O mercado vale-se do belo para vender. Honesta ou ardilosamente, ressalta o aspecto estético de um produto, sabendo que a natureza humana, inconscientemente, o associará a qualidade. Isso serve para a aparência limpa e bem refrigerada de uma lanchonete, para o design sofisticado de uma loja de marca mundial ou mesmo para o terno azul-marinho, de corte impecável, de um executivo que deseja “vender” a imagem de competência. Marketing (espero que o uso do termo em inglês cause esse efeito abonador sobre meus leitores).

De fato, a beleza sempre remete para o bem, para a pureza, para a perfeição. O fenômeno é universal. E também de difícil explicação.

Curiosamente, o dicionário (Houaiss) define o belo como sendo tudo que leva ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano; o próprio Deus, enquanto manancial eterno e perfeito de tudo o que é propício ao progresso das criaturas e finalidade desse progresso; sublime. Sublime? Sim, a extrema beleza. Fecha-se o círculo entre o belo e o bem: aquilo que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual.

Veja que “sublime”, nas Escrituras, é um título de Deus (Is 57,15) e uma descrição de seu Servo (v.13), e que, nesses versos, a sublimidade se associa à santidade de Deus. Aquele que vivifica o “contrito e abatido de espírito”.

É interessante notar que, para fazer marketing de si mesmo, Satanás se apresenta belo como um anjo de luz, e seus profetas bons como ministros da justiça (2Co 11,14,15). Sim, o uso ardiloso desse conhecimento da psiquê humana vem de muito longe. Não tendo a beleza própria do bem, imita o sublime para enganar os incautos. Refiro-me aqui, ambiguamente, tanto a Satanás quanto a produtos e serviços de má qualidade “maquiados”.

No entanto, o verdadeiro não precisa de maquiagem. Nem o santo. Nem o justo. Nem o contrito e abatido de espírito. Porque essas formas de beleza provêm de uma fonte legítima, primária e inesgotável: o Sublime.

Uma palavra que unificaria essas belezas morais é salvação. É assim que compreendo a afirmação do Salmo 149,4b: …e de salvação adorna os humildes. Uma salvação progressiva, no sentido da santificação (Fp 2,12), qualidades e características que Deus infunde e molda naqueles que se fazem maleáveis às suas mãos de oleiro.

A beleza proveniente dessa ação salvífica de Deus dispensa maquiagem. Nem tem o objetivo de vender. É apenas glória. A glória de Deus em nós. Não fenece com a idade, não perde o brilho nem o viço. Não precisa de plásticas nem de liftings. Uma beleza serena e alegre, que vai dormir com um cântico no coração; o cântico da consciência lavada. Esse não é um pensamento meu, mas do verso seguinte: Exultem de glória os santos, no seu leito cantem de júbilo (Sl 149,5).

Se é verdade que o coração humano decodifica a beleza como perfeição, e vice-versa, também o será que todos serão capazes de perceber a beleza da salvação; essa beleza com a qual Deus adorna o humilde. E que aponta de volta para sua glória.

Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor (Sl 92,14). Belos velhinhos.

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