Captura de tela 2011-10-03 às 12.20.28unca me lavarás os pés!” – diz Pedro, no Cenáculo (Jo 13.8a).

“Se eu não te lavar, não tens parte comigo” – responde-lhe Jesus.

Vivemos tempos de Páscoa. Tempos de paixão e de morte. Tempos de ressurreição, também. Tempos que requerem discernimento.

Sim, era preciso discernir o que realmente estava acontecendo. Aquele que se cingia com a toalha era o Senhor. Mas servia a todos. Parecia mais servo que senhor.

Aliás, tão menos senhor quanto mais servo se mostrava.

“Compreendeis o que vos fiz?” – indaga ele. “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).

lava-pes

Ainda hoje, em tempos de Páscoa ou não, importa discernir estas coisas, para não incorrer no erro de “levantar o calcanhar” contra ele (v. 18b).

Pedro resiste à água, porque ela implica aceitar a condição daquele que lhe lava os pés – a de servo. A princípio, essa inversão de ordem lhe é incompreensível. Apesar de três anos de convívio, há coisas que ainda estão fora do alcance de sua mente.

“Compreendê-lo-ás depois” – diz-lhe Jesus.

Muito do que os apóstolos sabiam da vida ainda girava em torno de definições seculares de poder, força, autoridade e submissão. Já haviam discutido muito sobre o ser maior ou menor no reino de Deus. Já haviam até sido repreendidos. E agora seu mestre se faz menor, beirando a indignidade!

Às vezes tenho o sentimento de que Jesus se dirigia à igreja do século 21 ao encerrar sua lição: “[…] quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe” (Jo 13.20). Mais do que imitá-lo, somos exortados a reconhecer e receber seus enviados; gente parecida com ele, que se comporta como ele; gente que, em tantos sentidos, se cinge de toalhas para lavar pés.

Ainda hoje preciso “compreender o que ele me fez”. Preciso aprender a reconhecê-lo naqueles que genuinamente me servem, porque tendo a desprezá-los. Ou, se me são próximos, recuso sua doação amorosa e digo, educadamente: “Nunca me lavarás o pés!”.

Sem esse discernimento, ao recusar o serviço, recuso junto com ele a proximidade, a intimidade fraterna e a comunhão. Recuso a igreja, enfim. Mais grave ainda, de um modo que não compreendo bem, recuso o Senhor. É só ouvir suas palavras pelo lado negativo: “Quem não recebe aquele que eu enviar, a mim não recebe”.

Não nos basta aprender a lição de humildade do Cenáculo. Precisamos também aprender a distinguir e receber, sem equívocos, aqueles que nos são enviados por Jesus. Precisamos aprender a discernir, em especial entre aqueles que ocupam os púlpitos, os] elementos verdadeiros e distintivos da identidade dos seus enviados, a partir dos sinais e exemplos que o Mestre deixou.

Equivocar-se nesta matéria pode ser grave. Equivaleria a temer a pulseira de ouro e menosprezar o sorriso da boca banguela. Um equívoco como este não é incomum nestes tempos de maquiagens, câmeras e microfones. Tempos de impérios “midiáticos”. E pensar que nem os magos do Oriente cometeram tal engano. Não se deixaram confundir pelas humildes condições em que encontraram seu Senhor.

Páscoa é tempo de regular o nosso aferidor. Tempo de desprezar a raposa e concentrar-se na ovelha. É desta que provém a vida.

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Publicado na Ultimato 341. Clique aqui, para ir ao texto original.

 

  1. Era quarta-feira à noite, culto de oração. Quem iria falar? O Seu Genésio, senhor de cor, mãos calejadas, fala de difícil compreensão. Muitos não iam no culto, afinal o que ele poderia nos oferecer?
    Eu tinha uns 15 anos talvez, mas, bebia suas palavras, pois elas vinham do coração, da sua admiração pelo Senhor, embora a embalagem fosse tão rude!
    É fato, Rubem, muitos hoje somente correm atrás dos “cultos show” e esquecem de receber os enviados do Senhor porque somente olham para o exterior e fazem julgamentos antecipados.

  2. Sim, amigo Rubem! Precisamos, contemplar e praticar,todos os dias, a lição do lava-pés. Como liderados, para aprender a nos deixar servir pelo Senhor por intermédio daqueles que Ele nos envia. Como líderes, para imitar o Mestre no servir àqueles sob nossa liderança, a começar pela nossa casa, nossa família.
    Está aí a essência relacional do Cristianismo autêntico!
    Estou enviando seu texto para amigos.
    Abração!

  3. Daniel, que coisa linda!Você com 15 anos ter este discernimento,este respeito,esta sede da verdade,reconhecendo o valor do grande Servo de Deus,como você mesmo disse – embora a embalagem fosse tão rude.
    Achei lindo demais este testemunho.

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