não desprezes a leitura da Bíblia e pensa mais em Jesus Cristo).

Os problemas com a formação tridentina do clero não acabaram em 1960. Tivemos outras sérias dificuldades aqui e nas cidades vizinhas por mais alguns anos. Mas o ano de 1960 foi mesmo um ano surpreendente!

  1. adorei os textos, parabéns pelas iniciativas e pela força de vontade que tornaram-se, para mim, exemplos de vida. pena nossa cidade ser ainda tão fechada para o novo!

  2. Pastor Elben, teus textos trazem me à memória todos esses tempos dos quais fui testemunha. Tu fostes pessoa importante na vida da familia Brune, apesar de na época termos sido apenas membros nominais, hoje sou comprometida, e muito, com o evangelho do meu querido Jesus Cristo.

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