O texto abaixo é fruto da mais profunda e dolorosa indignação e reflexão de “Prisca”, Eunice Priscila Burgos M. (aluna do CEM), sobre sua própria atitude e sobre a atitude da “igreja” em relação àqueles a quem chamamos de “excluídos”. A reflexão nos leva à refletir sobre nosso papel individual enquanto parte do corpo de Cristo, sobre nossas motivações ao fazermos “caridade” e, por fim, se somos realmente seguidores de Cristo, compartilhando da SUA cruz, levando ao mundo o SEU reino por meio do que somos e de como agimos ante a injustiça social. 

ESCURIDÃO QUE AFOGA
Um obscuro sentimento de medo, ansiedade e vazio…
A pobreza, a miséria, a injustiça, e a questão…
Onde você está?
Onde está você quando uns não têm nada…
E outros nadam na abundância de sua arrogância? Por que os corações foram transformados em pedra? 

Por que te recusamos, por que nos rebelamos?
Por que mentimos que não temos?
Por que temos medo que nos roubem?
Por que os vemos nos semáforos, sujos,
dormindo no chão frio que nos vê passar…
… e que tem as marcas das nossas solas falsas, por quê? Por que temos receio e medo do diferente?
Por quê? E onde você está quando eu olho para a miséria e ela sorri para mim, deixando-me ainda pior, e sem forças, e me diz com sarcasmo…
E você? O que você pode fazer? O que você pode dar?
… NADA!!! 

Mas é aí que a tua cruz reflete luz em meio a uma grande escuridão, tu Jesus , que deste uma coisa e é tudo…
… TUA VIDA!!!

Tu que morrestes por aquelas crianças que gritam injustiça, que mamam crueldade e que sonham pesadelos de violência.
Tu que morreste por pessoas marcadas pela desconfiança e medo, e os fizeste livres de morrer no pecado, para viverem na luz.
Onde estão os homens fiéis à esta fé nessa cruz?
E eu amo essa cruz, porque me deu o maior exemplo de amor, porque a partir desta verdade tenho certeza de que tenho algo para dar…
… MINHA VIDA!!! 

E a darei, não importa o quê, por amor a estes meus irmãos no mundo todo, irmãos de sangue inocente com os olhos fechados por falta de luz, com a mente em busca de algo para preencher as suas vidas, alguma coisa que lhes dê paz. 

E eu sempre amarei essa cruz, sempre, porque nela está a vitória, e nela a ressurreição e a promessa de algo ainda maior. 

Venha teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu, não de lábios, mas sim de coração, para lutar contra a injustiça e a indiferença, pois é para isso que existe o exemplo de JESUS, para ser seguido.

Para ver o vídeo-poema clique aqui.

  1. Uma canção recente do grupo Oficina G3 traz na letra a frase ‘todos conhecem a nossa retórica, ninguém nos vê colocá-la em prática’. Eu fico pasma com a insensibilidade moral do povo evangélico de modo geral (o que nas suas origens parece ter escandalizado inclusive quem aproximou a ética praticada pelos protestantes a um espírito totalmente distinto do Espírito de Deus) no sentido de reconhecer e entender a necessidade. Em certa ocasião, Jesus diz ‘os pobres, sempre os tereis convosco’. Mas assegura que levaria a sério a possibilidade de ser negligenciado estando presente ‘num dos seus menores irmãos’. A gente não vive em um mundo só de cama limpa, roupa quente e comida nem só de comida, diversão e arte. A vida se estrutura ou desestrutura sobre um senso moral inevitável. Esse é cerne, infelizmente. Uma pessoa que se sinta motivada interiormente, habitada, suporta quase tudo. Como em Romanos 8: os abismos, os religiosos, as alturas, outra criatura, morte, vida, etc. A necessidade física que degrada do ponto de vista da sobrevivencia e da sociabilidade é tão gritante e tão nitidamente consequência do dito ‘espírito do capitalismo’ (frequentemente ainda associado a essa ética individualista dos protestantes) eu acredito que é assunto comunitário geral, assunto de políticas públicas etc. Ainda que que a igreja de Cristo tenha o dever de se imiscuir nesses assuntos, me parece que a necessidade que demanda uma visão específica do mundo (ou a visão de um “convertido”) é mais difícil perceber; requer a sensibilidade de se suspender o julgamento e procurar nas pessoas realmente afligidas (as que a hipocrisia latente em cada cristão exemplar exclui com gosto ) sinais e vestígios de um Jesus marginalizado, odiado pelos caras do templo e frequentemente tratado de modo injurioso até ser estirado na cruz. Amar´a cruz é um dom peculiar, eu admiro. Mas amar a verdade e os estilhaços humanos que decorrem de relações humanas cheias (não diria de escuridão mas) de obscuridades é bem mais difícil. A perspectiva da ressurreição é mais exigente do que a perspectiva da cruz.

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