Com que armas irá o general atirar naquela consciência corruptível que mora dentro de seus soldados? Ou supõe-se que esse soldado, cabo, sargento ou mesmo oficial seja feito de material diferente dos policiais que se deixaram amolecer pelos milhares de reais a eles oferecidos, no trato com os traficantes?

Que armas utilizará para estancar o consumo de drogas que rola nos bairros de classe alta? Ou não é sabido que as armas que circulam nos morros são compradas com o dinheiro que vem do consumo das classe média e alta da sociedade?

Que estratégias de guerra usará o general para desarmar o servidor público que cria dificuldades para vender facilidades? Ou não é sabido que, do “operador de xerox” aos mais altos cargos do governo, muitos já embarcaram na correria do navio que afunda, dizendo, em tom de chacota, que “se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”?

Com que armas o general vai atirar naquela conversa a meia-boca do motorista com o guarda de trânsito: “bom dia, seu guarda; como é que podemos nos ajudar mutuamente?” Ou não é sabido que não se trata mais de uma pequena parcela das corporações (e da população) que se deixou corromper, mas sim que apenas uma pequena parte se mantém firme, e que esse tipo de conversa já é vista como folclore?

Como o general evitará que os empresários combinem preços para vencer, com organizados e proveitosos conchavos, as licitações do Estado? Ou não é sabido que as tabelas superfaturadas existem desde os tempos da corte de D. João VI?

Sim, o general pode conseguir coibir o porte ostensivo de armas de fogo, por meio de uma legislação tocada às pressas no Congresso, que permita aos seus soldados presumir a agressão e “usar de força letal” em relação ao cidadão que se mostre no espaço público com uma escopeta ou um fuzil. Até aqui, o soldado tem ordens de abordar o cidadão armado de metralhadora importada sem a permissão de atirar primeiro.

Sim, o general pode remanejar suas tropas de modo a evitar que seus soldados sejam “expostos à contaminação” por tempo excessivo. Para isso, precisará contar com muito mais que uma tropa “limpa”; precisará mantê-la limpa, para que ela não ceda às mesmas influências que abateram o contingente policial alocado nas Unidades de Polícia Pacificadora – UPP, moralmente dizimadas pelo poder econômico do tráfico, em face da penúria do Estado — que decretou “calamidade financeira” — atrasando soldos e salários, até colocar soldados e suas famílias de joelhos.

O general não tem os projéteis que atinjam os alvos desejados. Esses alvos são os corações das pessoas, de qualquer classe, posição ou função social. Ele precisaria atirar com uma palavra, com um Verbo, porque nele está a verdadeira vida.

O Rio de Janeiro (bem como as demais cidades brasileiras) precisa declarar “falência moral”; morto para essa vida de trevas para, depois, experimentar a nova vida que advém da ressurreição, esse fenômeno que inaugura um novo céu e uma nova terra; a restauração de todas as coisas.

Sim, é possível uma nova Cidade Maravilhosa, como aconteceu com Nínive, como aconteceu comigo. Mas saberá o general levá-la a vivenciar o profundo drama do arrependimento, da morte e da ressurreição, experimentado e celebrado na Páscoa? (Jo 1:4,5)

Ponto Final da edição 371

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