CELEBRAMOS ontem, neste primeiro domingo do Advento, a esperança. O nascimento de Jesus concretizou, realizou, a antiga esperança de Israel; de que Deus visitaria seu povo, que se manifestaria como Emanuel. E que, por essa causa, novamente se afirmaria entre eles: “o teu Deus reina”.

O Natal realizou antiga esperança. E a realização quer dizer que já não se espera mais; a promessa foi, finalmente, cumprida.

Proponho uma imagem para a esperança. A imagem de uma pérola aninhada em  uma ostra. Ela foi, inicialmente, um doloroso cisco, a machucar, interiormente, a ostra. Com o tempo, entretanto, o molusco envolveu o corpo estranho e o transformou nesse objeto precioso. Transformou-o em algo tão íntimo que, de corpo estranho, agora, é parte sua; é adotado pela ostra.

O apóstolo Paulo nos diz, em 1Co 13, que quando todas as virtudes passarem, apenas três sobreviverão: a fé, a esperança e o amor. Pensemos na fé e no amor como as cascas duras da concha, que proporciona o ambiente em que a pérola vai crescer. Esta, frágil e vulnerável, precisa de toda a proteção.

A carapaça da fé é essencial para o desenvolvimento da pérola da esperança. Sem fé teríamos, na melhor das hipóteses, um crédulo otimismo; pensamentos positivos, sem âncora em qualquer realidade. Mas a fé é fundamento para a esperança porque vê além do alcance e tem convicção de coisas que ainda se esperam. A fé permite que a esperança penetre em regiões celestiais, que invada dimensões do impossível, do jamais realizado, do impensável. A fé na Palavra de Deus se apropria de promessas; confia em exemplos antigos; orienta-se por sabedoria aprovada. A fé dá passos no escuro e realiza no coração o que ainda não é. E assim, com tais mecanismos de certeza, transforma-se em nutriente e proteção para a esperança.

A carapaça do amor, juntamente com a da fé, forma o ambiente de crescimento da pérola. Nada mais seguro e aconchegante que o amor incondicional do Pai, revelado no advento. Nada mais significante que a declaração de que somos seus filhos amados; de que ele está disposto a mover céu e terra por nós. É por isso que Paulo nos ensina que podemos nos alegrar nas próprias tribulações, porque elas terminam por nos infundir uma esperança que não nos decepcionará, uma vez que o amor de Deus é derramado em nossos corações (Rm 5:5). É como se o Apostolo dissesse, em harmonia com outros autores sagrados que, seguros nos braços de Deus, enfrentaremos as provações com esperança. Porque o segredo da pérola não está no livramento, que a enfraqueceria, mas na certeza da Presença, que a fortalece.

E o que antes fora dor de crescimento, agora, em ambiente apropriado, manifesta-se como bem precioso. O que fora cisco incômodo e incompreensível, agora é orgulhosa realização; o que nasceu como corpo estranho, agora integra uma trindade de virtudes teologais.

E por que a pérola acabou por tornar-se algo tão precioso? Porque, por força das dores envolvidas em sua formação; e por causa da incorporação em sua própria identidade dos elementos de seu casulo (fé e amor), que agora fazem parte de sua natureza, ela se transformou em algo quase indestrutível. Ela agora é capaz de transcender as mais tristes realidades; ela agora é capaz de enfrentar presságios; ela é capaz de ver vida na morte; de superar derrotas, vencer gigantes, conquistar reinos e lançar mão, ainda hoje, da vida eterna.

O Natal de Jesus certamente nos infundirá a esperança do advento. É necessário, entretanto, que essa boa-nova seja recebida em nossos corações com e celebrada em nossas vidas com amor. Nesses termos, “a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”.

  1. Mais uma vez abençoada! ler sobre Esperança de pois de dias tão surreais nesta cidade, é um presente de Deus!
    “Quero trazer à memória o pode me pode dar esperança.” Lam. 3:21
    Aí está uma oração que tem feito parte dos meus dias há alguns anos. Exercício abençoador e que me faz acordar renovada todos os dias.

  2. “Sem fé teríamos, na melhor das hipóteses, um crédulo otimismo; pensamentos positivos, sem âncora em qualquer realidade. Mas a fé é fundamento para a esperança porque vê além do alcance e tem convicção de coisas que ainda se esperam.” (Amorese).

    Há um eco aqui de Hebreus 11:1 (salvo melhor juízo): a fé como fundamento para a esperança. Entendo que o autor de Hebreus está, como que dizendo: “olha, pessoal, vocês não estão entendendo nada! Não adianta tentar regurgitar a Lei!” E a epístola toda segue firme mostrando que até os heróis da fé estavam olhando para a herança (da Lei) que vai se realizar no futuro (que Amorese disse e concordo, “…a promessa foi, finalmente, cumprida. “) . Caso contrário não daria para ser cristão.

    Mas o pequeno parágrafo que pincei acima e colei, eu quero discordar do articulista. Não é a FÉ na esperança (…dos Hebreus aqui no texto do livro.) que me faz agir, é a vontade de dar um basta naquela Lei. O convite de 11:1, a meu ver, é na VONTADE. Não é nem a esperança que liberta, mas a verdade que já estava embutida até naqueles dias antigos (heróis da fé) na Lei. Mas não é nem a esperança na Lei (como queriam os Hebreus no texto, contrária aos heróis) que, regurgitada, dariam a esperança a ele e me fariam viver, mas o Cristo (do Natal). O AMOR. Eis a âncora. Bem entendido, (amor) em Cristo Jesus (e este descrito em Efésios 1). Experimente casar I Cor. 13 com Hebreus.

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