Em sua edição de julho de 2006, a revista Valor Econômico Online publicou o artigo “Vida afetiva versus profissional: é diferente para a mulher?”, assinado por Betânia Tanure, da Fundação Dom Cabral. Nesse artigo, a professora comenta sua pesquisa sobre “as felicidades e infelicidades dos executivos”, detendo-se sobre o universo das relações afetivas das mulheres executivas.

Uma das revelações dessa pesquisa “é que os homens encontram dificuldades em aceitar mulheres ‘poderosas’, que não dependam deles”. Outra é que “a executiva tem de enfrentar mais barreiras do que seu colega para encetar uma parceria amorosa estável ou manter um relacionamento”. Os dados mostram que “há quase três vezes mais mulheres solitárias do que homens na mesma situação. Entre as pesquisadas, 36% estavam separadas, solteiras ou viúvas, enquanto a proporção de homens sozinhos era de apenas 13%. Muitas dessas executivas confessaram-se insatisfeitas por não encontrar parceiros estáveis, especialmente aquelas que sentem a pressão do relógio biológico. Algumas mulheres que já passaram da fase convencionalmente reservada à maternidade hoje lamentam a opção feita. Essa cruel escolha não tem o mesmo efeito nos homens. Entre eles o peso da idade é menor no que diz respeito à paternidade”.

As executivas casadas são quase unânimes em dizer que a necessidade de dar atenção aos filhos acaba por prejudicar suas relações com os maridos, que se sentem preteridos. Mais que isso, elas dizem que os homens não gostam de dividir igualitariamente as responsabilidades domésticas, mesmo quando a maior fatia da renda familiar venha delas. Ao mesmo tempo, um número expressivo dessas executivas provedoras submete-se totalmente às decisões dos maridos na elaboração do orçamento doméstico. Tanure comenta que os depoimentos dessas “amélias modernas” revelam que o preconceito está muito arraigado nas próprias mulheres.

O paradoxo revelado pela pesquisa é que “apesar da solidão e dos tormentos, a grande maioria das executivas continua apostando na carreira. Elas sentem prazer no que fazem e obtêm sucesso ao encarar os desafios empresariais”.

O comentário final da articulista, diante do paradoxo, é triste: “Essas mulheres atingiram a felicidade de ser mais livres, mais capazes de escrever seus próprios destinos, mais donas das suas decisões. Ao mesmo tempo, entretanto, encontram sérias dificuldades quando tentam exercer essa liberdade nas relações afetivas”.

Confesso que, ao deparar com essa difícil realidade vivida pelas mulheres executivas, tenho a tendência de disfarçar meu preconceito em misericórdia e sugerir a elas que voltem para casa — e sejam felizes. Mas sei que essa “nova mulher” veio para ficar. Então, que fazer?

A resposta que encontro é o resgate do ensino de Ef 5, 21-32, trazendo-o para este cenário moderno. Sim, como seria a vida dessas executivas solitárias se, ao voltar do trabalho, encontrassem em casa maridos empenhados em amar suas mulheres “como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5, 25)? Só saberemos se tentarmos — em oração.

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