Captura de Tela 2011-12-17 às 13.19.15m 7 de março de 2013, o “blog da Conceição”, no “Correio Braziliense”, inicia com o título acima e as seguintes palavras:

“‘É bom olhar pro lado e ver que não estou sozinho, que não estou sozinho, que não estou sozinho’ – repetia Chorão em ‘Cedo ou tarde’ (letra de Di Ferrero e Gee Rocha). Prima do cantor, Sônia Abrão disse ontem, sob lágrimas, que o Charlie Brown Jr. reclamava de solidão. Dizia que não adianta estar acompanhado da multidão, durante os shows, porque depois ia pra casa sem ninguém, pegava o avião sem companhia. Voltava a ser tão-somente o filho de dona Nilda, o menino que vivia nas ruas.

Uma vizinha contou ter ouvido gritos desesperados de um homem no dia anterior à morte de Chorão. O sangue perto do interruptor e do ar-condicionado avariado dizia que aquele ilhado esmurrava e sangrava ou sangrava e esmurrava, só ele poderia esclarecer a ordem dos últimos acontecimentos de sua vida.”

Esse triste comentário nos leva imediatamente a pensar na Igreja como resposta: “mas no corpo de Cristo essa solidão implacável foi vencida; não a servimos mais, como escravos, porque fomos chamados para a comunhão”.

Entretanto, nos dias de hoje a palavra “igreja” lembra a renúncia do papa, com todas as especulações sobre seus reais motivos. Leonardo Boff sugere que Ratzinger se desencantou com a “sua igreja”; que teria sido abatido pelos escândalos sexuais, pelas divisões internas e pelas vaidades. Percebeu a ineficácia de sua teologia agostiniana, ao tentar estabelecer a sua “cidade de Deus”.

“Ao fim e ao cabo, o insulamento de Chorão é o de todos nós. Por suas circunstâncias, ele cristalizava o desespero: cerveja, vinho, energético, pó branco, abandono, isolamento” – diz a blogueira. Mas, em meu íntimo, recuso-me a aceitar isso. Antes é preciso se perguntar por que muitos chegaram a esse ponto; em seguida, devocionalmente, dizer: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”; e partir para a ação, na expectativa das transformações que Deus sempre opera.

No caso em particular, penso que esse momento devocional nos levaria a constatar que estamos sós porque temos evitado (ou afastado) os outros e fugido das dores da comunhão, acomodados em nossa privacidade pós-moderna. Porém também nos levaria a lembrar que “na casa de meu pai” se vive em comunidade. E que transformações positivas adviriam de um “levantar-me-ei e irei ter com meu pai”.

A Igreja de Jesus tem sido provada em sua capacidade de permanecer sendo corpo. E seus membros, de permanecer crendo nela e usufruindo dela. Do papa que se retira aos milhares de “sem-igreja” de hoje, muitos são “gatos escaldados”. Não julgo seus motivos (nem mesmo os do severo Ratzinger); não sei o que passaram. Nem digo que “desta água não beberei”. Longe de mim.

Apenas ouço o choro de Chorão e o levo para meus momentos de oração, como gritos proféticos; como palavra de Deus para mim, a dizer: “A solidão existe; ela é real, é mortal e está perto. Não deixe o convívio dos amigos, não abandone a família, não se afaste da igreja”. E diz a todos nós: “Construam algo juntos, lutem juntos, sofram juntos, chorem juntos, orem juntos. E a solidão não terá poder sobre vocês”.

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