Procurou-me, recentemente, um jovem irmão, inconformado com sua sorte. Crente novo, esforçado e ávido por crescimento espiritual, não conseguia entender a razão por que Deus não o abençoava muito com bens materiais.

Servidor público, esposa por conta dos filhos pequenos, trabalhando de dia e estudando de noite, ele levava uma vida dura, mas não era exatamente um necessitado. Achava, no entanto, que, comparativamente a outros irmãos “na mesma faixa”, estava sendo deixado para trás por Deus.

Perguntei-lhe por que pensava assim. E ele apontou alguns amigos comuns. Um lhe dissera que estava comprando um carro novo, enquanto o seu já estava bem batido; outro dera entrada no apartamento da família, e ele ainda morava de aluguel; outro ainda, estava chegando de viagem ao exterior, com toda a família, para aproveitar o dólar barato, coisa que ele nem podia considerar, por enquanto. Disse que podia citar muitos outros exemplos.

Fiquei pensando na frustração do irmão. No momento, disse-lhe que não devia se comparar com seus irmãos, pois as circunstâncias de vida eram diferentes. Que confiasse na justiça e no amor do Pai. Mas ele me respondeu: “o que custa a Deus me dar também um pouquinho de seu ouro e de sua prata?” Não pude deixar de notar uma pontinha de inveja e inconformismo.

Fiquei com a perplexidade do irmão no coração. Passei, então, a observar mais de perto os exemplos que ele apresentara, pedindo a Deus que me ajudasse a discernir esse cenário.

Tenho aprendido, desde então, que é tarefa elevada demais, tanto para o irmão quanto para mim, buscar uma resposta para essas diferenças. Se Deus dá cinco talentos a um, dois a outro, e ao terceiro um, “segundo a sua própria capacidade” (Mt 25,15), que posso dizer? E isso apaziguou meu coração. Deus sabe!

No entanto, não foi de todo infrutífera a observação sistemática dos “exemplos de sucesso”. Descobri que o que comprara o carro luxuoso tivera ajuda do sogro, que desejava ajudar à filha e não a ele. O que financiara um apartamento contraíra uma dívida de 25 anos, no limite de sua capacidade máxima de endividamento, e dera de entrada o carro que a esposa trouxera para o casamento, passando a família a andar de ônibus e metrô. O que viajara a Disney, levara crianças pequenas demais para apreciar a viagem e ainda se endividara por 12 meses, período este em que “não poderia nem pensar em ofertas à igreja”.

Essa última observação me pareceu gratuita, a princípio, mas levou-me de volta ao irmão frustrado para perguntar-lhe como entendia a questão de dízimos e ofertas. E ele me disse que isso era “acordo fechado” na vida do casal: “primeiro o Senhor; depois as despesas”. Surpreso e curioso, voltei aos nossos “abençoados”, e descobri que só ofertavam “quando a situação permitia”. Ou seja, raramente. Que contraste!

Conclusão, mesmo sem respostas finais, já tenho uma pergunta a fazer ao irmãozinho: será realmente abençoada uma alma incapaz de dar? Será bênção um presente ao qual me apegarei de tal modo que se tornará meu algoz? Será bênção um bem capaz de me afastar de meus ideais, da minha fé? Será bênção algo que digo vir do Senhor, mas que, imediatamente me faz proprietário dele? Incapaz de olhar para os lados, de compartilhar com o necessitado porque nunca há o suficiente? Será abençoado o rico incapaz de ofertar ao Senhor? Será que esses bens são, realmente, bênçãos? “Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação” (Pv 15,16).

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