Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água, a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo (1Pe 3:18-21).

O simbolismo de Pedro sobre o dilúvio convida-nos a meditar sobre o poder da ressurreição, que atua, não somente sobre os que já morreram, mas também sobre nós, que ainda estamos vivos. Daí o título que escolhi.

Para além de um fato histórico, ressurreição de Cristo é o cerne da esperança do crente. Ela nos infunde ânimo, ao demonstrar que a morte foi vencida; foi tragada pela vida, “pela vitória”. Na sua morte, Jesus estava vencendo o mundo e todos os instrumentos que, pelo medo da morte, o inimigo pode usar para nos destruir. Na ressurreição de Jesus, um de nós estava provando, pela primeira vez, o poder da ressurreição, exercido por Deus.

Imagino o Pai, naquela manhã de domingo, dizendo: “meu filho, venha”. E o espírito vivificado glorifica seu corpo e o traz para fora da tumba.

Paulo nos diz que se Cristo não tivesse ressuscitado seria vã a sua pregação e vã a nossa fé; e ainda permaneceríamos em nossos pecados. Continuaríamos sem condições de desenvolver consciências agradáveis a Deus; consciências do que ele é; do que nós somos e das realidades que ele mesmo tem para nós, realidades essas que nem olhos viram nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou no coração humano. Sim, essas realidades não provêm de nós, mas do próprio Deus. E a percepção delas também nos é concedida por um “espírito de sabedoria e revelação” que abre os olhos do coração (Ef. 1:17-21).

Se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa condição seria a de Maria Madalena à porta do túmulo; chorando inconsolavelmente. Sem esperança. Sem nem mesmo um corpo para embalsamar.

É por isso que entendemos que a esperança do crente nasce com a ressurreição de Cristo. Depois, ela é fortalecida e concretizada por nossa união na sua morte; e finalmente é alcançada quando o mesmo poder que ressuscitou Jesus vivifica também nossas almas e nos faz nascer de uma semente nova, espiritual.

O princípio da criação está presente nesses pensamentos: primeiro é o natural, depois o espiritual. “Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial” (1Co 15:48).

Se nossa esperança advém da consciência de que Cristo ressuscitou, ela só adquire concretude quando também experimentamos essa morte de Cristo. É por isso que Paulo nos ensina que morremos com ele; que “se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição”. (Rm 6:5). Essa morte é aquela pela qual consideramos o mundo e sua glória como secundária, se comparada com nosso amor a Cristo.

Nossa esperança, então, é alcançada pela ação do Espírito Santo em nossa vida. É o poder que opera em nós a vitória sobre o pecado, a carne, o mundo e o diabo. Já não são senhores de nossas vidas. Já não os servimos como escravos. Agora rege nossas vidas novo Senhor, que coloca à nossa disposição o poder da ressurreição para a limpeza da consciência; tornando possível o arrependimento genuíno, o perdão completo, a contrição, os votos eficazes e a santidade nas relações. Sem esse poder, restam em nós tristes disciplinas e deprimentes rigores ascéticos, que não têm poder algum de nos fazer melhores. Pelo menos, não por muito tempo. E as recaídas são progressivamente mais dolorosas.

Haverá alguma coisa que possamos fazer para alcançar essa esperança de ressurreição? Alguma forma de colaborar com Deus em nossa própria redenção? Sim, podemos passar a viver como ressurretos, considerando-nos mortos para o pecado. Na palavra de Paulo, finalmente: “oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça” (Rm 6:13). Vivamos como quem já morreu e nasceu de novo.

Concluo com um texto tão impressionante quanto inspirador. É Paulo falando dessas coisas. Preste atenção nas palavras que grifei.

Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos (Fp 3:7-11).

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